Professor da Ufac aponta os benefícios da atividade física para o sistema imunológico
É cada vez maior o número de pesquisas científicas que comprovam a associação direta entre saúde e prática regular de exercícios físicos. Devagar, o bombardeio de informações tem provocado uma mudança de consciência que inclui maior preocupação com a movimentação corporal. A caminhada, entretanto, ainda é longa.
Dados recentes mostram que a população de hoje gasta bem menos calorias por dia, do que gastava há 30 anos e o resultado surge em forma de números, diz o professor do Centro de Ciências da Saúde e do Desporto da Universidade Federal do Acre (Ufac), Miguel Bortolini. No Brasil, 85% das pessoas são sedentárias, outros 52% dos brasileiros estão acima do peso. A questão pode ser encarada como de saúde pública.
“O que as pessoas não sabem é que sem atividade física nenhuma, o sistema imunológico fica desregulado, as células tendem a envelhecer mais rápido, e o indivíduo fica mais vulnerável a doenças graves como o câncer, por exemplo”, explica o professor que é doutor em imunologia do exercício e atualmente ministra a disciplina “Atividade física e promoção à saúde” também para estudantes do curso de Medicina da instituição. “Há uma tendência em se considerar a atividade física apenas como atenção primária à saúde, na prevenção de doenças, quando, na verdade, o exercício pode ser fundamental também na atenção secundária e terciária, no processo de tratamento e cura de um mal”, avalia.
O discurso de Bortolini tem fundamentação científica. Aos alunos, em sala de aula e palestras, o pesquisador faz questão de apresentar uma série de artigos de diferentes partes do mundo que ratificam sua fala. Um deles, realizado com camundongos submetidos a ciclosporina [ droga utilizada no processo de pós transplante para impedir a rejeição do novo órgão] apontou melhor adaptação ao medicamento entre o grupo submetido também a atividade física.
“A ciclosporina é uma substância importante no processo contra rejeição, mas ao mesmo tempo muito debilitante a outros órgãos do paciente. O estudo avaliou basicamente o contato com a droga e a prática de atividade física. Entre os 12 camundongos sedentários, apenas dois sobreviveram. No grupo formado por 11 camundongos submetidos a exercícios, a sobrevivência foi elevada para seis”, descreveu o professor. “Isso demonstra, por exemplo, que o exercício não deve ser encarado apenas como atenção primária, mas como terapia coadjuvante, complementar, no tratamento de outros pacientes, como por exemplo, os que se submetem a quimioterapia e radioterapia”, compara.
Para o professor, o desafio atualmente é disseminar a cultura da prática regular da atividade física. “A qualidade e a quantidade do exercício é primordial. A prática da atividade física tem ligação, por exemplo, com a liberação do hormônio cortisol que em altas concentrações deprime o sistema imunológico. Por isso você pode começar a malhar hoje, e amanhã amanhecer resfriado. O acompanhamento de um profissional de educação física é fundamental para uma avaliação, afinal o que se busca são benefícios e não malefícios”, alerta Miguel.
Postado em: 16/10/2014