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Casa dos artistas

por petrolitano publicado 30/01/2012 10h06, última modificação 30/01/2012 10h06
Jornal Página 20, 22.03.2002

Beneilton da Silva Damasceno


Todo jornal que se preza faz questão de explicar, lá no rodapé do seu expediente, que os artigos assinados não traduzem, necessariamente, a sua opinião. É gratificante se sentir digno de tamanha liberdade. E é dela mesma que eu preciso lançar mão para, se o tempo permitir, abrir meu coração cidadão para reclamar, declamar, conclamar e proclamar minha completa decepção com o estágio político que o Estado do Acre tem vivenciado nos anos recentes. Mais precisamente de 1999 para cá.

E vou logo direto ao assunto, leitor amigo.

Daqui a uns sete meses, passada a ressaca da Copa do Mundo, o país vai ser sacudido com a realização de eleições gerais para diversos cargos de representação popular, de presidente da República a deputado estadual. Pois é a respeito dos ocupantes da Assembléia Legislativa acreana que eu quero manifestar meu ponto de vista. Sem o menor propósito de suscitar polêmica, declaro - e repetirei, se a necessidade impuser - que, nos meus vinte e quatro anos de eleitor, nunca conheci uma legislatura tão contraproducente quanto essa atual.

Excetuando-se uns três ou quatro parlamentares de alguma forma comprometidos com os interesses do proletariado, o que sobra não faz jus ao ordenado que recebe. Não faz jus! As discussões (no sentido de bate-boca mesmo, de intriga, de fuxico, de baixaria) têm sido o mote da augusta Aleac desde os primeiros meses de 1999.

Poucas foram as sessões da Casa que não registraram agressões verbais, acusações mútuas, injúria, ameaças ao colega de profissão, picuinhas... Isso para os que se atrevem a articular frases. Os outros dezoito ou vinte apenas respiram e concordam. Nem para reclamar servem. Ao menos se dão o trabalho de redigir um memorando, por preguiça ou por inapetência. Ou as duas coisas juntas. Citar nomes? Não cito, ora! Cada um dos “protagonistas” conhece bem a dimensão da sua mediocridade. (Se, porém, eu estiver agindo impulsionado pela emoção - e isso é possível -, de antemão peço desculpas aos ofendidos e com satisfação cederei este espaço para contestações. Tudo em nome da democracia.)

Outra vez recorro à prodigiosa memória do leitor para indagar se ele se recorda de algum projeto expressivo, em benefício da comunidade, elaborado nesse período. Se não estou enganado, lembro de um. Foi mais ou menos no ano 2000, quando o deputado Aureliano Pascoal propôs a criação do Palácio dos Esportes, entidade que congregaria as federações de diversas modalidades esportivas no Acre. A iniciativa ganhou elogios e destaque nos noticiários locais, mas por razões não esclarecidas acabou no buraco do esquecimento. Outras propostas de igual repercussão, encaminhadas pelo Executivo, só ganham ênfase quando surge a “ameaça” de pagamento extra, o famigerado “jeton”, estimulante financeiro preferido dos ilustres porta-vozes do povo sempre quando falta uma semana para o recesso parlamentar. É o legítimo “esforço concentrado”.

No ano passado, este Página 20 publicou magnífica reportagem a respeito dos trabalhos executados até aquele momento na Assembléia. Calculadora na mão, o repórter revelou, tintim por tintim, a quantidade de dinheiro destinada aos deputados, bem como uma penca de benefícios jamais concedidos aos barnabés da pátria amada, como auxílio-isso, auxílio-aquilo-outro. Na ocasião, a aritmética provou o extremo da obviedade: se a lógica tivesse vez, a maioria dos paletós e gravatas certamente dispensaria seus ocupantes sem qualquer cerimônia. O mais comovente da história é que esses amantes da sinecura planejam retornar ao emprego em 2003, com o beneplácito do zé-povinho. É o fim!

Sugiro ao mesmo noticioso que numa próxima edição reprise a excelente matéria, analisando a performance de cada parlamentar nesses trinta e cinco meses de atuação: os que subiram à tribuna, os que menos gazetearam as sessões, os que sequer abriram a boca para espirrar e, ainda, os que se levantaram da cadeira. Mesmo para ir ao banheiro.