Motivos para a guerra
Os marines vão à guerra. Não se fala em outra coisa na televisão. Quer dizer, até se fala, mas o assunto volta sempre para a confusão entre os paladinos da paz e os filhos do mal. John Wayne não faria melhor papel, mesmo que ainda estivesse vivo e tivesse que viver mais um milhão de papéis de mocinho. George Bush é o xerife da hora. E nem precisa de um cavalo e um chapéu.
Confesso que me peguei em alguns momentos do meu final de semana refletindo sobre essa possibilidade de as armas mais uma vez superarem a razão (já aconteceu em inúmeras oportunidades, mas parece que ninguém se deu conta do prejuízo). E eu que sempre achei o Iraque um lugar muito distante, de repente me ocorre que longe não existe. É só questão de atentar para os ecos.
Aliás, a propósito dessa coisa de distância e de poder de fogo, já que eu falei em cavalo e chapéu, pensando bem, que saudades dos duelos ao pôr-do-sol, quando as balas poderiam no máximo encontrar o coração solitário do inimigo. Caso em que, com alguma sorte, um e outro (a bala e o coração) poderiam se apaixonar e ser felizes para além da eternidade.
Mas, por que seria mesmo que a América estão se voltando com tanta fúria contra os iraquianos, hein? Alguém poderia me dizer o que está por trás dos discursos oficiais ou das especulações dos adversários de Bush? Poderia? O petróleo dos seguidores de Maomé? O combate ao terrorismo? Sinceramente, não sei. Mas, enquanto escrevo, me ocorrem alguns motivos.
Um deles - o assassinato da ovelha Dolly. Embora na imprensa tenha saído que ela foi sacrificada porque contraíra uma doença pulmonar, informes secretos que eu consegui decodificar usando um antigo captador de fuxico de minha propriedade apontam para um atentado terrorista com armas químicas comandado por Saddam Hussein, direto de Bagdá.
Outro - a descoberta de uma missão de resgate da “egüinha Pocotó” (ordenada por Saddam, lógico e evidente), cujo nascimento teria se dado em local incerto e não sabido (provavelmente nas montanhas que dividem Iraque e Kuwait). Como os americanos não querem ficar mal na fita com os brasileiros, então o jeito é meter bomba na cabeça dura dos iraquianos.
Um outro - a tentativa de desviar a atenção da opinião pública internacional para a questão dos telefones grampeados na Bahia. Motivo esse que faz o maior sentido. Velhos aliados, Bush (que as más línguas dizem que adora um acarajé com bastante pimenta) não poderia deixar ACM ser crucificado assim impunemente. Solução: mísseis no rabo dos patetas.
Mais um bom motivo - não perder para os brasileiros, no tocante a essa iniciativa de erradicar a fome no país. Como americano tem mania de grandeza, a meta deles seria acabar com a fome do planeta. A ação poderia começar por qualquer lugar. Como não existe “rango” para todos, a saída seria extinguir os famintos. A escolha do Iraque teria sido aleatória.
Mais um outro (o último, por enquanto) - a revolta causada pela informação de que teria sido descoberto que Deus não é brasileiro, e sim iraquiano. Explicação: se a notícia se espalhar e todos passarem a acreditar nisso, os americanos perderão o status de vizinhos do paraíso. E aí, como é que ficaria a auto-estima deles? Nem pensar. Tem que matar o povo do Iraque. Rapidinho!
Como se pode ver, um motivo bom (independentemente daqueles alegados pelos homens com o dedo no gatilho e disseminados pela imprensa) é que não falta para os marines irem à guerra. Típico da história do sujeito que, na falta de um argumento para uma briga, chuta a própria canela e bota a culpa no vizinho. Tá explicado, então. Pelo menos eu acho.
* Francisco Dandão - fdandao@zipmail.com.br