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De homem pra mulher

por petrolitano publicado 30/01/2012 09h32, última modificação 30/01/2012 09h32
Jornal Página 20, 08.03.2002

Beneilton Damasceno


Século vai, século vem, e não aparece neste mundo nenhuma alma com coragem de atribuir a si ou a terceiros a autoria daquela máxima cretina de que a mulher é o “sexo frágil”. A julgar pela maneira inconseqüente de se expressar, deve ser um daqueles brutamontes que limpa as unhas com terçado, não suporta desodorante, não perde a oportunidade de alardear sua suposta masculinidade e se orgulha porque paga pensão a um monte de filhos que nem sempre conhece.

Há, todavia, uma corrente de defensores desse condenável rótulo, para quem o termo é uma forma “carinhosa” de se referir à sensibilidade da mulher. O problema é que, até onde eu observei, a maioria das mulheres abomina esse expediente mesquinho. E eu, no lugar delas, não teria atitude diferente. Na minha débil compreensão, o “frágil” da história tem uma conotação depreciativa – algo que traduz inferioridade, submissão, sujeição a uma figura imponente, dominante, intransigente, que só admite igualdade de direitos nos momentos em que se vislumbra uma finalidade “nobre”, de preferência debaixo de um lençol.

Longe de querer generalizar a classe à qual eu orgulhosamente pertenço, tampouco ensinar o “sexo forte” a relacionar-se com quem melhor lhe aprouver, permito-me a ousadia de, na condição de alguém que carrega no peito um coração arquigeneroso (eita, falta de modéstia!), enumerar algumas virtudes tipicamente femininas com as quais o planeta decerto não seria essa sem-vergonhice que a gente vê e reclama.

Leitor, responda (não precisa pressa): você lembra aquele dia em que foi destratado quando pedia uma simples informação? Não? Então lá vai outra: dos últimos dez acidentes de carro, dessas batidinhas bobas que só fazem atrapalhar o trânsito, quantas mulheres estavam envolvidas? Nenhuma? Esquisito, né? Mas não andam falando por aí que mulher não sabe dirigir? Sei não, mas acho que estão confundindo prudência com imperícia. Coisa absurda, meu povo! Última pergunta, para não irritar: eram mulheres ou homens os bandidos que invadiram sua casa, ameaçaram-no de morte, junto com a família, e levaram seu dinheiro, seus móveis, sua dignidade?

Talvez eu seja suspeito de me derramar em mesuras pelas mulheres. Afinal, convivo com três, às quais amo feito doido. Dos quatro moradores de casa, elas representam setenta e cinco por cento. Sinto-me confortado por ser minoria. Nunca fui (nem quero ser) pai de “filho homem”. Ou seja, não se ouve discussão sobre futebol, boxe ou pescaria. Não quer dizer que o diálogo familiar tenha por tema modelitos e decoração dos quartos (já pensou?). Mas creio que o modo como interagimos tenha influenciado a forma de me dirigir às pessoas. Falta muito para ser um lord, mas, se for preciso, cairia bem se chegasse lá.

Até aqui procurei, sem sucesso, não ser piegas. Foi impossível. Porém, como já decretei meu mea-culpa, resta-me aproveitar esse restinho de linhas para ratificar, nesta data tão importante para a humanidade, o meu dispensável carinho e respeito ao mais sublime produto da mão de Deus. Admiro vocês pela inefável ternura, pelo maravilhoso dom de perdoar, pela meiguice, pelo equilíbrio que nós, homens, em vão perseguimos, pela sinceridade, pelo sábio uso da razão.

Enquanto eu rudemente me esforço no intuito de produzir essa mensagem, milhares de mulheres em todo o universo neste instante estão sendo agredidas, seviciadas, humilhadas, tolhidas de expressar suas opiniões sobre como melhorar o planeta. Não custa nada deixá-las agir. E eu apostaria nelas. Mulheres desempregadas, mães, prostitutas, brancas, negras, índias, parteiras, presidiárias, juízas, professoras, jornalistas..., lembrem-se: vocês são maioria em qualquer lugar. Deus as abençoe.