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Turista brasileiro?

por petrolitano publicado 25/01/2012 10h20, última modificação 25/01/2012 10h20
Jornal Página 20, 21.02.2002

Raimundo Ferreira de Souza


Novo layout e novo visual. É o Galinho de cara nova. Depois de quase dois meses - mais precisamente da ultima semana de dezembro até hoje - sem emitir opinião nesse espaço, confesso que estava saudoso. Pelo que tomei conhecimento, nesse período aconteceu uma forte chuva que inundou a cidade, um “lobo mau” foi caçado e não encontrado por todas as plagas juruaense e um carnaval que, afora umas centenas de bofetões, constitui-se no “carnaval da paz”.

Depois de todas as festas, natalinas e carnavalescas, tem início a temporada de trabalho, acabou-se a folga. Mas a Semana Santa vem aí, as programações já estão sendo esquematizadas. Na verdade, o que se programa mesmo são as folgas, o resto não passa de uma trabalhosa rotina que, para ficar mais maçante, ainda inclui como passatempo a grande atração televisiva importada “Big Brother Brasil” (a gente merece!).

E não devemos reclamar, pois, conforme podemos testemunhar, estamos protegidos por medida oficial - o aumento dos combustíveis, por exemplo, que já ia sendo aplicado, o nosso presidente impediu. Logicamente ele não iria deixar ser cobrado um aumento tão mixuruca, nós merecemos coisa melhor. Agora, sim, os preços foram liberados e o aumento - ou melhor, os aumentos - virá em seqüência.

Nesse início de ano, com a cara e a coragem, porque funcionário público tem que ser provido ao menos de coragem, enfrentei um “bus”, inchando os pés por quatro dias, e fui até Santa Catarina, curtir um pouco daquela ilha, obra-prima da natureza que é a bela Floripa. Praias lindas, águas cristalinas, mulheres bonitas, muito sol, frutos do mar, ambientes tranqüilos, visual maravilhoso, muito raramente ouve-se falar de algum assalto, entre outros atributos. No entanto, o pessoal local, os populares “barrigas verdes”, estavam insatisfeitos. Isso porque a clientela básica nas altas temporadas, nos anos anteriores, eram os argentinos, que derramavam dólar na ilha sem perguntar quanto custavam os aluguéis, a comida, a bebida, as confecções, o artesanato etc. Já neste ano, devido à crise por que passa a pátria de Diego Maradona, os hermanos portenhos não compareceram para aquecer o comércio.

É interessante esse ponto de vista mercantilista, que não consegue ver o turismo como lazer, como atração turística propriamente, mas  como uma atividade exclusivamente voltada para explorar o turista. Concordamos que o turismo seja uma atividade econômica de grande importância para o Estado, no entanto, a pouca freqüência do turista não retira a qualidade do turismo no que se refere às belezas naturais, ao lazer, à tranqüilidade. No caso de Florianópolis, a pouca freqüência dos argentinos, às vezes até abusados porque pagavam em dólar, causava era intranqüilidade. Este ano foi muito mais cômodo o uso das praias.

Assistindo a um noticiário na televisão sobre o carnaval da Bahia, constatei mais uma vez esse ponto de vista sobre a relação do turismo com as vendas. Na reportagem, vários comerciantes, tipo vendedores ambulantes, reclamavam que o carnaval este ano não tinha sido de boa qualidade, sendo inclusive inferior ao do ano passado. Ou seja, esses vendedores estavam se referindo às vendas, que tinham sido fracas e eles levaram prejuízo.

Diante de tal constatação, conclui-se que o mundo do comercio, a sociedade do consumo, avalia a qualidade da festa pela grande quantidade de vendas, pelos lucros obtidos. O bem-estar, a tranqüilidade do povo não importa, e esses lucros, esse consumo desmedido, principalmente em festividades, temporadas etc., está sempre e diretamente ligado à presença maciça do turista, ele é quem proporciona os melhores lucros.

E por falar em turista, vale ressaltar que o brasileiro no Brasil não é considerado turista. Quando se encontra fora de seu Estado e é abordado pelas pessoas, geralmente perguntam: “Estão passeando?”. Ou, ainda: “Estão visitando nossa cidade?”. E assim por diante...