Dia Nacional da Cultura: no Acre, nada a ser comemorado
Dalmir Ferreira, artista plástico
Amanhã, segunda-feira, dia 5 de novembro, é o dia nacional da cultura, justa e atual homenagem que os brasileiros prestam àquilo que dá significação às suas vidas, sobretudo nos dias atuais em que afloram e se debatem pela sobrevivência as mais diversas culturas no planeta, sob um confronto implacável com as imposições imperialistas do capital, cada vez mais ávido por uma globalização que não aceita a diversidade.
No Acre, como de costume, pouco temos a comemorar, frente a lista de dívidas que se acumularam quanto à cultura.
Com três décadas de luta, nosso setor cultural amarga um caminho de avanços e recuos que nos deixa praticamente no mesmo ponto de partida. Nossos governantes sempre com os mesmos discursos e atitudes, que não escondem o interesse em manter uma população acrítica e passiva ante o desenrolar de sua história, reveza-se no poder sem maiores alterações no quadro.
Para que a posteridade disso tenha conhecimento, temos lutado contínua e incansavelmente por: - Um Conselho Estadual de Cultura (já criado desde a Constituição de 1989), que descentralizaria as decisões e daria representatividade às classes, nos permitindo a participação no planejamento de políticas culturais; - Um Museu de Belas Artes (também já criado, mas desativado sem explicações), capaz de reunir e apoiar a produção regional; - A criação da graduação em arte-educação (determinação legal que não é cumprida sem que ninguém tome nenhuma atitude), negligência que coloca a educação na condição de mera colonização. Isso só para citar as principais deficiências. As demais surgem como conseqüência da falta de interesse no efetivo apoio dos governantes a esta área.
Vivemos uma época de transição, onde os homens não mais conseguem esconder seus interesses de perpetuação no poder, que é o objetivo principal da política. Mais do que nunca fica claro que os discursos e as ideologias, ao se repetir exaustivamente nesse ou naquele refrão, apenas desgastam seu próprio significado.
Nossos governantes, independente de partido, têm, em geral negligenciado nossa cultura: o pouco que construíram foi derrubado. A cada mandato, um derruba o que o outro constrói, nada tem alicerce nem continuidade, e assim tem sido a tônica dominante nas três últimas décadas, parecendo referendar o equivocado princípio regional de que cultura não dá voto, por isso não vale investimento.
A sobrevivência dos raros projetos nesta área ficam por conta daqueles que tem a cultura como carma. Que lutam e no anonimato enfrentam as mais sérias dificuldades, abdicando muitas vezes de uma carreira profissional em outros centros, e conseguem apenas manter acesa uma pequena chama.
Somos uma população pouco educada para a cultura, pois esta não existe na escola. Além disso, somos pouco estimulados para seu consumo, pois a imprensa pouco informa desta área. Em geral apenas consumidores passivos daquilo que vai sendo imposto pela mídia, nos falta elementos para refletir à respeito. Nesse dia nacional da cultura, nos cabe uma profunda reflexão sobre nossa atual condição: A quem pode interessar a prolongada alienação que se estabeleceu? Que progresso é esse que não contempla a cultura? Estejamos certos de que cultura não se constrói com discursos. Que os povos que a negligenciam estão fatalmente fadados à escravidão ou ao desaparecimento.Jornal Página 20, 04.11.2001