Profir diploma mais de 400 professores de Rio Branco, Bujari e Porto Acre
Por Magda Tomaz
O ginásio de esportes do Serviço Social do Comércio (Sesc) do Bosque, em Rio Branco, recebeu na noite deste sábado, 16, centenas de pessoas que foram prestigiar a cerimônia de colação de grau dos 421 formandos do Programa de Formação Especial de Professores para Educação Básica da Zona Rural (Profir), uma parceria da Universidade Federal do Acre (Ufac) com o governo do Estado.
Além dos concludentes de Rio Branco, que eram maioria, professores dos municípios vizinhos de Porto Acre e Bujari (60 e 28 quilômetros da capital, respectivamente) também receberam seu diploma de graduação nas áreas de Ciências Biológicas, Educação Física, Geografia, História, Letras e Matemática.
Participaram da solenidade a reitora da Ufac Olinda Batista Assmar, o deputado federal Sibá Machado (PT-AC), o secretário de Estado de Educação e Esporte Daniel Zen, o prefeito de Porto Acre, José Maria Rodrigues, a professora Vanessa Lins (representando o prefeito de Bujari), a professora e ex-secretária de Educação Maria Corrêa, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Acre (Sinteac), Manoel Lima, entre outros.
O projeto conjunto da Ufac com o governo estadual visa qualificar seu quadro de profissionais para que nos próximos anos todos os professores, das zonas urbana e rural, tenham formação superior, abolindo, definitivamente, a figura do “professor leigo”. A resposta positiva a iniciativas desse porte é que o Acre deixou os últimos lugares no que se refere ao ensino público e atualmente figura entre os dez Estados brasileiros com melhor aproveitamento no ensino fundamental e médio.
Para se ter uma dimensão do alcance e da eficácia do Profir, há cerca de dez anos, apenas 27% dos professores tinham graduação (formação em nível superior). Esse número hoje alcança a taxa dos 95%, de acordo com o secretário Daniel Zen. “Somos o único Estado brasileiro a ter quase todos os professores da rede pública graduados. Trilhamos esse caminho para fazer educação de qualidade. Este é um Estado que dá prioridade à educação”, disse o secretário.
Em todo o Acre, mais de 2.500 professores das 480 unidades de ensino da zona rural, nos cursos de Letras, Pedagogia, Matemática, História, Geografia, Biologia e Educação Física, foram contemplados pelo Profir, com investimentos que alcançam a casa dos R$ 18 milhões.
Segundo a professora Maria Corrêa, uma das idealizadoras do projeto, o Profir é o maior programa de formação para professores do Brasil. “A grande maioria dos professores da zona rural ainda não era efetiva, porque faltava o treinamento exigido por lei. Estar presente a esta formatura, fruto do maior programa de formação de professores do país, para mim é muito especial. Isso porque considero o título de professora o mais importante da minha carreira”, revelou.
Esse orgulho expresso por Maria Corrêa na solenidade corresponde ao sentimento da maioria dos profissionais que atuam na zona rural. A professora Selma Lúcia da Silva, por exemplo, leciona na escola Francisco Pinto, no Ramal Capixaba, no Projeto Tocantins, um dos maiores assentamentos de Porto Acre, que abriga mais de 600 famílias.
Selma Silva afirma que o projeto é a esperança de uma educação melhor para os alunos da zona rural, habituados a enfrentar todo tipo de dificuldades. “Na época do inverno, a estrada fica intrafegável e só é possível ter acesso à escola somente a cavalo. Mas, mesmo assim, é possível oferecer uma educação de qualidade para essas crianças, principalmente agora, com a ajuda do governo do Estado e da Ufac”, afirmou.
Graduado em História, o professor Nerivaldo Albuquerque de Souza leciona na escola São Raimundo Nonato há mais de oito anos e entende bem as dificuldades relatadas pela colega Selma. “Temos crianças que andam até cinco quilômetros para alcançar a rota do caminhão encarregado de transportá-las até a escola. É um longo caminho. Elas têm que encarar o cansaço e o sol quente, já que estamos no verão. Imagine como deve ser para uma criança vencer esse percurso todos os dias nessas condições”, queixa-se o educador.
A escola São Raimundo Nonato é responsável pela formação de 245 alunos. Mais da metade - 157 - estuda na matriz, localizada no Ramal do Pico do Meio, também no Projeto Tocantins. Os 88 restantes são distribuídos em anexos oferecidos pela própria comunidade, como casas, igrejas e outros espaços. Os anexos vieram da necessidade de crianças em comunidade mais isoladas terem acesso à educação. Eles fazem parte de outro projeto da Secretaria de Estado de Educação e Esporte, o Asinhas da Florestania.
No período chuvoso, o chamado “inverno amazônico” (de novembro a abril), crianças que moram longe da escola ficam sem transporte. Isso porque, com as chuvas, algumas localidades ficam isoladas, já que o caminhão responsável pela condução dos alunos não consegue entrar no ramal.
Diferentemente dos outros estabelecimentos de ensino da zona urbana, e levando-se em conta as dificuldades de acesso, sobretudo o inverno, as aulas têm início em abril e se estendem até dezembro, incluindo sábados e feriados. Com base nessas peculiaridades sazonais, o calendário escolar é elaborado seguindo a lei 9394/96, que determina o oferecimento dos 200 dias letivos.
Os gêmeos Alessandro e Alex Conceição Almeida, 11, estudam na São Raimundo Nonato e moram no Ramal Cunha Gomes, distante 18 quilômetros da escola, considerado pelo professor Nerivaldo um dos trechos mais difíceis. “Se chover, não há condições de ir para a aula. Quando dá, saio de casa às 9 da manhã para chegar depois das 13 horas, se não quiser me atrasar”, relata Alex. “Meu pai me incentiva, dizendo que, como meu sonho é ser engenheiro, tenho que passar por tudo isso para vencer.”
“Gosto de ir à escola, me sinto bem lá. Meus colegas são muito legais. Seria melhor se a gente tivesse um ramal sem lama nem buracos o ano todo. Só assim haveria aula normal”, completa Alessandro.
Para o professor Nerivaldo, as dificuldades do ensino não se resumem apenas ao acesso. “Além de não termos a manutenção do ramal, falta um freezer para armazenar frios. Não temos água filtrada. A que os alunos e professores bebem vem do poço do colégio, que usamos com cloro para amenizar a sujeira. Esse é o único tratamento”, admite.
“Administramos o ensino para crianças e adultos. Pessoas com idade de 11 a 40 anos, já que trabalhamos com programas especiais de educação. Somos responsáveis por educar pessoas. É um sacerdócio, mesmo com todas as dificuldades enfrentadas. Sei que, a partir de agora, serei mais confiante e audacioso”, prossegue o professor.
A próxima formatura do Profir será no município de Marechal Thaumaturgo, nesta quinta-feira, 21, a partir das 10 horas, no ginásio Poliesportivo Raimundo Bezerra Frota. A edição do projeto em 2011 tem encerramento neste sábado e domingo (23 e 24), em Cruzeiro do Sul, com a colação de grau de mais de 500 professores do município, além de Mâncio Lima e Rodrigues Alves.
Assessoria de Comunicação Ufac