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Professores da Ufac participam de artigo científico da revista ‘Nature’

por Ascom02 publicado 24/03/2015 07h05, última modificação 24/03/2015 08h38

A floresta Amazônica está perdendo sua capacidade de armazenar carbono da atmosfera, segundo o maior estudo realizado até agora para o bioma, cujos resultados foram publicados em artigo acadêmico na revista “Nature”, no dia 19 de março deste ano. O estudo é liderado pela Universidade de Leeds (Inglaterra) e conta com a participação de quase cem pesquisadores.

O principal autor do estudo, Roel Brienen, do departamento de Geografia da universidade britânica, relata que “as taxas de mortalidade de árvores aumentaram mais que um terço desde os anos 80 e isso está afetando a capacidade da floresta Amazônica de armazenar carbono”.

Nas últimas décadas, a floresta Amazônica tem funcionado como um enorme sumidouro de carbono, ajudando a combater o acúmulo de gás carbônico (CO2) na atmosfera e as mudanças climáticas a ele associadas.  No entanto, esta nova análise dos padrões da dinâmica florestal, através das parcelas permanentes, demonstra um aumento acelerado nas taxas de mortalidade de árvores na Amazônia.

Entre os autores do artigo estão dois docentes da Universidade Federal do Acre (Ufac): Marcos Silveira, do Centro de Ciências Biológicas e da Natureza (CCBN), do campus sede, e Jorcely Barroso, do Centro Multidisciplinar (CMult), do campus Floresta, em Cruzeiro do Sul.

Segundo Silveira e Jorcely, sua ex-orientanda no mestrado em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais, o aumento de CO2 na atmosfera, um ingrediente chave para a fotossíntese,  inicialmente impulsionou um surto no crescimento de árvores na Amazônia.  Este carbono adicional, no entanto, parece ter tido consequências inesperadas.

Crescimento acelerado e morte precoce

O professor Oliver Phillips, coautor do estudo e também do departamento de Geografia da Universidade de Leeds, explica:  “Com o passar do tempo, o estímulo às taxas de crescimento das árvores faz com que elas vivam mais rapidamente e morram mais cedo.”

As secas e as elevadas temperaturas recentes na Amazônia também podem exercer um papel nesses resultados.  O estudo demonstra que o aumento da mortalidade de árvores vem ocorrendo desde bem antes da seca de 2005 e que essa seca causou a morte de milhões de árvores na Amazônia.

O artigo da “Nature” mostra que o efeito de sumidouro de carbono da floresta Amazônica está diminuindo devido ao aceleramento de mortalidade de árvores.  Nos anos 1990, a floresta Amazônica armazenava cerca de 2 bilhões de toneladas de CO2 da atmosfera por ano em sua biomassa.  Este estudo demonstra que as taxas de armazenamento de biomassa pela floresta reduziram a 50% desde então e agora estão sendo superadas pelas emissões de combustíveis fósseis na América do Sul.

Estudo coletivo

O estudo contou com a colaboração de quase cem cientistas, muitos dos quais vêm trabalhando há décadas em países da América do Sul. O trabalho foi coordenado pela Rede Amazônica de Inventários Florestais (Rainfor), que inclui pesquisadores dedicados ao monitoramento de florestas Amazônicas.

Para a professora Beatriz Marimon, da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), que coordena o monitoramento na borda sul da Amazônia, as parcelas de seu Estado “revelam um padrão parecido, com taxas de crescimento aumentando, mas a mortalidade das árvores aumentando mais ainda”.

Porém, a rede de monitoramento florestal no Brasil ainda é muito limitada, segundo Carlos Quesada, cientista do solo no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus. “Grandes áreas da Amazônia brasileira ainda carecem de monitoramento terrestre.  Precisamos entender melhor como nossos estoques de carbono florestal e a nossa biodiversidade estão sendo afetados pelas mudanças globais”, diz.

Para calcular as mudanças no armazenamento de carbono, os pesquisadores analisaram dados de 321 parcelas florestais, distribuídas ao longo da extensão geográfica da Amazônia (6 milhões de quilômetros quadrados), identificando e medindo 200 mil árvores, cadastrando as mortes de árvores individuais e também o aparecimento de árvores novas nas parcelas, desde os anos 1980.

“No mundo inteiro, florestas intactas estão mudando”, acrescenta o professor Oliver Phillips. “Se o sumidouro de carbono em florestas tropicais continuar a diminuir,  as concentrações de CO2 na atmosfera vão aumentar mais rapidamente.  As florestas nos fazem um grande favor, mas não podemos depender delas para resolver o problema das mudanças climáticas.  Precisamos cortar radicalmente nossas emissões de gases estufa se quisermos estabilizar o nosso clima.”

Rainfor

“A Rainfor (www.rainfor.org/pt) é uma colaboração internacional de longo prazo, estabelecida para entender a dinâmica dos ecossistemas Amazônicos.  A rede é centrada em parcelas florestais permanentes que registram a vida de árvores e espécies individuais para entender o bioma mais diverso do mundo e melhor compreender o impacto da Amazônia no clima global.

Essa rede trabalha com parceiros em todos os países da Amazônia, capacitando uma nova geração de ecólogos amazônicos.  Para executar seu trabalho, recebe apoio financeiro de agências do Brasil, Colômbia, Peru, Venezuela, Reino Unido e União Europeia.  Uma lista completa das 57 organizações de 15 países que integram a rede está disponível em seu site.

Confira aqui o artigo intitulado “Long-term decline of the Amazon carbon sink”, na revista “Nature”.

Clique aqui para ver imagens e vídeos disponíveis.

Postado em: 23/3/2015

(Ascom-Ufac)