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A UFAC e a ciência em benefício dos justos

por petrolitano publicado 31/10/2011 15h14, última modificação 31/10/2011 15h14
Jornal Pagina 20, 25/04/2001

* José Cláudio Mota Porfiro


Há dias passados, fui chamado pela Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários e Extensão, da Universidade Federal do Acre, a elaborar um ante-projeto objetivando assistência oftalmológica para jovens e adultos em situação de alfabetização nos municípios do Estado do Acre. É método meu, de início, elaborar um documento primário e, depois, levá-lo à apreciação dos meus pares na Academia. Assim o fiz. E assim, como sempre, deu certíssimo.

Temos envidado todos os esforços possíveis para a manutenção e o desenvolvimento dos projetos/programas de alfabetização de jovens e adultos, contando, para isto, com algumas parcerias dentre as quais podem ser destacados o Alfabetização Solidária, do Governo Federal, e o Telecurso 2000, em colaboração com o SESI - Serviço Social da Indústria.

Todavia, as dificuldades surgem no dia-a-dia dos que buscam nas demandas populares a satisfação de pelo menos parte dos anseios da sociedade. O momento por que passam as Universidades brasileiras é crucial. Vive-se hoje numa esquina do tempo onde o futuro é algo ainda mais indefinido do que normalmente seria. Os cortes orçamentários são drásticos e os problemas se avolumam.

Assim, há a necessidade premente de parceiros que, em convênio e em estreita colaboração, possam ajudar-nos a apontar saídas para a problemática social com a qual todos nos deparamos e pouco são os que lhes buscam as soluções.

A clientela dos programas de alfabetização levados a efeito pela UFAC é, a grosso modo, carente e não conta com uma assistência social tão eficaz que possa minorar-lhe os problemas, não obstante os esforços feitos nos últimos anos na esfera estadual. 

Se não bastassem as carências do espírito, ainda nos deparamos com aquelas que dizem respeito à questão física. Há uma porcentagem considerável - em torno de trinta e cinco por cento - de alunos de alfabetização que abandonam os cursos simplesmente porque os olhos não mais lhes permitem ver para buscar o conhecimento. São problemas oftalmológicos que nos têm tirado os alunos das salas de aula, quando, através da celebração de convênios com parceiros sensíveis ao problema, poderíamos, em pouco tempo, ter esta questão perfeitamente contornada.

Desta forma, os benefícios das ações deste projeto serão dirigidos aos alunos de alfabetização do módulo atual e aos egressos do Programa de Alfabetização Solidária, aos alunos do Telecurso 2000 - Tele-sala UFAC - e aos que têm vínculo com o PRONERA - Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária, em fase de instalação, cuja meta para 2001 é alfabetizar 1.800 alunos, residentes em áreas de assentamento do INCRA. O principal benefício, então, consiste em disponibilizar atendimento oftalmológico para esta clientela, além de prover meios que lhes facilitem a aquisição de óculos que possam corrigir-lhes os defeitos da visão e, assim, contribuir para com o melhor desempenho escolar, uma vez que as experiências de anos anteriores têm mostrado que é exatamente a falta de correção em defeitos da visão um dos fatores que se fazem desfavoráveis ao alcance pleno das nossas metas na alfabetização de jovens e adultos. 

Através do Projeto Ver 2000, já foram atendidos os municípios de Rodrigues Alves, Mâncio Lima e Manoel Urbano, contemplando os alunos atendidos pelo programa Alfabetização Solidária. Há ainda que serem atendidos, por meio desta proposta de intervenção, os municípios de Rio Branco, Tarauacá, Sena Madureira, Santa Rosa do Purus e Boca do Acre, onde a UFAC desenvolve atividades.

Como o número de oftalmologistas, no Acre, é mínimo, e tem sido difícil encontrar pessoas que possam participar de forma voluntária, estudamos a possibilidade da contratação temporária de especialistas que estejam fazendo residência médica (R2) na Universidade de Brasília - UnB, ou no Instituto Can Robert de Oliveira, em conformidade com uma agenda elaborada a partir de um acordo entre as partes envolvidas.

É, contudo, conveniente estabelecer uma parceria, para o propósito em questão, entre a UFAC, o Ministério da Saúde, o Programa de Alfabetização Solidária, a Secretaria de Estado da Saúde, as secretarias municipais e o INCRA/PRONERA, com a finalidade de levar a efeito a participação de médicos oftalmologistas que, vindos de Brasília, e/ou quaisquer outros Estados, aceitem a tarefa de contribuir para que, com a visão corrigida, os nossos jovens e adultos sem escolaridade possam atingir seus objetivos pessoais. 

O marco do atual programa do Ministério da Saúde, que objetiva levar médicos aos municípios das regiões mais necessitadas do Brasil, pode ser utilizado. Ademais, existem as bases que poderiam ser as mesmas do mencionado Programa, o que garantiria resultados positivos para mais este empreendimento em educação e saúde.

Enfim, é preciso considerar o espírito voluntarista do qual busca revestir-se esta proposta, onde a participação significará colaboração para com as pessoas de uma das regiões mais carentes deste País. Convém dar ênfase ao perfil de um profissional (oftalmologista) sensível às questões sociais, que queira enriquecer o currículo de estudos, através da participação em um empreendimento que significa solidariedade e tentativa dignificadora do resgate à cidadania dos nossos homens e mulheres da floresta.

Melhor, entretanto, é ver que, em tão poucos dias, o remédio surtiu efeito em ritmo vertiginoso. Já estamos podendo contar com os serviços de um oftalmologista designado pela Secretaria de Estado da Saúde do Acre para iniciar os serviços sugeridos nesta proposta. 

Alvíssaras! Muitos fazem por fazer com que a arte de Hipócrates, em realidade, vingue o propósito idealista da ajuda aos que dela necessitam, estejam onde estiverem.

José Cláudio Mota Porfiro é doutor em História e Filosofia da Educação pela Unicamp.