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Sem tempo para sonhar

por petrolitano publicado 31/10/2011 14h34, última modificação 31/10/2011 14h34
Jornal A Gazeta, 11.04.2001

Mauro Ribeiro

Já pensei muitas vezes que esse tipo de política, praticado num Estado pequeno como o nosso, é extremamente danoso à sua gente. Aqui ela é ininterrupta, impaciente e escandalosamente agressiva, marcada pela intolerância mútua, pela agressão à honra das pessoas e pelo desrespeito perene  às lideranças políticas e às suas famílias.

Outra característica desinteressante é a falta de continuidade nas ações públicas, pois cada governante que assume descobre, antes de mais nada, que o Estado, em qualquer nível de poder, só existirá a partir de sua gestão. Investe-se tempo na discórdia, na desunião, como se fôssemos o paraíso da geração de novos empregos, centro de excelência em alternativas produtivas e região imune aos horrores do analfabetismo, das drogas e da violência urbana.

Se alguém chegar ao nosso Estado, hoje, terá a nítida impressão de ter desembarcado no aeroporto errado, em alguma cidade próxima à Cisjordânia ocupada, local do enfrentamento diário entre os judeus de Hebron e palestinos. Com o passar dos dias, decepcionado, contará quantos acreanos estão se enfrentando. Descobrirá, surpreso, que tanto barulho é feito por não mais que 15 pessoas, alguns até são ex-parceiros que parecem em disputa pela exclusividade da exploração dos recursos públicos, amesquinhando o debate político.

É triste lamentar, mas a falta de discussão sobre os rumos do nosso desenvolvimento torna entediante a convivência com essas políticas pontuais, do fazer mínimo, mais preocupadas em adornar beira de jirau. Até quando?

De dois em dois anos temos eleições, que parecem sempre as mesmas... os mesmos atores, as mesmas e graves acusações, igual desperdício de dinheiro e comprometimento das verbas públicas e, no meio das ruas, um monte de gente se engalfinhando, alguns defendendo posições ideologizadas, puras, outros explorando essa mesma boa fé dos comuns na defesa de interesses pessoais ou dos grupos que representam.

Haverá um dia em que as cidades irão acordar e descobrir que precisam mudar a política ou os políticos que as governam. Colocar na ordem do dia a solução dos seus problemas. Deixar para trás essa divisão idiota entre os que se pretendem puros e infalíveis e aqueles que não observam o tempo passar, que não modernizam o discurso e, sobretudo, práticas.

No próximo ano, quem sabe, a gente pode estar discutindo de forma civilizada o que fazer com o tamanho da nossa reserva legal, agora imposta em 805, com a distribuição e aplicação dos recursos públicos em programas que impulsionem o desenvolvimento ordenado, da periferia para os centros demográficos.

Será uma época propícia para o estabelecimento de um novo pacto político, que importe no combate absoluto à corrupção e ao desperdício do dinheiro público. Que redefina uma convivência respeitosa, que impulsione a participação popular na elaboração, acompanhamento e execução de obras e serviços, que devolva, enfim, o Acre ao caminho do seu crescimento.

Mauro Ribeiro é professor da Ufac.