Trabalho realizado na Ufac é exposto na 32ª Bienal de SP
Partindo do silenciamento sistemático da voz indígena na sociedade brasileira, a artista paulistana Maria Thereza Alves, 55, idealizou um projeto para ser exposto na 32ª Bienal de São Paulo, que foi aberta nessa quarta-feira, 7, e se prolonga até 11 de dezembro, sob o tema “Incerteza Viva”. Trata-se da exposição de seis supostos cartazes oriundos de três workshops realizados, em julho deste ano, com índios do Acre e de Mato Grosso do Sul (neste Estado, nos municípios de Aquidauana e Dourados).
Na capital acreana, Rio Branco, o trabalho foi realizado durante o Seminário Internacional de Extensão da Universidade Federal do Acre (Ufac). O workshop “Uma Possível Reversão de Oportunidades Perdidas” envolveu a leitura de textos e a visualização de obras de arte de pensadores indígenas e de artistas do México, do Canadá e dos Estados Unidos. A dinâmica de trabalho em grupo levou os participantes indígenas à criação de uma série de possíveis conferências sobre assuntos atuais de seu interesse. Foram conferências hipotéticas, pois nunca ocorreram.
Como resultado final, cartazes medindo 2 metros por 1,47 metro anunciam as conferências, datadas uma semana antes dos supostos eventos, segundo a artista, para dar a impressão de que as conferências já teriam ocorrido. “Os cartazes colocam as conferências como um ‘fato consumado’ na sociedade brasileira, permitindo perceber as imensas possibilidades de discurso e de câmbio que não estão ocorrendo, devido à exclusão de vozes indígenas em todos os campos do pensamento contemporâneo no Brasil”, explica Maria Thereza em seu site (www.mariatherezaalves.org).
Os cartazes criados nos três municípios são bilíngues, em português e inglês, por isso totalizando seis divulgações de conferências imaginadas pelos indígenas. Na Ufac, o workshop foi facilitado pelo professor do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) e pró-reitor de Extensão e Cultura, Enock Pessoa.
Maria Thereza Alves
A artista trabalha e expõe internacionalmente desde a década de 1980, com trabalhos que investigam circunstâncias de localidades específicas, para dar testemunho de histórias silenciadas. Seus projetos surgem em resposta a necessidades locais e ocorrem por meio de um processo de diálogo, o qual é, muitas vezes, facilitado pelas realidades materiais e ambientais e pelas circunstâncias sociais.
Postado em: 9/9/2016