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O mundo acadêmico contemporâneo e a UFAC

por Ascom02 publicado 05/12/2012 10h40, última modificação 05/12/2012 10h40
Jornal Pagina20.uol.com.br, 05 de dezembro de 2012
Escrito por José Porfiro da Silva
05-Dez-2012

Nas últimas duas décadas se tornou um marco ler introduções de textos bastante comuns e monótonas, com alusões às mudanças técnico-econômicas e políticas que deram os contornos daquilo que se conhece como globalização. Acompanhada a esta condição veio a massificação da noção de que a totalidade do sistema educacional é imprescindível para o desenvolvimento socioeconômico das nações, fato até então restrito, principalmente no âmbito das agências multilaterais, aos níveis de ensino fundamental e médio.

Paradoxalmente, nós, brasileiros, localizados na periferia do sistema político-econômico mundial, somos permanentemente submetidos a um fluxo de dados e informações dando conhecimento de que possuímos um dos piores sistemas de ensino, a exemplo do que constatou o recente estudo encomendado pela The Economist, analisando um conjunto de quarenta países.

E, nós acrianos, mais especificamente, fincados aqui na “subperiferia” de um sistema educacional periférico, apertados entre a celebrada sociedade globalizada (do conhecimento, da informação, etc.,) e as não correspondes qualidades educacionais, científicas e tecnológicas desta sociedade, sempre lembradas em diferentes programas de avaliações.

Na UFAC, temos muitos métodos e formas intuitivas de vermos essa questão, considerando a nossa situação de subperiferia. Os boatos construídos que circulam pelos corredores. As conversas que se estabelecem nos arredores das lanchonetes. As manifestações individuais nas redes sociais; às vezes, com aspectos de irresponsabilidades. As correias de transmissões de grupos ocultos, movimentadas por simples cabeças ambulantes de nossa comunidade universitária, metamorfoseadas em indivíduos solitários e agressivos.

Todas são situações do dia a dia expressam, de forma difusa, o que somos neste mundo atual – polarizado entre o fascínio da chamada sociedade do conhecimento e nossas condições reais desfavoráveis, distribuídas nas mais variadas prateleiras, imagináveis.

Noutra dimensão e região, lembro das conversas com o ex-reitor da universidade em que eu era aluno (2008-2011); o mesmo era vinculado a mesma unidade na qual eu estudava. Ele dizia, nós precisamos da participação e da crítica de muitas pessoas, principalmente daquelas responsáveis. Foi assim que construímos nossa grande universidade.

Uma vez, depois de sairmos de um seminário, acompanhei-o à uma reunião do Conselho Universitário. Surpresa total. O Conselho Universitário (CONSU) da UFAC tem mais de oitenta membros. O Conselho Universitário da UFRJ tem pouco mais de quarenta.

Quando lá cheguei, estavam presentes cerca de três dezenas e meia de pessoas. Tudo aconteceu de maneira diversa daquilo que eu já tinha vivenciado. De pronto, verificado exigências regimentais, logo começou pela apreciação da ata (todos já tinham conferido via eletrônica). As discussões, mesmo as mais delicadas, aconteceram em conformidade com o ritual da instituição. Estas diferenças (bastante visíveis, não sei se para melhor ou pior) de lá e de cá, pouco tinham a ver unicamente com o tamanho e a tradição das duas universidades.

A convivência de lá, trouxe-me uma grande tristeza. Em julho passado o professor A. Teixeira faleceu, vítima de um câncer. No entanto, as conversas e as comparações nos trouxeram não apenas um aprendizado acadêmico, estrito, mas, a possibilidade de melhor entender o sentido de uma universidade, como a UFAC, situada num mundo ainda muito diferenciado e diversificado, no espaço e no tempo.

Esta forma intuitiva de entender as universidades, incluindo a UFAC, a partir da observação comportamental, pode, também, ser substituída por outros meios. Para além das convivências, há um conjunto de lentes possíveis de serem escolhidas para examinar a dinâmica acadêmica contemporânea.

Muitas destas lentes se estabeleceram como interpretações dos modos de produção do conhecimento. Claro que elas têm mais relevância para (e nas) chamadas grandes universidades nacionais e estrangeiras, visto que nas pequenas muito pouca menção é feita a este tipo de questão.

