Alô, Raça Ruim!
Raimundo F. Souza
Sambando com raça, evitando arruaça, fazendo pirraça, com pouca cachaça, comandando a massa, tocando com graça, em busca da caça, se fazendo chinfrim, segura, Raça Ruim! Sem vaidade, tocando o pagode da melhor qualidade, com muita liberdade, fazendo sucesso na comunidade, o Raça Ruim de raiz vai tocando no ritmo e deixando saudade.
O grupo de pagode Raça Ruim, que na composição atual (Jamil, Robertinho, Vandinho, Giordane, Eduardo e Walker) começou há cerca de cinco anos, vem conquistando um importante espaço nas promoções e eventos realizados, como a segunda feijoada, realizada no último sábado, em convênio com o Hotel Inácio. Mais de trezentas pessoas saborearam feijoada à vontade e se divertiram com muito samba até as seis da tarde.
O ponto de encontro semanal, onde se pode conhecer o trabalho do grupo, jogar uma conversa fora e tomar uma cerveja, é o JB Grill, próximo ao posto da Caixa Econômica do Bosque, todas as sextas-feiras, a partir das 21 horas. O cardápio musical varia de Jorge Aragão, Zeca Pagodinho, Fundo de Quintal, Art Popular a Beth Carvalho, Demônios da Garoa e outras pérolas. Os comensais têm à disposição espetinhos variados, enquanto os indivíduos com boa saúde, disposição e alguns trocados no bolso usufruem uma gelada.
Ironicamente, o nome Raça Ruim não traduz as qualidades do grupo - alguém já afirmou que a raça é boa, no entanto, esse rótulo, herdado dos criadores do grupo (Raimundo, Adriálvaro, Carlos Franco, Carlos Eugênio, Gilson, Duda e Carbone na maestria), tinha a intenção de fazer uma paródia com a grande quantidade de grupos musicais incluindo a nomenclatura raça ao nome, como Raça Negra, Raça Pura, Raça, Pirraça... O nosso, então, passou a compor o elenco, todavia, apresentando-se ironicamente como uma raça de pedigree não muito qualificado.
Como afirmam os entendidos no ofício, no Brasil, para se batucar e entoar o samba, não precisa ser membro de nenhuma academia, basta um pouco de habilidade para fazer ritmo com a caixa de fósforos, aprender as letras e não atravessar na interpretação.
O Raça Ruim, certamente, foi além dessa fase primitiva dos cantadores de banheiro e batuqueiros de mesa de bar, aprimorando a arte de interpretar o samba, de maneira que suas habilidades e repertório permitem seqüências de duas a três horas a fio de bom ritmo, sem repetir músicas.
Em meio a esse bombardeio de informações veiculadas pelos meios de comunicação, não há tempo nem espaço para interpretar os acontecimentos sobre todas coisas. Pois, ao mesmo tempo em que estamos tentando entender as notícias sobre a guerra do momento, já se apresenta um fato da economia, outro sobre os assaltos, outro sobre a situação política, notícias sobre arte, denuncias de corrupção, desfile de moda, lançamento de novos CDs, apresentação de artistas etc.
Aproveitando esse burburinho, os artistas da música popular brasileira que têm acesso à mídia - também não são bobos - vão divulgando seus trabalhos, na grande maioria, sem muita criatividade, como é caso dos artistas e/ou grupos que exploram os axés ou interpretações coreografadas, as denominadas “danças da bundinha”, e aos poucos vão implantando junto à população, principalmente os jovens, o hábito de consumir a música de conteúdo vazio e ritmo repetitivo, sem criatividade ou mesmo vulgar. E essa prática vai também pouco a pouco se desvalorizando, deixando de lado e até contribuindo para o esquecimento da tradição, riqueza e beleza da boa música popular nacional.
O grupo Raça Ruim, apesar da sua humilde condição e situação amadorística, vem buscando resgatar a boa música brasileira no estilo samba, interpretando e divulgando o genuíno ritmo malandro nascido na África, mas que foi adotado e sempre será prestigiado por todo bom brasileiro. Quem não gosta de samba, bom sujeito não é... (Fones para contato: 9984-6410 e 9984-1150).