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A lição dos dinossauros

por petrolitano publicado 30/01/2012 09h35, última modificação 30/01/2012 09h35
Jornal Página 20, 05.03.2002

Francisco Dandão


Li esses dias, em algum lugar por aí (ou então vi em alguma produção americana, ou sonhei de olhos abertos, sei lá), que os dinossauros dominaram a Terra (e o ar e as águas também) por mais de cem milhões de anos. E que só deixaram de dominá-la porque foram vítimas de uma gigantesca pedra assassina em rota errante pelos meandros do espaço sideral.

Li também (vi no cinema, sonhei, mirei ou coisa que o valha) que os referidos “bichinhos”, apesar da sua estrutura gigantesca, tinham um cérebro extremamente pequeno. Nada de raciocínios complicados, teses, teorias. Nenhuma palavra ou manipulação. Esquema algum de exploração ou acumulação. Puro instinto. Valores, somente os da sobrevivência.

Igualmente li (desnecessário repetir o parêntese da imprecisão, creio) que da dizimação dos dinossauros sobraram apenas alguns pássaros e pequenos mamíferos. E que da evolução desses mamíferos foi que sobreveio a espécie humana, há coisa de 2 milhões de anos, dotada de cérebros enormes (levando-se em conta o tamanho do próprio corpo, explique-se).

Por conta de tanta massa encefálica (os famosos “miolos”, para quem não domina a expressão) a preencher a caixa craniana é que foram estabelecidas todas as diferenças. Palavras, medos, rancores, mitos, fantasias, sistemas de poder e mais as reticências de praxe em situações assim de incapacidade de fazer uma lista por demais extensa.

Pois sim. E daí? Qual é o problema? Que é que tem se os dinossauros foram extintos (de lá para cá já se passaram cerca de 65 milhões de anos) e se nós, bípedes pensantes, é que estamos por aqui hoje dando o ar da nossa graça? Azar deles, poderia dizer alguém mais apressado. E sorte nossa, poderia dizer um outro alguém de senso crítico mais descuidado.

O alguém apressado e o alguém descuidado, porém, ao estabelecerem os seus juízos nessas bases, estariam deixando escapar um detalhe (tem sempre um em qualquer situação, cujo esquecimento acaba atrapalhando o produto final) pra lá de importante, crucial mesmo: o fator comparativo do domínio temporal de uma e outra categoria (dinossauros e humanos).

Os gigantes de outrora, cérebro diminuto e incapacidade para convencimento oral, foram senhores por cem milhões de anos. E não fosse o céu despencando sobre suas cabeças, ainda estariam por aqui. Os inteligentes de hoje, por sua vez, um par de milhões de anos depois, têm dado mostras de que não vai ser preciso a queda de nenhum meteoro para atingir o mesmo fim.

Tô mentindo? Pois então, você aí na frente desse papel duvidando dos meus devaneios, me responda rapidinho. Quanto tempo mais você acha que ainda vai passar até que um autodenominado protetor das liberdades e direitos individuais resolva disparar as armas atômicas sob seu controle sobre os territórios dos contrários à suas determinações? Hein?

Viu como a coisa é séria? Aposto como depois da minha pergunta a sua primeira reação, leitor, foi lembrar do World Trade Center. E, por analogia, dos tios George Bush (um dos poucos americanos que consegue se engasgar comendo biscoito) e Tony Blair (descendente direto do cruzamento entre James Bond e Yoko Ono). Ambos candidatos ao Nobel da Paz (???).

Sei, você também pode, instintivamente, ter olhado para cima, procurando um ponto luminoso seguido por alguma espécie de zumbido suspeito. Fosse isso mesmo, dependendo do lugar para onde o artefato destruidor estivesse direcionado, não teria dado tempo nem terminar o texto. E, nesse caso, a essa hora só quem o estaria lendo seria uma turma de baratas.

É por isso que eu não me canso de dizer, quando entro numa discussão sobre essa polarização moderna entre o bem e o mal, mediada pelo poder atômico, “ao vencedor, as baratas”. E quanto à comparação dinossauros/humanos, uma coisa, no mínimo, fica provada: capacidade de pensar nem sempre é sinal de inteligência... Ou de bom senso.