Entenda o Islamismo
*José Mastrangelo
Cresce no mundo o interesse para entender o Islamismo, que, sob a forma mais radical, segundo alguns comentaristas, supostamente estaria por trás dos atentados recentes às torres em Nova Iorque.
Islã é a vernaculização da palavra árabe Islam, que significa resignação, submissão (a Deus). Aqueles que obedecem a Alá, considerando-o o único e verdadeiro Deus, aceitando a fé do Islamismo, são chamados de muçulmanos (de muslim, “aquele que se submete”, em árabe). O livro sagrado dos muçulmanos é o Corão (Qur’an) ou Alcorão, redigido em árabe, entre os anos 510 e 632. Ele contém a coletânea de tudo que foi revelado por Alá a Maomé (Muhammad). Seus 114 capítulos ou suratas só foram reunidos, pela primeira vez, alguns anos depois da morte do profeta.
Maomé é considerado pelos muçulmanos o último de uma série de profetas (na qual incluem Adão, Abraão, Moisés, Noé e Jesus) e à sua mensagem incorporou as “revelações” atribuídas aos outros mensageiros de Deus.
O Islamismo surgiu no começo do século VII e rapidamente se difundiu entre as tribos árabes, unindo-as em torno da mesma fé. Em poucas décadas, os árabes conquistaram um império, cujo apogeu se deu no tempo dos califados omíada e abássida, mas que se dissolveu a partir do século X. Por impor aos seus adeptos, junto a preceitos teológicos, um código de direito e de moral, um sistema político-social e uma cultura – que sintetiza elementos semíticos, persas, greco-romanos e outros, manifestada através da língua árabe – o Islamismo não pode ser considerado apenas uma doutrina religiosa. Nesse sentido, o Islã engloba três aspectos: religião, Estado e cultura.
Hoje, a religião muçulmana, é a que mais cresce no mundo e tem cerca de 1,3 bilhões de adeptos – um em cada seis habitantes do planeta. Concentra-se na Ásia e na África, mas tem seguidores nos Estados Unidos e na América Latina, inclusive no Brasil. Em São Paulo há mais de um milhão de muçulmanos, e mais de cem mesquitas e salas de oração, segundo a Sociedade Beneficente Muçulmana.
A civilização islamica teve a sua origem na península arábica (situada entre a Ásia e a África). Habitada por diferentes povos semitas (árabes, hebreus, assírios, fenícios e armaicos), organizados em tribos, a Arábia não tinha unidade política, estando dividida em clãs familiares. Mas os árabes tinham elementos comuns, como as crenças religiosas – adoravam cerca de 360 divindades – e uma língua comum. A cidade de Meca era um importante centro religioso, principalmente pela importância que para eles tinha a Caaba (“Casa de Deus”), uma construção que abrigava a Pedra Negra – um pedaço de meteorito – que teria sido trazida do céu para Abraão pelo anjo Gabriel.
Foi em Meca, no clã dos hactemitas, que nasceu Maomé, por volta de 570. Órfão de pai e mãe, nos primeiros anos de vida ele sofreu a miséria e passou múltiplas necessidades. No ano de 595, em uma viagem com o primo Ali, dono de caravanas de camelos, conheceu a rica viúva. Khadija e Maomé tiveram pelo menos seis filhos – dois meninos, que morreram cedo, e quatro meninas, a mais conhecida das quais é Fátima, que casou com Ali, o primo de Maomé tido como seu sucessor pelo ramo xiita do Islamismo.
Nessa fase, Maomé costumava refugiar-se em uma caverna, perto da cidade. É nessa caverna que, no ano de 610, escuta a voz do arcanjo Gabriel, apontando-o como o profesta de Alá (rasul Allah). Desde então e até a sua morte, ele recebe “revelações” orais, que acredita serem diretamente enviadas por Deus.
Por volta de 613, Maomé começa a pregar e passa a conquistar adeptos. Fala na existência de um Deus único, Alá, criador do universo e que no final dos tempos haverá de julgar os homens por suas boas e más ações. Insiste também no valor da prece e dos atos de caridade.
Embora a sua pregação fosse religiosa, Maomé passa a incomodar os ricos comerciantes de Meca com as suas críticas à vida suntuosa e fútil. Os omíadas perceberam que os novos ensinamentos representavam um ataque frontal contra o sistema encabeçado por eles.
A palavra de Maomé atraia sobretudo os descontentes com as desigualdades sociais, que tinham um consolo ao ouvir do profeta a certeza de uma vida melhor depois da morte, a defesa da igualdade e da caridade e o repúdio à usura.
Maomé, perseguido, refugiou-se no deserto. Os membros de seu clã foram sujeitos a pressões e os seus adeptos, maltratados e torturados. Em 617 ou 619, segundo as fontes, no que ficou conhecido como “o ano do luto”, morrem Khadija e Abu Talib. No mesmo ano um dos chefes omíadas, Umar ibn Khattab (Omar I), converte-se ao Islamismo e Maomé recebe importante ajuda dos habitantes de Yathrib, cidade localizada no norte de Meca.
Entenda o Islamismo nos aspectos: religião, Estado e cultura, para compreender melhor a “Guerra contra o terror” pela qual passa o mundo de hoje.
*José Mastrangelo é professor de Sociologia da Ufac