"O Acre hoje"
* José Mastrangelo
É a peça de publicidade que o governo do Estado do Acre está levando ao ar para o povo conhecer as obras que aquela instituição está realizando em benefício da população. A iniciativa é boa, pois permite que o povo saiba como o seu dinheiro vem sendo aplicado.
Evidentemente a publicidade que está posta aí deverá obedecer aos critérios da lei, que, neste caso, impõe limites quanto à propaganda oficial. Neste sentido há de se observar que toda e qualquer propaganda da "coisa pública" deverá ser feita com finalidade educativa.
Sem analisar o mérito dessa propaganda, que dá publicidade às ações do governo e que aqui e acolá vem burlando abertamente a lei, o que mais nos interessa agora é vefr se realmente o governo vem realizando o que está levando ao ar.
Como está "O Acre hoje"?
Sob a ótica do governo, muita coisa está se fazendo e bem, inclusive a condução de muitas ações poderá ser "exportada" como exemplo de gestão pública bem sucedida, portanto, ser imitada até por governos do primeiro mundo.
Se isso fosse verdade, todos nós poderíamos nos orgulhar, podendo até bancar de "bananas" perante todo mundo e "sem ódio e medo" divulgar o que se passa nessa terra que quis ser Brasil.
Então, vamos lá nós desvendar a antologia desse governo que se define da floresta, querendo, com isso, que todos os habitantes do Estado do Acre incorporem esse novo conceito, que impõe exercer não mais a cidadania, mas, sim, a florestania. Para que isso seja viabilizado e passe a fazer parte do ideário de cada "florestão" desta terra, o governo mandou "plantar" a árvore, que simboliza a floresta, em todos os cantos: prédios públicos, postes, carros e motos.
Com certeza, é uma jogada publicitária, que não é inferior àquela que Hitler e Mussolini usaram no século passado com o objetivo de consolidar o poder mantendo um regime absoluto e autoritário.
"O Acre hoje" já incorporou ao acervo patrimonial público essa nova espécie de árvore, que, bem manejada pelo engenheiro florestal, está dando bons dividendos, com o aumento da arrecadação interna e a fidalga recepção que o governo está tendo junto aos organismos nacionais e internacionais dispostos em preservar essa parte da Amazônia.
Com a árvore na cabeça e no peito, "O Acre hoje" continua batendo duro na rota do narcotráfico, indiciando direta ou indiretamente mais de 800 pessoas, sendo que algumas delas já se encontram presas na cadeia apelidada de "Papudinha" e outras, por ordens superiores não reveladas, estão fora do relatório da CPI.
O "Aeroporto de Rio Branco", que ainda não tem nome definitivo pela falta de exame de DNA, está funcionando, bem como o seu acesso, prestes a ser inaugurado, com uma super rodovia totalmente iluminada por obra do governo federal.
Do mesmo governo federal é a obra da moderna rodovia que dá acesso ao Parque "Chico Mendes", que, também, nos próximos dias será festejada com muita euforia.
Os professores de nível superior foram premiados com o piso salarial equiparado às outras categorias funcionando do mesmo nível de escolaridade, a partir de maio de 2002. A Associação dos Professores Licenciados – APL, que é uma dissidência do Sinteac, teve que pressionar o governo para obter esse prêmio, que, na realidade, é uma reivindicação antiga.
Os professores "leigos" estão tendo a oportunidade para qualificar-se em nível superior, graças a um convênio assinado entree o governo do Estado e a Universidade Federal do Acre.
O curso de Medicina é outra realidade de "O Acre hoje", apesar de o sonho ter sido acalentado principalmente pelo ex-senador Mário Maia, falecido, e Flaviano Melo, atual prefeito da capital, ambos em época passada, acusados de fazer proselitismo político, usando a bandeira da criação do curso de Medicina.
Vem aí o Parque da Maternidade. A bolsa escola. O "sacolão". As "Frentes de Trabalho". ETA. O Instituto das Terras. O "Adjunto da Solidariedade". Tc. Amém!
Finalmente "O Acre hoje" está em paz. Os três poderes, a saber Executivo, Legislativo e Judiciário fumaram o cachimbo da paz, pois, na opinião declarada pelo titular do Poder Exeecutivo, os seus principais postos estão na mão de acreanos. Que seja assim! E sendo assim, a dona Perpétua, vereadora eleita, não terá mais oportunidade de abraçar a Casa da Justiça ou escovar suas escadarias. É uma pena!
Enquanto "O Acre hoje" continua no ar, o Unicef, órgão das Nações Unidas que "cuida" das crianças, aponta o Acre como um dos piores lugares para uma criança nascer.
A miséria mantém os mesmos índices de outros tempos. O emprego cada vez mais sumido. O nível salarial parado. E a violência, hein?
O show de Roberto Vaz continua fazendo sucesso ao mostrar a cara do povo, que está longe de ser feliz, tão cruel e triste é a vida.
"O Acre hoje" tem sim o que mostrar de bom, contudo a vida há de melhorar, sobretudo na clareira da florestania, onde o animal mais forte faz valer o seu poder de fogo que tem para morder os animais menos dotados e fracos.
José Mastrangelo é professor de Sociologia na Universidade Federal do Acre.