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Agentes Agroflorestais Indígenas conhecem projeto da Ufac

publicado: 27/07/2017 17h27, última modificação: 27/07/2017 17h27

Uma aula de campo sobre pesquisa e criação de animais silvestres provocou surpresa a indígenas representantes de diferentes regiões do estado do Acre. Participantes do XXIII Curso de Formação de Agentes Agroflorestais Indígenas (AAFIs), promovido pela Comissão Pró-Índio no Acre (CPO/AC), o grupo pode conhecer em detalhes o projeto Caboclinho da Mata desenvolvido há 12 anos pela professora do Centro de Ciências Biológicas e da Natureza (CCBN) da Universidade Federal do Acre (Ufac), Vânia Ribeiro.

“A gente é acostumado a ver esses bichos na mata. Lá na minha terra tem de muito, mas para pegar tem que ir caçar com flecha. Na minha aldeia, a gente já trabalha com manejo, mas sempre na mata, assim cercado é a primeira vez que eu vejo”, disse ainda admirado Fernando Kampa Ashaninka, da Terra Indígena Primavera, resumindo o sentimento coletivo do grupo que dividia atenção entre as explicações de Vânia e as baias onde encontram-se divididos, atualmente, 59 catetos, 58 pacas e 4 capivaras.

Desenvolvido em uma área de 819 hectares localizada no município de Senador Guiomard, onde encontra-se instalada a Fazenda Experimental Catuaba pertencente à Ufac, o projeto Caboclinho da Mata tem como objetivo principal o estabelecimento de técnicas que permitam o manejo racional da fauna local, dentro do conceito de sustentabilidade que envolve critérios sociais, econômicos e ambientais.

“Embora a caça de animais silvestres seja proibida em todo o país, a menos que seja para subsistência como é o caso dos indígenas, existe um mercado para o consumo dessas carnes. Aqui, ao longo de todos esses anos, buscamos desenvolver pesquisas que ensinem mais sobre esses animais, sobre as eventuais doenças que podem transmitir, mas principalmente, sobre a melhor forma de criação e reprodução em cativeiro”, explica Ribeiro. “Nossa expectativa é contribuir para suprir uma demanda de consumo dessa carne, diminuindo a pressão de caça e, atingindo, assim, a conservação ambiental”, emenda.

De acordo com a professora, os dados coletados, através do Caboclinho da Mata, são importantes para que se conheça o comportamento e a biologia das espécies pesquisadas de modo a poder traçar planos de manejo sustentável ou programas de conservação. “Nossos resultados são compartilhados tanto com nossos alunos da graduação e da pós-graduação como com produtores e populações tracionais. Queremos conscientizar as pessoas de que é mais positivo criar animais silvestres, em vez de só tirá-los da floresta”, destacou a professora.

Os Aafis, no desempenho de suas funções, devem desenvolver ações de manejo dos recursos florestais e produção agroecológica junto à lideranças, professores, agentes de saúde e famílias indígenas, daí a presença do tema manejo de animais silvestres na programação do curso. “A minha terra indígena tem 12.318 hectares e nós somos um pouco mais de 800 pessoas. Hoje, a gente se preocupa em não acabar os nossos recursos para manter o futuro da nova geração, porque já estamos sofrendo com a caça, principalmente, do homem branco que não tem essa preocupação”, comentou Renildo Ninawa, da Terra Indígena Igarapé do Chauco. “Para gente é muito importante ter esse conhecimento, porque já tá ficando mais escasso esses animais e a gente não sabe bem como criar esses animais, porque eles são diferentes do animais domésticos e tem alimentação diferente na mata. A gente precisa desse conhecimento para levar para aldeia”, completou.

Além da aula sobre manejo de animais silvestres, fazem parte da programação do curso temas como Horta Orgânica, Sistemas Agroflorestais, Arqueologia da Amazônia, Artes e ofício, Ecologia Indígena, Cartografia Indígena, Línguas, Matemática, Fundamentos e diretrizes políticas da função de AAFI, etc. O curso ocorre até o dia 18 de agosto no Centro de Formação dos Povos da Floresta (CFPF), em Rio Branco.  Participam da capacitação 35 AAFIs, representantes de 09 povos e de 21 Terras Indígenas no Acre.