Paleontologia do Acre é reconhecida mundialmente
CONCITA CARDOSO
Editora-assistente
“O XVII Congresso Brasileiro de Paleontologia, que acontece de cinco a nove de agosto no Anfiteatro Garibaldi Brasil, na Universidade Federal do Acre, o primeiro a se realizar na região Norte, representa um marco na história da Paleontologia no Estado”, na visão do pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação da Ufac e um dos organizadores do evento, professor Alceu Ranzi. Que acredita que a escolha por Rio Branco foi em decorrência dos trabalhos realizados por profissionais acreanos relacionados à Paleontologia e reconhecidos nacional e internacionalmente. Um desses trabalhos é o livro de sua autoria intitulado “Paleontologia na Amazônia”, que foi bem aceito por acadêmicos do curso de Paleontologia de todo o país. Em entrevista concedida à GAZETA, Alceu Ranzi ressalta sobre o que será abordado no congresso e suas perspectivas.
A GAZETA – Professor Alceu Ranzi, qual a importância de eventos desse porte para o Estado do Acre?
Ranzi – Acredito que esse é o reconhecimento pelas atividades desenvolvidas por um grupo de paleontólogos da Universidade Federal do Acre, que projetaram esse Estado em todo o país e no exterior com seus trabalhos paleontológicos e a realização hoje desse congresso nacional, o XVII, que está sendo realizado no Acre e que poderia estar sendo realizado em outras cidades com mais prestígio, como o Rio de Janeiro, São Paulo ou Porto Alegre, vem comprovar isso. A escolha do Acre foi uma forma de reconhecer o trabalho desse grupo de profissionais que labutam em Rio Branco.
A GAZETA- Qual o trabalho de maior importância já divulgado por paleontólogos acreanos que tenha se tornado conhecido nacional e internacionalmente?
Ranzi – O principal trabalho já divulgado foi a revelação da riqueza da fauna fóssil no mioceano do Acre. O mioceano é uma época no tempo entre os cinco e oito milhões de anos e a temos aqui. Atualmente milhares de peças estão expostas no Laboratório de Paleontologia da Ufac e se trata de uma coleção única e a mais importante desse período que temos no Brasil. O mio-ceano do Brasil está no Acre. Outro trabalho é a parte que eu tenho desenvolvido, que é o estudo com a megafauna do plestoceno, de aproximadamente 12 mil anos atrás, da qual eu publiquei o livro “Paleontologia da Amazônia” e isso também tem repercutido muito positivamente e tem levado a projetar o Acre nacional e internacionalmente. Temos os trabalhos também com as grandes tartarugas, os grandes jacarés, aves, fósseis, e assim por diante, uma série de trabalhos se projetaram e deu-se a importância a esse grupo de pesquisadores daqui.
A GAZETA - Qual a região no Estado do Acre onde mais foram encontrados fósseis de animais desaparecidos há anos?
Ranzi – No início era no rio Juruá, de Cruzeiro do Sul até a fronteira com o Peru. Tradicionalmente é uma região fossilífera muito importante na qual trabalhamos alguns anos. Depois, com o estabelecimento do grupo em Rio Branco, o rio Acre tornou-se muito importante. Desde Assis Brasil até Boca do Acre nós temos trabalhado. A região de Brasiléia e Assis Brasil talvez seja a mais rica em fósseis que nós temos aqui.
A GAZETA- Qual o tamanho do maior fóssil já encontrado nessa região?
Ranzi – O grande fóssil é o símbolo do nosso congresso, que é o Purussaurus brasiliensis, cujo crânio é o símbolo do nosso congresso e se trata do maior carnívoro que já habitou a face da terra. Maior até que os grandes dinossauros e foi um habitante do Acre há oito milhões de anos. Ele é a nossa vedete.
A GAZETA – Os paleontólogos do Acre vão apresentar algum tipo de trabalho durante o congresso e relacionado a que parte da Paleontologia?
Ranzi – Os trabalhos aqui do Acre são essencialmente os trabalhos das nossas pesquisas. Um deles é sobre as tartarugas, outro com os roedores. Tem inclusive um trabalho sobre nossas pesquisas de campo. Mas a finalidade essencial do congresso é mostrar as nossas milhares de peças depositadas no Laboratório de Paleontologia da Universidade Federal do Acre. Alguns, únicos para a ciência. As pessoas vêm para ver aqueles fósseis que são únicos, que só se encontram aqui no Acre. Centenas de pesquisadores do Brasil e de outras partes do mundo virão ao Acre para visitar o Laboratório de Paleontologia e participar da semana do congresso.
A GAZETA - Quais os principais temas que serão abordados no congresso e qual sua importância para os estudiosos em Paleontologia?
Ranzi – Se falará sobre Paleobotânica, que trata dos vegetais, dos mamíferos, dos répteis e vertebrados, Micropaleontologia, que são animais para ver em microscópio ou lupa, Geologia, Paleoclimas, uma gama de trabalhos serão apresentados. Além disso, vamos ter, além das conferên-cias, mesas redondas, apresentação de painéis orais e painel montado com fotogra-fias, além de minicursos, onde os especialistas estarão ministrando reciclagem para pes-soas que quiserem participar.
A GAZETA - Quais as perspectivas para o congresso?
Ranzi – Esperamos uma grande cobertura da imprensa do Acre, porque isso vai repercutir no Brasil todo. Nossa intenção é que as pessoas que vierem aqui levem a melhor impressão científica do Estado. Após o encerramento do congresso, os participantes irão se dirigir às cidades de Brasiléia e Xapuri. Vai ter também trabalho de campo pelo rio Acre em Assis Brasil. Praticamente tudo será coberto, eles terão a chance de conhecer a nossa culinária, de participar de eventos culturais, como o forró na Tentamen, com isso terão uma visão completa do Acre.