Lixo Urbano Risco permanente de doenças para a população e para o meio ambiente
Francisco Dandão
Ao mesmo tempo em que um centro urbano cresce, também se multiplicam os seus problemas. Rio Branco não poderia ser diferente do resto do mundo neste sentido. Aqui, porém, dadas as dimensões ainda consideradas reduzidas da cidade (porte médio) e a morosidade ou o descaso dos setores competentes, algumas situações parecem tender a se agravar.
Uma monografia apresentada no final do ano passado ao Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Acre (Ufac), pelo então estudante de sociologia Gledson Gamburgue Gomes de Oliveira, sob orientação do professor Sérgio Roberto, alerta para um desses problemas cruciais: a multiplicação, a coleta e o destino do lixo da cidade.
O trabalho de Gledson, intitulado Lixo urbano: um estudo de caso de Rio Branco – Acre, dividido em quatro capítulos, é um relatório minucioso da situação dos detritos na capital acreana, abrangendo desde o histórico da coleta dos detritos (criação da Semsur e posterior delegação de competência à empresa Lara) até a avaliação dos riscos de poluição ao meio ambiente, passando pelas características físicas e acondicionamento.
No tocante à poluição do meio ambiente, provavelmente os maiores riscos, imediatos e futuros, para a saúde da população. Três seriam os fatores mais evidentes para tal: ausência no aterro sanitário de redes de drenagem de percolado (chocrume), contaminação do subsolo por inexistência de impermeabilização do local em anos anteriores, e emanação de odores desagradáveis.
"O chocrume", explica Gledson, "é formado pela solubilização de componentes do lixo orgânico na água, principalmente da chuva, entrando em contato com as camadas de lixo durante certo período. Por ação natural da gravidade essa infiltração irá parar normalmente em uma camada impermeável do solo, como rochas, ou mesmo superfícies previamente preparadas para receber o lixo, onde irá acumular e, logicamente, escoar, contaminando o lençol freático da área".
Quanto à impermeabilização, ainda no dizer do agora sociólogo, pode-se afirmar sem nenhum constrangimento que "grande parte do subsolo do aterro sanitário já está contaminado. Ressaltando que atualmente existem várias formas de se impermeabilizar uma área na qual se deseja dar um destino adequado ao lixo sem causar prejuízos à natureza. Caso, por exemplo, do filme plástico, que é uma membrana geosintética de polietileno de alta densidade".
Além de tudo isso, a questão dos odores pestilentos contribui para pelo menos duas conseqüências danosas: a afluência de centenas de urubus e o risco para a saúde das pessoas que trabalham ou transitam todos os dias nas imediações da área onde o lixo é depositado.
O trabalho completo está disponível aos interessados na Biblioteca Central ou no Departamento de Ciências Sociais da Ufac.
Pedaços de corpos humanos no lixo
O detalhe macabro descoberto na pesquisa do então universitário Gledson Gamburgue Gomes de Oliveira foi o da falta de cuidados com o lixo hospitalar. "Já encontrei até pedaços de partes de corpos humanos, como seios e dedos", teria confidenciado um motorista responsável pela coleta no setor.
Num determinado hospital da cidade, o lixo rotineiramente é mal condicionado, misturado com restos de comida e copos descartáveis, sendo que resíduos perfurantes, como agulhas, em vez de estarem acondicionados em recipientes rígidos, estavam colocados em sacos plásticos, com nítido risco de contaminação para o gari.
Da mesma forma, a maioria das farmácias não demonstram maiores cuidados com o material jogado fora. No lixo de uma drogaria da Estação Experimental foram descobertos detritos cortantes, ampolas e remédios vencidos, misturados e dispostos em um saco plástico de fina espessura, possível de rompimento sem nenhum esforço.
"É preciso, urgentemente, que, tanto a prefeitura quanto a empresa responsabilizada pelo serviço de limpeza promovam entre hospitais e farmácias campanhas educativas sobre o assunto", opina o autor da monografia.