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Dois em cada 10 professores no Acre estão doentes

por petrolitano publicado 25/01/2012 10h17, última modificação 25/01/2012 10h17
Jornal A Tribuna, 19.02.2002

Pesquisa realizada com professores da rede pública de ensino em todo o País revelou que 92% dos docentes apresentam sinais de distúrbios causados pelo estresse. Pelo menos 41% encaixam-se em mais de dez sintomas da doença. No Acre, a estimativa das próprias instituições de ensino é de que a cada 10 professores que estão na ativa dois tenham tendência à depressão ou precisam de tratamento e acompanhamento médico para algum outro problema.

A vice-diretora do Instituto de Educação Lourenço Filho, professora Maria Madalena Cavalcante Barbosa, confirma a existência de problemas de ordem psíquica e emocional em pelo menos 20% dos 120 professores que fazem parte do quadro da instituição. Casos como o da ex-professora J., 35 anos, graduada em Letras pela Ufac e hoje morando em Acrelândia (a 146 quilômetros de Rio Branco). Em 2001, ela sequer conseguiu concluir a disciplina que ministrava - português - e teve que ser internada no Hospital de Saúde Mental do Acre (Hosmac), acometida de depressão de alto grau.

"Não tenho mais tempo nem para meu filho de 4 anos e vivo me sentindo triste o tempo todo", chegou a comunicar à diretoria da escola. Em meados de outubro ela se afastou definitivamente. "Nós chegamos a orientá-la para que buscasse tratamento em uma unidade de saúde, porque notávamos a presença de distúrbios realmente graves nela", completa a vice-diretora. A junta médica avaliou o grau de comprometimento de J. com a doença e constatou que ela deveria se internar. Hoje, a situação de J. é outra, completamente melhor.

O tempo em que passam em pé, a má-postura, o uso de roupas inadequadas e a pressão sofrida por pais, diretores e alunos fazem com que os docentes descuidem de sua própria saúde, explicam os especialistas. Márcio Batista, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado do Acre (Sinteac), aponta uma série de fatores como agravantes da situação. "Jornadas dupla de trabalho, medo de perder o emprego e no geral maus salários são os principais", afirma.

Atendimento por junta médica

Um caso muito comum de nível acentuado de estresse entre professores foi vivido por Maria, 42, (nome fictício), que leciona na rede pública estadual de ensino há 15 anos. Durante vários anos ela sofreu de depressão sem fazer qualquer tratamento. A conseqüência acabou se refletindo em sala de aula. "Eu ficava nervosa, irritada e descarregava nos alunos", diz ela, que após tratamento e acompanhamento psicológico conseguiu livrar-se do transtorno.

Isso a afastou da sala de aula, com pedidos de licença médica que chegaram a causar constrangimento na própria escola onde trabalhava. A secretária estadual adjunta de Educação, Maria Corrêa da Silva, afirma que a preocupação com o problema é muito grande, mas informa que por enquanto "a secretaria não tem ainda um setor específico para assistência psicológica".

O que existe é a junta médica, mas gestões no sentido de melhorar a qualidade de vida do professor estão sendo feitos pela deputada Naluh Gouveia (PT). Naluh prepara um seminário com grandes especialistas brasileiros, numa tentativa de reduzir mais os danos causados contra os professores acreanos dentro de sala de aula. Depois do estresse, o aneurisma cerebral e perda de voz são os piores problemas.

"Este seminário deve ocorrer em março", confirmou ontem a parlamentar. A diretora de ensino da Semec (Secretaria Municipal de Educação), Marilena Brasileiro do Acre, confirma a existência do problema entre os professores do município. "No momento teríamos de verificar por meio de levantamento quantos são, mas com certeza que este problema é também uma realidade entre nós".