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A política, os políticos e o povo

por petrolitano publicado 09/11/2011 15h01, última modificação 09/11/2011 15h01
Jornal Página 20, 22.11.2001

Raimundo F. Souza


Perguntado certa vez sobre que futuro eu previa para os meus descendentes, não hesitei e já fui descrevendo, em seqüência, aquelas declarações automáticas e ao mesmo tempo vazias, que sempre se repetem nessas ocasiões, ou seja, esperanças do tipo: que meus filhos tenham um futuro garantido - boas escolas -, consigam um emprego digno, construam famílias felizes, saibam conduzir e conservar as boas amizades, tenham sucesso na vida (pública e privada)...

Mas, falando sério, por tudo que existe de mais sagrado, não ousem entrar na política partidária. Pois, pelos anos já vividos, pelo aprendizado adquirido na vida e nos bancos da escola, pelas experiências acumuladas, enfim, pelo que posso denominar meus conhecimentos, e que certamente são os suportes para decidir sobre o que é mais sensato, mais lógico, mais confortável, menos prejudicial e mais digno, não consegui ainda encontrar e conviver com outra atividade ou profissão - se é que pode ser denominada de profissão - mais maculada, mais traiçoeira, mais desonesta, mais demagógica, mais falsificada e mais ilógica que o exercício do poder através da política partidária.

E o mais grave é que eles se intitulam e se apresentam oficiais representantes do povo. No entanto, na prática, o que se pode constatar são as manobras, as falcatruas, os conchavos e as defesas deslavadas dos interesses próprios ou dos grupos em torno da manutenção do poder.

Alguém pode achar essas declarações raivosas e exageradas e imediatamente deve pensar em algum político, do seu partido, um amigo de sua confiança e que por sua avaliação é honesto e está cumprindo seu papel. Então analise comigo: ele é da base governista ou da base oposicionista? Para começo de conversa, sobre qualquer uma a que pertença, já está defendendo interesses de sua bancada. Dessa forma, em qualquer demanda, mesmo em benefício dos seus legítimos eleitores, se contrariar o ideário do seu grupo, ele já terá dificuldades para defender.

Daí por diante, além dos interesses próprios pela manutenção do status quo, toda e qualquer ação dos políticos com mandatos, da categoria mais baixa ao cargo majoritário, todos defendem, quase exclusivamente, os pleitos que são de interesse para a perpetuação do poder. Se fosse o contrário, não seria necessário gastar tanto dinheiro com propaganda, divulgando as obras, os feitos - às vezes até os não-feitos -, buscando prestar conta de suas ações.

As obras, as atividades, as benfeitorias públicas, se realmente são ações que estão em sintonia com os interesses do povo, não precisam ser divulgadas insistentemente, pois o povo reconhece e no momento exato saberá agradecer. 

Alguns candidatos a cargos eletivos, certamente, analisando essas questões de atrelamento das atividades parlamentares aos interesses de partidos ou grupos, estão se apresentando aos eleitores como candidatos individuais, independentes e que, se eleitos forem, não vão fazer o jogo de interesse dos grandes partidos ou alas e conseqüentemente, empenhar-se em defender as demandas dos seus eleitores. Todavia, esquecem esses candidatos (lobos em peles de cordeiros) que um parlamentar pode até sobreviver sem partido como vereador, deputado (federal ou estadual) e senador. Mas as suas proposições em termos de projetos, emendas, defesa de demandas etc. não conseguirão sequer ser apreciadas, quanto mais aprovadas.

A única forma que algum político, mesmo de grande competência, pode atuar defendendo suas propostas e idéias na prática, conseguindo a apreciação, tramitação e aprovação, será através da negociação com partidos e/ou grupos e tendo a certeza de que algum compromisso já terá que ser firmado, ou melhor, algo ou alguma coisa terá que ser hipotecado em detrimento ou em pagamento da ajuda prestada pelas Vossas Excelências. Corrijam-me se eu estiver errado.

Eu gostaria muito que as atividades e ações dos nossos “representantes políticos” fossem diferentes, ou então que essa situação fosse modificada urgentemente, de forma que os políticos eleitos pelo voto popular, a partir dos próximos mandatos, trabalhassem de fato em benefício de suas cidades, municípios e Estados, buscando proporcionar melhorias de vida para o povo, especialmente os menos privilegiados.

Por enquanto, continuamos somente com a esperança, pois essa, para consolo dos excluídos, é a única difícil de morrer. No entanto, na pior das hipóteses, se a situação continuar nesse nível, vamos providenciar a montagem de ringues em cada casa de poder para oficializar de uma vez por todas essas contendas.