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Projeto de Psicologia aborda comportamento suicida

publicado: 08/05/2018 10h47, última modificação: 08/05/2018 10h49

A Universidade Federal Acre (Ufac) e o Serviço-Escola de Psicologia promovem um projeto de extensão chamado “O Ser Cuidado”, que funciona no bloco Francisco Bacurau, pela manhã e à tarde. O objetivo de projeto é identificar, intervir e orientar pessoas que têm pensamentos e comportamentos suicidas.

Direcionada à comunidade universitária e externa, o projeto também atende quem possa alertar sobre pessoas com tendências suicidas. A responsável pela iniciativa é a professora do curso de Psicologia, Luciane Patrícia Yano. Ela informa que o projeto conta com oito estagiários treinados para acolher quem queira atendimento e realizar o encaminhamento adequado.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, o suicídio representa 1,4% de todas as mortes em todo o mundo, tornando-se, em 2012, a 15ª causa de mortalidade na população geral; entre os jovens de 15 a 29 anos, é a segunda principal causa de morte. Porém, nove em cada dez casos poderiam ser prevenidos.

Em um levantamento de 2015, realizado pelo Núcleo de Prevenção de Suicídios, somente em Rio Branco foram registradas 180 tentativas atendidas no Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco.

“A melhor maneira de abordar o assunto no ambiente universitário é oferecer espaços na universidade, onde uma pessoa possa buscar ajuda”, diz a professora Luciane. “São duas orientações: a primeira é ter o espaço; a segunda são ações de conversa e conscientização, ajudando a identificar os comportamentos suicidas.” 

Além disso, para Luciane, é importante falar da história do suicídio, das questões sociais que afetam o comportamento suicida, além de saber o que dizer e o que não dizer. “Na palestra que eu já ministrei em alguns lugares, destaco a importância de saber escutar e acolher as pessoas, porque muitas vezes essa maneira como acolhemos alguém com comportamento suicida pode agravar o caso e ser inútil”, opina. 

A professora lembra que a Ufac oferece outros trabalhos nessa área, como alguns grupos terapêuticos. “Não são trabalhos completamente ligados ao comportamento suicida, mas eles acabam resgatando vários elementos, cuidados de uma forma geral, situações inacabadas, temáticas de perdas e de rejeição que atuam como fatores precipitantes”, conta. 

Fatores de risco 

Há dois grupos de fatores que atuam nos comportamentos suicidas: o primeiro é chamado de fator predisponente, que inclui doenças físicas, cansaço e debilitação das pessoas, transtornos mentais, depressão, bipolaridade, tratamentos médicos extensos e que provocam dor e sofrimento, entre outros.

O segundo é o fator precipitante, que são situações específicas que atuam como gatilho. Por exemplo, briga com pais, namorado, familiares. Outros elementos envolvem pessoas que têm personalidade de baixa autoestima e situações de estresse. 

Comportamento

Para a professora Luciane Patrícia Yano, é possível verificar mudanças de comportamento que comunicam que alguém está precisando de ajuda. 

“A vivência de um processo de rejeição é um fator de risco, além de hiperatividades comportamentais, embora possam ser mais sutis”, analisa ela. “Outros fatores afetivos que estão ligados à temática dos comportamentos suicidas são vivências de sensação de medo, raiva, culpa e a perda da esperança, bem como situações de amor não correspondido e solidão.” 

Luciane também fala das redes sociais, que podem ser usadas para comunicar o desejo suicida, até mesmo indiretamente, com frases metafóricas, como “não vou conseguir”, “a única maneira” etc. Ainda há um grupo de pessoas baseado na impulsividade, mais difícil de identificar, porque é imprevisível. “Aparentemente, a pessoa pode estar bem e depois tentar contra a própria vida”, ressalta. 

‘Quem fala, não faz’ 

“Essa afirmação de ‘fala e não faz’ deve ser desconsiderada, porque quem fala em se suicidar é porque já está com uma distorção cognitiva”, pondera Luciane. “Ela já tem no pensamento uma comunicação de comportamento suicida; não podemos considerar isso normal, pois o normal seria o bem-estar.” 

Luciane avisa que, em se tratando de comportamentos suicidas “cão que ladra morde”. Ou seja, se a pessoa está bem, feliz e com saúde emocional, não falará em suicídio.

“É muito comum que alguém, em algum dia, pense em se matar; isso não é uma coisa fora do normal, mas uma pessoa que repete isso está buscando ajuda e não pode ser negligenciada”, alerta.

‘Sobrevivente’

A pessoa que tentou e não consumou o suicídio é chamada de “sobrevivente” e precisa de tratamento médico e psicológico. “Depois de um ano ou mais, há o risco dessa ideia voltar. Às vezes, a pessoa até começa o tratamento, a intervenção médica se estabiliza quimicamente, há uma certa calmaria; mas depois ela tenta novamente”, relata Luciane. “Quem sobreviveu precisa de cuidado, terapia e estabilização química junto ao médico.”

 

(Roseane Dantas, estagiária Ascom/Ufac; acadêmica do 6º período de Comunicação Social/Jornalismo)