O clima globalizado I

*Alejandro A. Fonseca Duarte

Sem apresentação

- Pode começar, estou escutando.

- Esta vez não será necessária a apresentação, não terei que dizer o Setor de Estatuto de Uso da Terra e Mudança Globais (SETEM) pertencente ao  Parque Zoobotânico (PZ) da Universidade federal do Acre (Ufac). Assim posso começar economizando energia.

Luz verde

Para falar sobre alguma coisa, geralmente se procede pela sua definição. Claro, sempre que for possível, simplesmente para que todo mundo possa entender da mesma forma. Evita-se com isso que alguém interprete diferente ou fique perdido em ambigüidades. Por exemplo, concordamos que luz vermelha é perigo, fechamento do semáforo, por favor não adiantar. Se alguns entendessem que o fechamento se indica com a luz verde, olha, melhor nem falar...

Tempo e clima

Então, poderíamos concordar no seguinte: o clima fica definido pelas condições atmosféricas, que caracterizam os diferentes lugares do nosso planeta.

E também poderíamos  concordar no seguinte: o tempo fica definido  pelo dia-a-dia das variações nas condições atmosféricas. (Não estamos falando do tempo que se mede em segundos horas, anos etc.) Estamos falando nesse sentido:

- Como esta o tempo lá em Assis Brasil?

- Está chuvoso, faz muito frio. Leva um agasalho se vais para lá.

Mas para a mesma pergunta, passada uma semana ou mesmo um dia, você pode receber uma outra resposta:

- Tá fazendo um calor danado.

Esse frio e esse calor, na nossa fala cotidiana, entende-se como temperatura baixa demais e temperatura alta de mais  Simplesmente por costume!

O clima muda a longo prazo. É objeto de estudo da climatologia. Uma ciência interdisciplinar. O tempo muda de um momento para o outro. É objetivo de estudo da meteorologia. Uma ciência cujas aplicações de prognósticos são tidas em consideração pela população, a agricultura, a navegação aérea e marítima etc.

Meteorologia na Ufac

Há mais de 50 anos Rio Branco tem uma estação meteorológica e técnicos que abraçaram a meteorologia desde o Segundo Distrito, passando pela Estação Experimental (bairro que ficou com o nome) até o Campus Universitário. Os dados organizados e em processo de análise do comportamento das variáveis meteorológicas por mais de 30 anos são um aporte científico da união entre Ufac e Inmet.

Um laboratório com essa idade e sistemática na coleta de dados merece o maior respeito e se constitui em um dos patrimônios do povo acreano.

Zonas climáticas

Podemos dividir a Terra em diferentes zonas climáticas. Estas se definem, no primeiro ligar, pelo comportamento das chuvas e da temperatura. Para isso se tomam os valores médios anuais das precipitações e os valores médios anuais da temperatura, ao longo de muitos anos (por exemplo, dois ciclos solares de onze anos).

Cada uma das zonas climáticas está povoada por tipos particulares de seres vivos, tem uma biodiversidade adaptada à interação entre os próprios seres vivos e as condições atmosféricas do lugar. São os ecossistemas da biosfera.

Entre as zonas climáticas estão: a tropical, a subtropical, a temperada, a polar, a litoral, a árida etc. Por exemplo, a zona tropical se caracteriza por um regime de abundantes precipitações e altas temperaturas, como na floresta amazônica e nas selvas africanas. Muito diferentes das características no Pólo Norte e no Pólo Sul, que são zonas polares.

Na ocorrência das zonas climáticas intervêm a forma e orientação da órbita de translação da Terra em torno do sol, a composição da atmosfera e, principalmente, a radiação solar incidente.

Globalização

Com independência das zonas climáticas o clima está globalizado. O clima é um sistema que entrou na era da globalização desde o momento da formação da Terra, há cinco mil bilhões de anos (significa cinco bilhões de anos).

Comparemos este número com a população da terra - 6 bilhões de habitantes - e com os valores do socorro, em novembro de 1988, do Fundo Monetário Internacional (FMI) à economia do Brasil: 41,5 bilhões de dólares.

- Tudo bem, mas o que o Setem está fazendo sobre clima e energia solar?

-          Aguarda, prometo ir afunilando.

-          Então me fala “quem” globalizou o clima.

-          Precisamente a energia solar.

O clima global é governado pelo Sol. A radiação solar constitui um mecanismo de transporte ou transferência de calor (calor é energia, não temperatura). Detalhes à parte, a radiação solar é radiação eletromagnética, que se transporta desde o Sol até nós, viajando à velocidade constante de 300 mil quilômetros por segundo, fazendo o percurso em menos de 9 minutos. Interaciona com os corpos, podendo ser, em particular, absorvida, refletida e espalhada. Todos temos a experiência de que a radiação solar aquece os corpos.

Os líquidos e os gases recebem o nome comum de fluidos. A atmosfera é basicamente um fluido - mistura de gases -, mas também tem partículas, sólidas e líquidas, que são substâncias - umas sólidas e outras inorgânicas - em suspensão: aerosóis. Os rios e os mares não congelados são exemplos de massas de fluidos. Os fluidos “arrastam” o calor. Este “arraste” é outro mecanismo de transporte ou transferência de calor, chamado de convecção (não convenção).

Circulação dos ventos

O ar, sobre a superfície terrestre, esquentado pelos raios do sol nas zonas tropicais principalmente, sobe por convecção e depois se movimenta para as zonas polares. A concentração de ar nos pólos implica um aumento de pressão. Os trópicos ficam com baixas pressões e os pólos com altas. Diferença de pressão faz com que aconteçam ventos desde os pólos para o equador.

O sol é responsável por toda essa globalização. É uma constante busca de equilíbrio que se traduz na manifestação dos diferentes fenômenos meteorológicos, como são ventos, chuvas, diferenças de pressão, diferenças de temperatura, umidade relativa, nevascas, evaporação, evapotranspiração e demais condições atmosféricas. Todo esse movimento de massas de ar etc. origina o clima e acontece na troposfera (camada atmosférica até uma altura de 12 km sobre a terra). 

O que parece, é

Parece tudo demonstrado, mas não é. Se fosse tudo determinado direitinho, os prognósticos meteorológicos seriam uma beleza. Coincidiriam sempre com o esperado. Na realidade, existem muitos fatores e circunstâncias que são impossíveis de se ter em consideração na hora de imaginar um modelo de clima. Até o relevo do terreno influencia no clima. Aliás, dentre as zonas climáticas está também a de montanha.

*Doutor em Ciências Físico-Matemáticas, pesquisador do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera (LBA), Universidade Federal do Acre (Ufac)