Por exemplo, aqui somos geralmente abordados, nos mais diversos ambientes, com questões que têm pouca relação com a dinâmica acadêmica da instituição. Isso se explica por uma série de razões, muitas de fácil compreensão. Desde nossas fragilidades estruturais até às dimensões de nosso menor dinamismo acadêmico. De modo mais rústico, aí está inlcuído a forma tosca de como pessoas conhecidas discutem a UFAC nas redes sociais, constituindo num sintoma maior de nossa condição.

Mesmo assim, isso não nos impede de entender nosso lugar, por meio das lentes já existentes, das quais cada um possui uma coleção particular.

No campo do debate científico tecnológico, perdurou e predominou, por mais de quatro décadas e meia, desde a metade da década de 1940, a interpretação contida no relatório de Vannevar Bush, ciência: uma fronteira infinita. Aquilo que os EUA conseguiram na esfera do desenvolvimento científico e tecnológico, no pós-guerra, está associado com a influência que este relatório teve no arranjo da política norte-americana para esta área.

É no ciência: uma fronteira infinita que se legitimou a possibilidade do governo canalizar recursos para as atividades científicas, com o argumento de que o desenvolvimento científico e tecnológico era condição chave para o crescimento e desenvolvimento econômico e social daquele país.

Passados quase cinco décadas, o formato de produção científica e tecnológica defendido no relatório de Vannevar Bush (conhecido como modelo linear) foi subsumido aos novos condicionantes político-econômicos e sociais estabelecidos ao longo da década de 1980.

Assim, surgiram novas interpretações sobre o formato de produção do conhecimento, no princípio dos anos 1990. A Hélice tríplice e o modelo 2 (dentre várias outras) são as estruturas analíticas mais conhecidas e usadas em dezenas de trabalhos acadêmicos nas discussões das políticas científicas e tecnológicas recentes.

O modelo 2 estaria mais próximo de uma contraposição direta àquilo que foi proposto no “ciência: uma fronteira infinita”, da década de 1940, com o intuito de se formular um novo contrato entre a ciência e sociedade, diferente daquele que vigorou no pós-guerra.

A estrutura analítica da hélice tríplice é mais específica do que a do modelo 2. Ela está voltada particularmente para explicar como seriam as universidades numa sociedade baseada no conhecimento. Não é uma interpretação original para nós do hemisfério sul, pois, no final dos anos 1960, o argentino Jorge Sábato, em parceria com Natalio Botana, elaborou uma interessante ferramenta teórica sobre a dinâmica das políticas técnico-científicas – o triângulo de Sábato; naturalmente, com o peso de origem. Caso fosse criada noutro hemisfério teria, notadamente, outro tratamento na nossa academia.

Chama-me atenção um aspecto. Mesmo antes de participar ativamente de debates nesta área, percebi que estas são questões muitos comuns nos corredores das universidades do centro-sul.

Este ainda não é o nosso ambiente. A tradição, os costumes e as relações interpessoais determinam muito daquilo que debatemos nos corredores e nas instâncias decisórias. Mas, é evidente que os diálogos inter e intra grupos, intra UFAC e com o meio externo (indispensável), naturalmente levará a UFAC, muito lentamente, se transformar (e se adaptar) neste contexto contraditório da celebrada sociedade globalizada. Muito importante é que uma parcela significativa da nossa comunidade já entendeu essa questão, bem como o segmento externo. Somos reféns do tempo, neste caso.

Vamos explicar essa questão de modo mais detalhado ao longo do tempo. Grupos e indivíduos movimentam-se dentro da UFAC, o que facilitará o processo de publicização das  formas e dos assuntos que se discutem face ao mundo acadêmico contemporâneo.

Professor de Economia Internacional. Mestre pelo CPDA da UFRRJ e Doutor pelo Instituto de Economia da UFRJ. E-mail:jporfiro@yahoo.com.br. Tese: “Reduzindo os elos da cadeia: o constructo da política brasileira de inovação na era do consenso tecnológico”. E-mail: jporfiro@yahoo.com.br

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