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Ciência e tecnologia

por petrolitano publicado 31/10/2011 14h44, última modificação 31/10/2011 14h44
Jornal A Gazeta, 17.04.2001

* José Mastrangelo


Qual é o papel das universidades na produção do conhecimento científico e tecnológico na Amazônia? A resposta a essa pergunta será amplamente debatida durante o Encontro Nacional de Ciência e Tecnologia na Amazônia, que, sob a coordenação do Sindicato dos Professores da Universidade Federal do Acre, realizar-se-á em Rio Branco, Estado do Acre, nos dias 18, 19 e 20 deste mês, no Anfiteatro Garibaldi Brasil/Ufac.

Segundo os seus organizadores, a questão da ciência e tecnologia é tão grave e complexa que exige de todos nós, comunidade acadêmica e movimentos sociais, um debate amplo, aprofundado e democrático para que não sejam ampliadas as desigualdades sociais e a dependência tecnológica a que estamos submetidos e as possíveis conseqüências das políticas de ciência e tecnologia para a população brasileira e Amazônia.

Ciência e tecnologia representam fatores básicos, essenciais de produção nos tempos atuais, quando vivemos em um mundo onde a dependência científico-tecnológica pode determinar a dependência econômica e a perda da soberania, além de se impor como um agente perpetuador da pobreza e da injustiça social.

Portanto, constitui-se em grave subterfúgio político insistir na neutralidade da ciência e no não reconhecimento de que os resultados decorrentes de sua elaboração têm sido progressivamente monopolizados e transformados em instrumentos de disputa de grupos econômicos.

Na comunidade acadêmica mesmo, é comum separar, como se isto fosse possível, os docentes em pesquisadores e sindicalistas, ou militantes, o que necessitamos urgentemente superar para não só discutirmos a ciência a serviço da sociedade humana, como também para mudarmos os métodos de construção do conhecimento.

No Brasil é frustrante a situação dos investimentos e dos critérios de decisão em ciência e tecnologia. Além da redução dos recursos por conta da política adotada por FHC, continuamos submetidos a decisões imediatistas e perniciosas, que contemplam preferencialmente a aquisição de pacotes tecnológicos no exterior, a abertura indiscriminada para o capital estrangeiro e a busca, muitas vezes cega de inovações.

No Acre não é muito diferente. O Estado prefere importar pacotes tecnológicos, de acordo com seus interesses conjunturais, no lugar de apropriar-se e valorizar o que é tão bom quanto o de fora.

A tecnologia tem sido apresentada como mercadoria, como um pacote técnico ou como um meio de intervenção social e política. Como conseqüência imediata, pode-se, via desenvolvimento científico-tecnológico, controlar, de alguma forma, o uso dos recursos naturais e dos recursos energéticos, a posse e distribuição da terra, a divisão e o uso do trabalho e a distribuição de renda, além de possibilitar a interveniência na política das sociedades. Nesse sentido, assume relevância discutir o papel estratégico do desenvolvimento de tais políticas de ciência e tecnologia para a região amazônica.

Discutir então ciência e tecnologia na perspectiva de construirmos uma universidade pública, gratuita, democrática e de qualidade social, certamente será, por um lado, buscar novas respostas para velhas questões como: que motivações tem a introdução de invenções e inovações nas relações humanas e na economia? Continuará sendo a taxa de lucro? Qual é o custo social das inovações e invenções? Não existe a necessidade premente de se levar em consideração os possíveis efeitos sociais da ausência de trabalho com a adoção das inovações? Qual é o papel do sindicato e dos movimentos sociais na aquisição de uma concepção de ciência e tecnologia comprometida com os caracteres sociais e naturais do Brasil e da Amazônia?

* Professor de Sociologia da Ufac