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Raça Ruim: o melhor do pagode

por petrolitano publicado 31/10/2011 15h17, última modificação 31/10/2011 15h17
Jornal Página 20, 26.04.2001

Raimundo F. de Souza


Segundo os entendidos da arte sonora, o brasileiro, ao longo de sua história, tem sido um povo musical por natureza. De Villa-Lobos a Pixinguinha e tantos outros criadores geniais, o denominador comum tem sido a feliz e boa mistura de movimentos eruditos e populares, indígenas e africanos, europeus e americanos, tradicionais e de vanguarda.

No entanto, após o movimento da Jovem Guarda, com exceção de alguns artistas, a música brasileira, principalmente a popular, vem perdendo qualidade e sendo descaracterizada do contexto tradicional da boa música brasileira.

Não sei o que aconteceu com a criatividade dos artistas brasileiros, que na maioria lançaram discos ainda em long-play, com musicas de boa qualidade, há quinze ou vinte anos, e hoje, apesar das facilidades da tecnologia que permite a gravação de alta qualidade por baixo custo, não conseguiram mais criar um repertório de músicas de qualidade para lançar em CD.

Existem artistas brasileiros de renome cujos fãs já compraram cinco ou seis CDs, acreditando que estão adquirindo lançamentos, e quando vão conferir são todos iguais, com as mesmas músicas antigas.

Entre os movimentos que tentaram emplacar criando um estilo de música de consumo, apareceu a lambada, oriunda do Norte, especialmente de Belém; o pagode, com raízes nas favelas cariocas; o sertanejo, com inspirações na música caipira nordestina, mineira e gaúcha; o axé music, no estilo dos timbaladeiros baianos e, ultimamente, o rap e funk, originados da música americana, mas nacionalmente popularizados nas favelas cariocas.

Em todas essas manifestações existem músicas boas e ruins e, de alguma forma, foram e estão sendo divulgadas por todo o Brasil. Algumas canções eternizaram-se e outras desapareceram. Ou vão desaparecer definitivamente. A verdade é que, tangido pela propaganda massificante, independentemente do estilo, as vezes os artistas vendem alguns CDs e até ficam ricos, mas são ondas passageiras. Com o passar do tempo, somente se perpetua a boa música.

A música, para se eternizar no gosto popular, necessita ser de boa qualidade e executada por bons intérpretes. Conforme acontece em vários Estados brasileiros, aqui no Acre não é diferente.

Vários jovens se agrupam e aparecem na forma de bandas e grupos amadores, que começam juntando-se em alguma casa, depois passam a se apresentar em aniversários e terminam por entrar no circuito da noite, domingueiras, festas natalinas, comícios, ganhando alguns trocados para comprar instrumentos e livrar o dinheiro da cerveja, porque ninguém é de ferro.

Toda essa trajetória foi e está sendo percorrida pela grupo de pagode Raça Ruim, que, ao longo de sua existência, iniciada ao uns cinco anos atrás, animando rodadas de cerveja e aniversários, hoje se encontra interpretando um pagode da melhor qualidade nas principais casas de festa da capital.

Sabemos que existem várias bandas de boa qualidade em Rio Branco: Versátil, Alma Gêmea, Mugs II, Sam Brasil, Appaloosa Country, Raio X, entre outras. No entanto, são bandas que buscam interpretar as músicas no estilo das grandes bandas brasileiras, utilizando inclusive a moda das dançarinas no palco e o gingado dos cantores e, ainda, interpretando as músicas que estão sendo cantadas pelo público jovem, com se diz na gíria, “que estão na boca do povo”, sem qualquer seleção ou preocupação com qualidade. Se por exemplo amanhã, em vez de tapinha na bunda não dói, passar a ser, “sentar no preguinho não dói”, os jovens passam a cantar e as bandas embarcam na onda, ou seja, a juventude, juntamente com os artistas musicais, são todos filhotes da televisão e não demonstram qualquer resistência nem disposição para mudar o hábito, buscando elevar o nível cultural dos jovens através da boa música brasileira.

Nesse particular, procurando se manter interpretando e defendendo o que existe de melhor do samba e pagode brasileiro é que se fundamenta a defesa em favor do grupo de pagode Raça Ruim, que desde o princípio vem primando pela manutenção e disseminação da boa música brasileira entre a juventude acreana. Atualmente o grupo está formado por sete componentes: Giordane (cavaco), Vandinho (repique de mão), Walker (surdão), Robertinho (Pandeiro), Marcelo (Tantam), Jamil (Tantam de corte) e Eduardo (xeque-xeque).

Atualmente, o Raça Ruim interpreta com muita perfeição, o famoso pagode de roda em estilo carioca com muita ginga e malandragem, onde cada instrumento tem uma grande responsabilidade na interpretação para se manter a perfeição na apresentação das músicas.

A diferença entre o grupo e as bandas, é que nas bandas existem várias instrumentos como contrabaixo, teclado, baterias, guitarras, metais, percussão e outros acessórios, que fazem um grande barulho e dessa forma a música passa a ser um ritmo linear deficiente, sem as particularidades que individualiza o som dos instrumentos e possa mostrar os detalhes da interpretação de forma mais nítida e perfeita, principalmente a interpretação do cantor, que passa a ser um barulho musical sem nitidez e entendimento da letra. Já no grupo, a música pode não sair para o publico com a freqüência em decibéis tão alta, mas, o som será ouvido de forma bem mais nítida e de melhor qualidade.

A banda pode fazer bem mais barulho, mas o grupo, principalmente quando é bem tocado, contém mais arte em suas interpretações.

Quem desejar conferir o que estamos relatando sobre o grupo de pagode Raça Ruim pode comparecer aos domingos no 14 BIS, a partir 17 horas, que se deliciará com a grande apresentação desse grupo que apresentará as melhores músicas dos grandes sambistas e pagodeiros, como Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Fundo de Quintal, Leci Brandão, Paulinho da Viola, João Nogueira, Jorge Aragão entre outros. Fone para contato: 224-1175 (Giordane).

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