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Palestra de Mary Allegretti faz retrospecto das reservas extrativistas

por Ascom02 publicado 23/07/2014 13h50, última modificação 23/07/2014 13h50

Professora visitante em universidades norte-americanas, com doutorado em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB), a cientista social Mary Allegretti dedica-se à pesquisa das comunidades tradicionais da Amazônia há mais de 25 anos, tendo participado diretamente do movimento dos povos da floresta que desencadeou a criação das reservas extrativistas em 1990.

Por conta de todo esse conhecimento e experiência, Mary Allegretti foi convidada pela organização da 66ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que acontece no campus da Universidade Federal do Acre (Ufac) até o dia 27, para proferir a palestra “Reservas extrativistas: 25 anos depois”. Personagem da história, Allegretti falou durante horas para uma plateia atenta e compenetrada.

A palestrante começou o seu discurso fazendo um retrospecto da ocupação e do desenvolvimento do Acre a partir da economia extrativista da borracha, tendo em vista o processo de expansão capitalista no período do governo militar brasileiro, que culminou com a implantação de fazendas de gado na região, causando a expulsão dos seringueiros do seu habitat.

Foi nesse momento da história que entraram em cena os líderes rurais Wilson Pinheiro e Chico Mendes, o primeiro em Brasiléia, em meados da década de 1970, e o segundo em Xapuri, nos anos de 1980, encabeçando o movimento de resistência contra a invasão dos fazendeiros. De acordo com Allegretti é, principalmente, a partir da luta desses dois personagens que foram criadas as reservas extrativistas, que hoje não mais se restringem ao território acreano, espalhando-se por todo o país.

As reservas extrativistas 25 anos depois

Criado em 1990, nos últimos dias do governo Sarney, o instituto das reservas extrativistas, no dizer da Mary Allegretti, proporcionou aos povos da floresta significativos avanços. Casos, por exemplo, da diminuição da especulação fundiária, diminuição da migração floresta/cidade, valorização dos produtos extrativistas e o controle da expansão dos desmatamentos.

Mas apesar desses avanços, lembrou a palestrante, é preciso criar uma agenda para o futuro, principalmente dos pontos de vista social e econômico.

Do ponto de vista social, quatro pontos se configuram como essenciais para o futuro das reservas extrativistas, de acordo com a palestra de Mary Allegretti: coordenação das políticas sociais para melhorar a qualidade de vida dos povos da floresta; protagonismo dos moradores na gestão; apoio institucional às associações e às comunidades pelos serviços ambientais prestados ao país e ao planeta; e preparação das gerações atuais para serem os gestores das Resex.

Do ponto de vista econômico, outros quatro pontos foram elencados pela palestrante: política econômica e tecnológica de valorização da biodiversidade; definição das responsabilidades comunicacionais do desenvolvimento sustentável das reservas extrativistas; compreensão da diferença entre ter valor e dar lucro; e a compreensão de que a economia da floresta depende do pagamento pelos serviços ambientais providos pelos povos da floresta.

A palestra “Reservas Extrativistas: 25 anos depois” contou com a participação do físico e presidente de honra da SBPC, Ennio Candotti, do senador Jorge Viana (PT-AC), do ex-governador Binho Marques, e dos líderes seringueiros Raimundão (primo de Chico Mendes) e Antônio de Paula.

Postado em: 23/7/2014