Terrorismo na universidade
Jaime Moreira
Não é só Osama bin Laden, de um lado, e George W. Bush, do outro, que promovem neste momento puro terrorismo, em suas múltiplas facetas. Aqui no Brasil, embora sem atentados sangrentos, ou bombardeios criminosos, professores universitários garantem um tipo de terrorismo, mais modesto, embora não deixe de o ser. A prolongada greve em que se envolvem atinge em cheio milhares de estudantes indefesos e causa prejuízos incalculáveis às famílias das vítimas tupiniquins.
Não se questiona o direito à greve, que resulta de garantia constitucional e precisa ser assegurado a todos os trabalhadores. Questiona-se, isso sim, a teimosia, para não dizer a agressividade com que este movimento está a ser conduzido. Os professores das universidades federais não querem arcar com a sua parte do ônus que assegura a estabilidade econômica, em benefício de toda a comunidade de norte a sul deste país. Estão na contramão dos interesses da nação.
É por isso que assumem postura intransigente, determinada mais por motivos político-ideológicos do que por simples questões financeiras. A greve atual não se limita a forçar reposição salarial; transforma-se em queda de braço com o governo FHC e, muito particularmente, com o ministro da Educação, Paulo Renato de Souza. Arrisca-se prever que o desfecho não virá garantir conquistas significativas para uma categoria de servidores elitizados, que exerce um corporativismo feroz, na defesa de privilégios que podem ser tidos como inadmissíveis para o povo.
Três meses após o seu início, a greve nas universidades impõe danos enormes para os estudantes. Dezenas de instituições confirmam o adiamento dos vestibulares. Algumas podem até cancelá-los para o primeiro semestre de 2002. Quem freqüenta cursos nessas universidades acumula atrasos no conteúdo didático que comprometem o semestre letivo. Na melhor das hipóteses a recuperação será de forma improvisada, no período de fé-rias. No caso específico da Ufac, as perspectivas são as piores possíveis, quando se conhece a precariedade do ensino que ministra.
Forçoso é recordar as dificuldades da maioria dos estudantes acreanos que só dispõem da Ufac para acessar um diploma de ensino superior. Dificuldades partilhadas com as famílias, em boa parte castigadas por orçamento apertado. Sendo assim dá para imaginar as frustrações e os prejuízos que essas pessoas estão a sofrer, por culpa exclusiva de uma minoria elitista que pouco se incomoda com os interesses comunitários. É mais do que hora de os professores da Ufac buscarem formas de levar adiante a luta por melhorias, sem prejudicar os alunos. A intransigência, intolerável em qualquer negociação, torna-se particularmente perniciosa dentro da sala de aula.