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Zé Serra: a reedição do caos

por petrolitano publicado 30/01/2012 09h50, última modificação 30/01/2012 09h50
Jornal Página 20, 16.03.2002

José Cláudio Mota Porfiro


Não adiantam as vãs tentativas de me fazerem calar ante a realidade nua e crua que paira nos céus do Brasil. Serei sempre assim: falarei e escreverei apenas o que penso, sem medo de ferir suscetibilidades ou convicções que não são exatamente as minhas. Calem-se as gerações. Emudeçam-se os continentes. Não eu! Afirmo de pés descalços que o planeta ruirá, porém esta pena cibernética arredia jamais cansará de estar sempre ao fiel serviço da verdade.

É oportuno asseverar que este contundente aprendiz de escriba  -  pouco lido  -  jamais votaria em Zé Serra... E por quê?

Simplesmente porque Zé Serra é professor e é aluno aplicado do Professor Doutor Fernando Henrique Cardoso. Zé Serra é do PSDB e o PSDB é o símbolo perfeito e acabado de tudo o que de ruim tem acontecido às universidades públicas brasileiras.

E por que a aversão a professores mesmo sendo um deles? Ora, infelizmente, professor é sempre professor. Fernando Henrique é professor. Zé Serra é professor. Paulo Renato, o meu patrão, é professor. José Goldenberg, o ex-reitor da Universidade de Brasília, que iniciou a descaracterização das nossas universidades, também é professor... E assim por diante...

Não é sem nenhum ranço que afirmo a sutileza e a particularidade da categoria dos professores, que não cresce enquanto classe posto que o egoísmo habita os cérebros pouco racionais e deveras apaixonados por si próprios. Por isto têm uma vidinha tão irrisória quanto os seus salários.

A união entre os componentes da casta professoral é praticamente nula. A maioria dos nossos mestres passa toda a vida rodeando o próprio umbigo e, quando toca de sorte galgar algum posto mais importante, passa a pisar sobre os demais. É claro que vejo exceções, uma vez que nenhuma regra é geral. Lá mesmo na UFAC há professores amistosos, dignos da boa amizade. Todavia, lá mesmo, há uma turma de boçais que se julga acima do bem e do mal, é preconceituosa em relação aos seus pares e, acima de tudo, costuma tratar os funcionários técnico-administrativos como criaturas ínfimas, minimizadas.

É claro que estas palavras doerão e cairão como a carapuça na cabeça dos meus alvos. Há, inclusive, aqueles que detestam o fato de um cidadão como eu  -  de uma família pobre de Xapuri  -   haver defendido tese de doutorado e obtido nota com louvor na Universidade de Campinas. Para a minha infeliz lembrança há, ainda, aquele moço de rara inteligência e cultura anã que disse ao ex-reitor Lauro Julião que colocar o Cláudio Mota e o Francisco Dandão, para fazerem cursos de mestrado e doutorado, era uma falha imensurável da administração daquele bom homem. Fazer o quê? O mundo é assim mesmo. Os cães ladram e a minha carroça velha passa altaneira e mal arrumada.

Há bons amigos entre todos. Exemplifico com o nome do boníssimo amigo Manoel Severo. E com o nome do pacato José Ronaldo Melo. Agora mesmo, cá em Brasília, tenho um parceiro gente fina, professor, tomador de chope de primeira hora. Trata-se do Sérgio Brasil, que cursa doutorado em Matemática Pura... Ou maluquice pura!

Vejamos a exceção que consegui construir. Pasmem! Lá no CERB, onde vendia aulas de Língua Portuguesa à noite,  temos uma turma que sai junta todos os finais de semana, com as esposas e esposos, para um point qualquer. Eu mesmo os recebo de braços abertos na minha residência, onde trocamos idéias e ingerimos skol. Tenho uma baita saudade dos meus amigos Raimundo Lima, Joaquim Ferreira, Edmundo Costa, Natal Chaves, Elna Jussara, Graça Taumaturgo, Emerson Matemática, dentre outros...

Mas deixando de lado a exceção e voltando direto para a regra, é inegável que as universidades públicas brasileiras estão sendo paulatinamente sucateadas pela turma do Fernando Henrique. E a pretexto de que esta obra de arte está sendo escrita? Simplesmente porque os olhos cobiçosos dos capitalistas estão vendo ali um filão de ouro inestimável. Chegará a hora em que gente da estirpe de Zé Serra venderá inicialmente as instituições mais rentáveis, em cidades onde o nível de vida permita aos alunos pagarem mil reais por um curso de ponta; e, depois, fecharão aquelas localizadas em regiões mais pobres, como é o caso da UFAC.

Por isto tenho feito um exercício de meditação permanente. Estou em rota de colisão com alguns amigos justamente porque vejo no projeto do PSDB de Zé Serra e FHC  -  professores  -  a reedição do caos que se instalou nas Universidades onde, vergonhosamente, um professor doutor ganha dois mil e novecentos reais.

É claro que as posições não serão revistas. É claro que fazer ciência neste País continua a ser uma tarefa de idealistas pouco afeitos a dinheiro. Por isto lamento informar aos meus amigos social-democratas: creio piamente no projeto de Mercadante, Zé Dirceu e Lula. Eis o meu voto declarado em tinta e cores fortíssimas. Tenho dito e garantido!