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Acreanos da última fronteira

por petrolitano publicado 25/01/2012 10h34, última modificação 25/01/2012 10h34
Jornal Página 20, 28.02.2002

Raimundo Ferreira de Souza


Por intermédio dos meios de comunicação, especialmente a televisão, já está se tornando habitual o Acre ser noticiado em nível nacional por conta dos episódios escandalosos. No entanto, é oportuno ressaltar que não desejamos que esse estigma se torne uma prática cultural.

Queremos, na oportunidade, alertar as autoridades, principalmente os políticos, que ao divulgarem alguma notícia percam essa mania de se reportarem a essas questões, pois, agindo assim, estão admitindo que os fatos ruins são coisas tipicamente acreanas e que raramente divulgamos notícias sobre as boas coisas do Acre.

Na última sexta-feira, assistimos ao Globo Repórter, intitulado “A Última Fronteira”, que documentou a Serra do Moa, com suas belezas naturais de tirar o fôlego. É interessante ratificar que os outros programas da série buscam sempre mostrar as belezas naturais de alguma região do Brasil ou de outros países, evidenciando as curiosidades, as coisas típicas e exóticas, os fatos pitorescos, mas enfatizando a possibilidade de exploração como pólo turístico, bem como a preocupação com a preservação do meio ambiente, não deixando de situar, no Estado ou país, a região documentada.

No caso da Serra do Moa, não sei de propósito ou sem qualquer intenção dos globais, foi documentada sem a devida situação geográfica no Estado, nem mesmo o município mais próximo (Cruzeiro do Sul). Ou seja, a grande e poderosa emissora mostrou a região como sendo um local sem as mínimas condições de sobrevivência, em que não se ouve falar de civilização, nem mesmo acreana. Um local de grande risco para a sobrevivência, onde se deve eliminar a onça que ronda a casa, buscando “almoçar” os moradores.

Isso não é verdadeiro. Quem conhece a selva acreana sabe que esse perigo existiu no início da ocupação, mas hoje a situação é bem diferente. (A propósito, a tal onça, cujo couro foi solenemente exibido, não é uma onça, mas um gato-maracajá, e, na pior das hipóteses, poderia até estar rondando a casa, porque esses animais se alimentam também da criação de galinha dos seringueiros.)

Sobre os hábitos de vida do pessoal do interior - mulheres que dão à luz sobre os cuidados da parteira, animais selvagens domesticados, falta da energia elétrica, atraso no recebimento das notícias do dia-a-dia -, essa realidade é verdadeira não só na Serra do Moa, mas em todos os seringais também do Vale do Acre que se encontram situados distantes dos centros urbanizados.

Quanto às possibilidades de exploração das belezas naturais - praias, cachoeiras, trilhas - como viabilidade turística, depois do que foi mostrado para Brasil inteiro, de forma alarmante, sobre os perigos que correm as pessoas que sobem o Moa com relação aos narcotraficantes, acredito que o sonho de transformar aquela região em pólo turístico foi para beleléu. No duro!

Sim, pois a imagem repassada para o país, infelizmente, confirmando uma brincadeira de mau gosto que as pessoas que não conhecem o Acre costumam fazer - “... lá só tem índio, mosquito e a onça anda no meio da rua” -, foi reforçada depois do Globo Repórter.

Seria oportuno, creio, que alguém responsável e interessado na divulgação da boa imagem, ou melhor, da realidade verdadeira do Acre lá fora, tentasse justificar tais distorções, buscando mostrar, inclusive, que essas questões particulares não representam a realidade cultural e histórica do Acre.