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Diário de bordo

por petrolitano publicado 27/10/2011 10h19, última modificação 27/10/2011 10h19
Jornal Página 20, 21.03.2001

* José Cláudio Mota Porfiro

A Andorinha, empresa de ônibus interestadual, sem exceção, por dezenas de viagens que tenho empreendido, não foge à regra: é irresponsável, omissa, desleixada e vende um serviço de qualidade muito abaixo dos padrões das companhias do mesmo ramo de atividade do Centro-Sul.

Éramos sete. Perseguíamos - eu e minha troupe - dois destinos. Primeiro chegaríamos à belíssima São José do Rio Preto, Estado de São Paulo, para ficar por três dias, em visita a uma família de amigos de longa data. Depois o rumo seria o litoral norte fluminense, mais precisamente São Pedro d’Aldeia e Cabo Frio, na Região dos Lagos, onde tenho mais alguns amigos e parentes muito especiais.

Conseguimos fazer uma viagem agradável, no que se refere à segunda etapa. Mas na primeira etapa, a bordo de uma banheira da Viação Andorinha, as coisas foram realmente muito difíceis.

Somos nortistas pacatos, por conseguinte, a viagem é de pobre, é claro... Mas não era preciso tamanha humilhação, meus amigos!

Cuidado! Muito cuidado mesmo! É preciso prestar atenção em dobro, pois o desrespeito ao consumidor começa quando, no guichê, em Rio Branco, um sujeitinho com cara de muito esperto vende passagens em ônibus novíssimo, com ar condicionado, cafezinho, rodomoça, água mineral geladíssima, videocassete, assentos flutuantes, serviço de bordo e mais algumas dúzias de mentiras, posto que nenhuma promessa é cumprida e tudo é propaganda enganosa, ilegal, imoral, crime de lesa-pátria.

É pura verdade, sim. Fomos, vimos e comemos o pão que o diabo amassou. Sofremos bastante até São José do Rio Preto, por conta da irresponsabilidade de uma Andorinha que quase sozinha sempre fez verão por este Brasil afora.

O banheiro do velho ônibus exalava um mal cheiro insuportável, desde a partida, ainda em Rio Branco, tanto por descuido de quem deveria cuidar da higiene da banheira, como pela falta de água na descarga... O ar condicionado deixou de funcionar em Cuiabá e nós passamos mais de vinte e quatro horas pagando caro por um serviço cobrado antecipadamente... O barulho era ensurdecedor, uma vez que parte do compartimento superior de bagagens parecia estar solto... A água mineral tinha odor e gosto de cisterna velha, vinha morna e não era suficiente para aplacar a sede (devido o calor) dos passageiros, até que chegasse a próxima parada onde a comida, inclusive, no mais das vezes, é de péssima qualidade. A velocidade chega às raias da loucura e um tal Louro, motorista, quase mata a todos ao executar manobra de ultrapassagem em curva perigosa; o bólido enlouquecido - a banheira quente - corria a mais de cem quilômetros horários... A bagagem de um senhor de idade avançada seguiu para o Paraná, enquanto ele dizia querer ir para o Rio Grande do Norte... Pior é que os motoristas nada diziam ou justificavam, a não ser um que nos presenteou com alguns resmungos recheados de palavrões indizíveis. Não é mole! Experimentem!

Chegamos, enfim, exaustos, furiosos, a São José do Rio Preto. Ah, o chopp! Gostosíssimo! Mas não o suficiente para nos fazer esquecer as agruras passadas nas asas de uma Andorinha enjambrada.

Ao fim dos três dias, seguindo viagem rumo ao Rio de Janeiro, utilizamos os serviços excelentes de uma empresa de ônibus chamada Reunidas, onde tudo é impecavelmente primeiro mundo, dada a organização e o respeito com que o consumidor é tratado. O percurso é feito também por outra empresa tradicionalmente séria, a Viação Cometa.

Do Rio de Janeiro, seguimos para a Região dos Lagos (Araruama, Iguaba, São Pedro d’Aldeia, Cabo Frio, Arraial do Cabo e Búzios). Apesar do estresse próprio dos que dizem sobreviver em meio àquele caos que é a mal afamada Cidade Maravilhosa, sente-se o prazer de, em vinte minutos, respirar o ar puro da montanha, navegando tranqüilamente em naves rodoviárias da excelente empresa 1001. E que bacana!

Aquela é uma das regiões mais belas do mundo, em vista da disposição do relevo. Mar, praia e montanha fazem o cartão postal sem a necessidade da presença humana, que desvirtua a paisagem ao agir quase que tão somente para depredar. Tudo se encaixa segundo a ordem ditada pela natureza, exceto os preços próprios para enganar gringo e fazer turista brasileiro morrer de raiva. No mais, as férias se fizerem agradáveis posto que, enfim, pudemos viver as delícias que é ter alguns trocados magros disponíveis para o gasto com futilidades. Apesar das Andorinhas, fomos felizes por muito mais de trinta dias e ainda hoje.

Ao fim e ao cabo das férias, estava extenuado, fisicamente. O fator psicológico, no entanto, já estava novinho em folha, e pronto para as habituais escaramuças do dia-a-dia na UFAC.

Fazer o quê? Voltei de Vasp. É mais perigoso, não existe pressa, porém é mais barato!... Coisa de pobre que vive de correr riscos...

*e-mail: claudiogibiri@zipmail.com.br