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Exploração de xisto esquenta debate na 66ª Reunião Anual da SBPC

por Ascom-01 publicado 24/07/2014 14h20, última modificação 24/07/2014 14h20
Cientistas esperam recursos do governo para entrar em ação rede de pesquisa para avaliar impactos da exploração de xisto no País

Em debate realizado nesta quarta-feira, 23, na 66ª Reunião Anual da SBPC, pesquisadores consideraram “intempestiva” a investida do Brasil na exploração de gás de xisto sem mensurar os estragos que essa atividade pode proporcionar ao meio ambiente.

Sob o título “Os impactos socioambientais da exploração de petróleo e gás de xisto no Acre”, a mesa-redonda foi composta por Jailson Bittencourt de Andrade, conselheiro da SBPC e pesquisador do Instituto de Química da Universidade Federal da Bahia (UFBA); Luiz Fernando Scheibe, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); e Bianca Dieile da Silva, pesquisadora da Fiocruz.  O debate foi mediado por Umberto Giuseppe Cordani, da Universidade de São Paulo (USP).

Andrade fez questão de frisar que as principais reservas de xisto no Brasil estão nas regiões Sul, Oeste, Nordeste e Sudeste. Segundo disse, a extração do xisto não é uma tarefa simples pelo fato de o mineral estar abaixo de aquíferos importantes. Sua exploração acarreta vários danos ao meio ambiente, além de poluir a água potável de poços próximos ao local, em decorrência de agentes químicos utilizados para extrair o produto. Conforme explicou o professor da UFBA, para acessar o gás é preciso atravessar o aquífero, processo que requer uma tecnologia extremamente segura.

Exploração de xisto esquenta debate na 66ª Reunião Anual da SBPC

O gás é extraído por pressão hidráulica somada à mistura de agentes químicos. Esse procedimento também gera grandes demandas por água e exige recursos logísticos. “O local precisa de uma cadeia produtiva de água e de transporte de gás”, frisou Andrade.

Conforme Luiz Fernando Scheibe, para perfurar um lote de gás de xisto são necessários 20 caminhões bomba, em média, para jorrar água em profundidade e conseguir fraturar a rocha.  “É um processo complexo, dominado por poucas empresas no mundo.”

Scheibe criticou o fato de a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) ter previsto reservas ao redor de 500 trilhões de metros cúbicos de gás de xisto no Brasil “sem ter feitos grandes estudos por aqui”.

“Toda campanha geopolítica em torno do gás de xisto e a ideia de que os Estados Unidos podem substituir a Rússia no fornecimento de gás para toda Europa sem fazer gasoduto, levando gás de navio, só encontram respaldo na briga entre Obama e Putin. Mas não há uma base clara para isso”, disse Scheibe, referindo-se às relações conflituosas de Barack Obama, presidente dos EUA, e Vladimir Putin, presidente da Rússia.

Impactos nos EUA e na China

Com base em estudos da American Science and Technology, Jailson Andrade discorreu sobre os riscos na exploração do gás de xisto nos EUA, mesmo realizada com tecnologia de ponta. Os EUA apostam no xisto na tentativa de se tornarem autossuficientes na produção de gás.

“Os estudos mostram que em algumas regiões americanas o perfil de compostos orgânicos da atmosfera mudou depois do início da extração, em razão da emissão de gases, principalmente etano e metano. E mostram problemas em água potável, em poços próximos de locais da exploração. Vários metais alteram a composição de poços [de água] próximos a regiões em que há fratura nas rochas.”

Temendo consequências no Brasil, o pesquisador da UFBA lembrou de documento enviado no ano passado, pela SBPC e Academia Brasileira de Ciências (ABC), à Presidência da República, com alerta sobre os riscos e pedindo “uma moratória” na exploração do gás de xisto enquanto não ficarem claros seus impactos no meio ambiente.

“Infelizmente a exploração não foi interrompida, mas o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação montou uma rede envolvendo cinco institutos nacionais da área de energia para estudar os impactos. A rede foi montada, mas, para variar, os recursos ainda não chegaram”, reclamou o conselheiro da SBPC.

Ao avaliar o cenário, Umberto Giuseppe Cordani, pesquisador da USP, disse que o “Brasil está entrando nessa área de maneira intempestiva”. Apontando os riscos dos EUA na extração do recurso, lembrou que países europeus, como França, desistiram de extrair o produto temendo danos ambientais, enquanto outros países sugerem estudos prévios, como recomendam a SBPC e a ABC.

Demanda por xisto

Bianca Dieile da Silva, da Fiocruz, discorreu sobre os impactos da exploração petróleo e de gás na água para consumo humano. Ela questionou se há necessidade de o Brasil explorar o xisto, considerando que o País se prepara também para extrair o petróleo da camada pré-sal.

Bianca Dieile da Silva (Fiocruz).

Jailson Andrade destacou que a tendência do mercado mundial é de procura pelo gás de xisto, cujas reservas na América do Norte, América Latina e na Ásia superam as do gás convencional. Segundo ele, as maiores reservas de xisto estão na China, EUA, Canadá, México, Argentina, Brasil e África do Sul.

“As expectativas são de que o gás tomará uma dimensão imensa no consumo energético e, por tabela, no cenário geopolítico”, disse Andrade, para emendar: “Os Estados Unidos vêm trabalhando, há décadas, no gás de folhelho e conseguiram um sistema de fornecimento mais barato e seguro, conquistando uma independência em relação ao Oriente Médio.”

Para Andrade, a demanda é crescente por energia de forma geral. Hoje, o maior consumidor de energia elétrica é o carregador de celular. Dessa forma, ele recomenda a produção energética com sustentabilidade – “uma das palavras de ordem deste século”.

(Viviane Monteiro/ Jornal da Ciência)

 

Postado em: 24/7/2014