A magia dos nomes próprios
A palavra “nome” vem do vocábulo hebraico shem e do grego onoma. E, segundo o Dicionário Aurélio, é oriunda do latim nomen, “vocábulo com que se designa pessoa, animal ou coisa”. Para Cícero, nome é o sinal característico que faz com que se conheçam individualmente as coisas. Enquanto para Mansur Guérrios, os antropônimos [nomes próprios de pessoas], quando surgiram, levavam consigo um significado que, em geral, traduzia qualquer realidade condizente com os indivíduos, seus portadores.
Numa visão filosófica, Aristóteles procurava a verdade das coisas na propriedade dos nomes. Para ele, o nome possuía a capacidade de traduzir o caráter da pessoa ou coisa que o traz. Para os babilônios, não ter nome era um sinal de não existir. Na Meso-potâmia e no Egito, a crença em torno do nome foi tamanha que o conhecimento do nome era tido por sagrado.
Por tanta complexidade em torno do nome, escrever sobre os nomes pró-prios, na contemporaneidade, é tarefa espinhosa, posto que quase tudo, nesse campo, a começar pela questão da referência e do significado, ainda constitui objeto de controvérsia ou nem sequer chamou a atenção dos lingüistas. O simples fato de saber se os nomes próprios têm ou não significado carece de uma resposta simples e universalmente válida. Há quem diga que o nome carrega os desígnios da pessoa que ele atribui. E para compreender um pouco essas trilhas, buscou-se apoio na Etimologia, Onomástica e Antroponímia.
Percorrer essas veredas é um verdadeiro fascínio, ainda mais quando se descobre o sentido e significado dos nomes. Por isso, talvez, toda vez que escrevo sobre esse assunto os leitores ficam alvoroçados querendo saber mais. E, esse artigo atende, em parte, alguns anseios, afinal o escritor vive para seus leitores. Todavia aqui não se vê nenhuma pérola e, tão pouco, o texto não responde às questões semânticas acerca dos nomes próprios. De toda forma, é um ponto de partida ou de chegada, como o leitor melhor entenda e aceite o artigo.
O mais interessante nesse estudo é o aspecto Social e Psicológico dos nomes, os quais refletem as civilizações passadas, com todas as suas instituições. Os nomes são criados sob o influxo religioso, político, histórico, e outras circunstâncias variadíssimas em que transparece viva a alma popular em todos os tempos e lugares. Dessa amplidão decorre o fato de a Igreja Romana, com base nas superstições do povo, exercer influência considerável sobre os fiéis no momento em que eles buscam um nome para impor aos filhos. Ela [a Igreja Católica] empenhou-se, sempre, desde os primeiros tempos, para que seus fiéis tivessem nomes santificados.
Vejam, então, que vem de longe a superstição de que o nome pode exercer influência no caráter e no destino da pessoa, ou seja, do seu portador. É bem conhecida a expressão proverbial dos romanos que diz: ‘nomen est omen’, isto é, “o nome é um algúrio”. Os romanos, por exemplo, denominavam o recém-nato Fortis, não porque o mesmo era ou parecia robusto, mas para que o fosse. Também, até hoje, andam por aí espíritos crédulos a dizer que o nome impõe à pessoa um conjunto de qualidades e defeitos que mais tarde fazem a sua personalidade. E, se assim é, há em cada nome uma espécie de predes-tinação, um conjunto de qualidades, boas ou más, que se verifica desde a origem até a contemporaneidade. Esses atributos, que o nome transporta, o leitor poderá, facilmente, conferir, se juntar o nome às pessoas e seus destinos. Vejam, por exemplo, os nomes:
Caio: Latim, significa feliz, contente e indica pessoa ambiciosa, de personalidade forte, que faz tudo ao seu alcance para progredir na escala social
Camilo/Camila: Latim, significa pessoa que nasceu livre ou de família nobre. Indica pessoa que trabalha com amor e dedicação e sempre se sai bem ao executar suas tarefas.
