Detran: à guisa de sugestão
Raimundo F. de Souza
Falar sobre o sistema do trânsito urbano de Rio Branco significa descrever situações de irregularidades, de precariedade nas sinalizações, deficiência de efetivo para cobrir os locais mais problemáticos, fluxo complicado no centro da cidade, engarrafamentos que somente deveriam existir em cidades de grande porte, ruas sem as condições mínimas para abrigar a enorme quantidade de carros e uma capital que cresceu desordenadamente, preenchendo todos os espaços com construções e esquecendo que os veículos precisam também de locais para estacionar.
Em escala menor, todos esses problemas existem no trânsito de Rio Branco. No entanto, verificou-se uma melhora substancial nesse setor. As campanhas educativas são instrumentos da maior importância - precisam inclusive, ser efetivadas com mais freqüência, mas devem redefinir suas estratégias.
Não é de todo imprescindível, por exemplo, colocar moças simpáticas portando placas, cartazes ou outros recursos visuais, em horário normal de expediente, fazendo apelo para os motoristas trafegarem com menos pressa. Cenas como essa aconteceram, faz uns poucos meses, ali na estrada Dias Martins, nas imediações da antiga Cila. Essa clientela que vai e vem do trabalho, da escola, da academia, do mercado, é composta, em tese, de pessoas mais responsáveis, que dificilmente são imprudentes e com menor probabilidade de estar dirigindo sob efeito de bebidas alcoólicas ou outro entorpecente. O mesmo não se pode dizer, infelizmente, da profusão de bares, no centro e na periferia, onde nos fins de semana os homens de boa vontade estacionam ao bel-prazer e saem pilotando seus carros muitas vezes com uma mão no volante e a outra na lata de cerveja.
Em vários locais da cidade existem ocasiões, principalmente nos fins de semana, em que alguns motoristas estão transformando as ruas, em especial as asfaltadas, em verdadeiras pistas de corridas. Nesses pontos e horários, sim, a campanha deve atuar agindo preventivamente e, se preciso, até autuando os infratores. Do contrário, o Detran, embora bem-intencionado, estará desperdiçando tempo e dinheiro, insistindo em alfabetizar letrado.
Outro aspecto imprescindível para orientar o tráfego em qualquer cidade é a sinalização. O motorista, principalmente quem visita a cidade, não pode adivinhar onde é contramão, mão única, preferencial, proibição para estacionar, enfim, as sinalizações básicas que orientam o trânsito se não houver as indicações visuais. Nesse aspecto, Rio Branco é muito falha, existindo indicações - e ainda deficientes - apenas no centro da cidade.
Nesse trabalho de beneficiamento das ruas com asfaltamento, pontes sobre o Canal da Maternidade e outras benfeitorias urbanas, muitas ruas são interditadas, por motivo justo. Porém, a sinalização para orientar os motoristas geralmente é colocada em locais inadequados, ao nosso ver, pois somente depois de adentrar a rua interrompida, muitas vezes muito distante do acesso, é que se percebe a barreira, e essa situação às vezes coloca os motoristas em situações complicadas para retornar. Nossa humilde sugestão, portanto, é no sentido de que deveria haver na entrada da rua bloqueada uma sinalização meio aberta, dando a entender que naquela rua existe um impedimento de tráfego e apenas moradores podem trafegar até suas residências.
Estamos tecendo esses comentários sobre as atividades do Detran acreano não pela razão pura e simples de criticar suas ações nem de ser contrário à legislação de trânsito. Tampouco queremos ser confundidos com a turma do contra - se é que existe de fato essa confraria -, mas na qualidade de cidadãos que pagam impostos (a propósito, sobre esse aspecto do pagamento dos encargos aos proprietários de veículos, você pode escapar de receber correspondência com o pó branco enviada pelos meninos do Bin Laden, mas do IPVA, jamais).
Na última segunda-feira, por exemplo, a chuva castigou desde as primeiras horas da madrugada. A cidade amanheceu uma verdadeira Veneza às avessas - tudo alagado, ninguém se entendia, pistas escorregadias e o trânsito um verdadeiro caos. O Detran deve achar que é pedir demais se a população exigir a presença dos guardas nas ruas para orientar o trânsito. Mas é justamente nessas ocasiões de dificuldade que a instituição torna-se realmente muito útil e deveria estar presente para orientar e amenizar o fluxo no centro da cidade.No entender do usuário (motorista), não serão as blitze realizadas nos lindos dias ensolarados, em horário de expediente, atrapalhando o horário de muita gente, aplicando multas pelo extintor vencido, alguma lampadazinha queimada, ou ainda o calçado (chinelo) inadequado utilizado pelo condutor etc. (exigências que inclusive estão na legislação), que vão melhorar o trânsito, tampouco elevar o conceito do Departamento de Trânsito junto à sociedade. Podem servir, sim, para aumentar a arrecadação do órgão.
No entanto, as ações efetivas nas ruas, orientando, punindo os infratores abusados, o trabalho de conquistar a confiança dos motoristas etc., essas, sim, são atitudes que concorrem para elevar o conceito do Detran e tornar o trânsito mais humanizado. O guarda de trânsito, que também é um cidadão igual a qualquer outro, não deve ser visto como o “bicho-papão”, aquele que leva o condutor a tremer nas bases só em avistá-lo na esquina com um bloco na mão e um apito na boca. As autoridades dirigentes deveriam atentar para esse aspecto social e humanitário.