Uma viagem sobre a economia da Amazônia
Denyscley Bandeira
A descoberta da borracha, em meados de 1840, colocou a Amazônia pela primeira vez no âmbito internacional. O boom da borracha daria uma nova feição à região Norte. Era o indicativo para se resolver três problemas históricos regionais: primeiro, a falta de capital externo durável e vigoroso para desenvolver economicamente a região; segundo, que este estímulo permitisse superar o sistema primitivo de transporte e a escassez de mão-de-obra; e terceiro, que o uso do dinheiro e o cálculo monetário se vulgarizassem. Resolvida esta equação, teríamos os pressupostos básicos para o desenvolvimento econômico da Amazônia começar.
A época da borracha, compreendida entre 1877 a 1910, foi tida como os “anos dourados” da Amazônia e criou-se, assim, uma elite que estabeleceu um sistema de aviamento que, ao seu modo, marcou as relações sócio-econômicas na região. Este empreendimento sofreu uma queda brusca a partir de 1910. Em 1876, o inglês Henry Wickham contrabandeou sementes da seringueira Hevea brasiliensis para Kew Gardens, na Inglaterra. No ano seguinte, os ingleses levaram mudas dessa espécie vegetal para o sudeste asiático, estabelecendo plantações de borracha que superaram a produção brasileira.
Com a saída do capital externo, a região passou por um período de relativa estagnação econômica, semelhante a outros ciclos vividos no Brasil. Surgiu, no apogeu desses grandes empreendimentos, assim como nos ciclos do ouro, do café e outros, a geração de oportunidades econômicas que atraíram atores sociais de várias regiões, aglutinando uma mão de obra barata, senão escrava. Quando a economia amazônica entrou em declínio uma boa parte da população ficou ociosa: ora migrava para as cidades, ora criava novas povoações, ou voltava a viver uma vida de subsistência com poucos vínculos ao mercado formal.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a Amazônia viveu um pequeno surto de progresso devido à inviabilidade de se obter borracha nas plantações asiáticas, por conta do controle japonês então estabelecido naquela região. O látex brasileiro tornou-se, assim, essencial para o empreendimento bélico das forças aliadas e, mais uma vez, a região Norte recebeu um outro fluxo de migrantes: os soldados da borracha, na sua maioria provindos do Nordeste na década de 1940. Mas, com o final da guerra, a economia da região entrou novamente em declínio.
Depois disso, o que ocorreu na Amazônia, nos anos de 1964-1978, foi principalmente a era dos grandes projetos, o que esboçou uma nova face para a região. No período do Milagre Econômico Brasileiro o governo federal implementou seu Projeto de Integração Nacional (PIN), divulgando o mesmo como uma oportunidade de oferecer “terras sem homens para homens sem terras”. Criou-se, então, uma malha rodoviária e novos projetos agrícolas para assentar povos de lugares distantes. Na ocasião, o governo militar objetivou ocupar a Amazônia, com o intuito de solidificar sua soberania, trazendo pessoas de outras regiões potencialmente conflituosas. Migraram pessoas do Sul, Sudeste, Centro-Oeste e mais uma leva de nordestinos.
Junta-se a isto o desenvolvimento extensivo do capitalismo. No extrativismo, na agricultura e na pecuária desenvolveram-se as relações capitalistas de produção, juntamente com as forças produtivas. Esse foi o quadro geral no qual se integrou a política estatal de ocupação, inclusive a colonização dirigida, oficial e particular. A rigor, a criação e a expansão da empresa de extrativismo, agropecuária e mineração, da mesma forma que a política de demarcação e titulação das terras devolutas, indígenas e ocupadas, ao lado da colonização dirigida, expressa o processo mais ou menos amplo e intenso de expansão das relações capitalistas na região.
Muitos outros projetos expuseram a Amazônia a novos fluxos migratórios. O projeto Carajás, por exemplo, estabeleceu um pólo de desenvolvimento, percorrendo o sul do Pará até a cidade de São Luís no Maranhão. Paralelamente, a ação madeireira serviu, e ainda serve, como ponta de lança para outros projetos, como os agropecuários, em torno dos quais criou-se uma arena de conflitos entre agricultores sem terra e grandes latifundiários. Na consolidação dos Grandes Projetos e dos latifúndios cria-se um êxodo rural, onde pequenos agricultores e outros migraram para diferentes locais, principalmente para as cidades amazônicas.
Na equação final, não podemos reduzir a questão da migração a simples fatores de atração e repulsão. Com o impulso da globalização, estamos diante de uma situação que gera empregos e outros benefícios econômicos. Simultaneamente, porém, cria excedentes no mercado de trabalho, afetando locais e povos distantes que, anteriormente, jamais se imaginaria atingir. O controle de populações e espaços periféricos se consolida através de uma rede de interesses e capital alheio que ofuscam a dinâmica desta interligação.
O capital estrangeiro já se valeu de incentivos fiscais, da inexistência de normas ambientais, além de uma série de leis contraditórias e relaxadas para viabilizar seus investimentos no território amazônico. Entretanto, o Brasil reage a tais questões tentando impor novas medidas para proteger seu patrimônio natural e controlar o avanço desse capital. Essas medidas têm por princípios estimular pesquisas e parcerias necessárias para o desenvolvimento auto-sustentável da Amazônia, defendendo o conhecimento científico necessário para formular políticas voltadas a melhorar o bem estar social da população amazônica.
Estudante do 5º período de Economia na Ufac