Carlos: Germânico, significa homem e indica pessoa que nunca deixa uma oportunidade passar em branco por estar desatento ou por ter medo de riscos. Significa “forte”, “varonil” ou “robusto”, porém doce ou suave.
Cássio: Latim, significa justiça e designa pessoa rigorosa nos seus julgamentos. Responsável e persistente, luta sem medo contra todas as dificuldades.
Clodovil: Teutônico, significa guerreiro célebre, pessoa que pensa grande e sonha alto.
Aldo: Teutônico, significa velho e sábio, pensa muito antes de fazer.
Francisco: Latim, significa aquele que nasceu na França.
Gérson: Hebraico, significa peregrino, estrangeiro.
Geórgia: Latim, significa mulher do campo, acomodada, natureza inquietante e manipuladora, instável na vida.
Glauce: Latim, significa açucarada, mulher gentil de grande força.
Lúcio: Latim, significa variante de lux, luz, nascido com a manhã.
Galvão: Gaulês, significa falcão branco.
Jacira: Tupi, abelha da lua, lua de mel, abelha noturna.
Jacó: Grega, tem o sentido de “enganar”, passando a significar “enganador”.
Iraci: Tupi: “mãe do mel, abelha rainha”. Variante: Iracy.
Isis: Egípcio: “espírito supremo, deusa suprema”. Jorge: Grego, homem trabalhador da terra, agricultor.
José: Hebraico, aquele que nasceu depois dos outros, aquele que acrescenta. Feminino: Josefina. Variantes: Jôse, Josefa.
Luís: Francês, derivado do germânico, significa guerreiro célebre. Variante: Luiz. Feminino: Luisa, Luiza.
Semanticamente os nomes próprios são muito distintos dos comuns: não descrevem propriedades, mas contêm uma forma que constitui o seu significante. Os nomes próprios constituem formas lingüísticas que, assim como os dêiticos e as expressões definidas, apenas referem. Ou seja, referem pessoas, dizem delas, identificando-as. Desse modo os nomes próprios indicam, apontam para certa pessoa, por necessidade de apelo, de descrição, ou como circunscrição a determinadas comunidades, identificam um indivíduo do outro.
Conclui-se dizendo que o nome é tomado como metáfora da própria pessoa. Apor o nome em um documento é concordar com seu teor. Os nomes são instrumentos de controle do mundo, e o significado deles pode dizer muito a respeito de uma pessoa. E mesmo que a gente não acredite que eles possam influenciar na personalidade, no temperamento ou qualquer outra característica, pelo menos é possível concordar com o fato de eles serem importantes na vida, fazendo parte da identidade, diferenciando uma pessoa de outra. E, dependendo da herança social, cultural, financeira de quem os tem, adquirem vida própria e impõem-se como meio de força, de persuasão ou de convencimento àqueles que, equivocadamente, estorvam a própria vida e também a de outros.
DICAS DE GRAMÁTICA
O PEIXE TEM MUITO “ESPINHO”?
- Cuidado! Peixe tem espinha. Veja outras confusões desse tipo: O “fuzil” (fusível) queimou. / Casa “germinada” (geminada), “ciclo” (círculo) vicioso, “cabeçário” (cabeçalho).
O INGRESSO É “GRATUÍTO”?
- Não! A pronúncia correta é gratúito, assim como circúito, intúito e fortúito (o acento não existe e só indica a letra tônica). Da mesma forma: flúido, condôr, recórde, aváro, ibéro, pólipo.
CHEGOU “EM” SÃO PAULO?
- Negativo! Verbos de movimento exigem a, e não em: Chegou a São Paulo. / Vai amanhã ao cinema. / Levou os filhos ao circo.
*Luísa Galvão Lessa – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montreal, Canadá. Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Pesquisadora Sênio da CAPES.( colunaletras@yahoo.com.br