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A ocupação da Amazônia: um sonho americano

por petrolitano publicado 09/11/2011 15h16, última modificação 09/11/2011 15h16
Jornal Página20, 05.12.2001

José Cláudio Mota Porfiro


É claro que a reportagem de Josafá Batista merece ser laureada. Está soberba! E estaria muito mais, não fosse a gravidade dos fatos tratados no dia 28 de novembro de 2001, neste Página 20

A questão da internacionalização da Amazônia deve ser analisada com mais acuidade, é claro, não apenas por repórteres bem intencionados, mas também por estrategistas políticos e militares. É preciso cautela nas afirmações, mas firmeza nas ações, posto que o mundo árabe, por exemplo, inclusive os que têm dinheiro, como a Arábia Saudita, os Emirados e o Kuwait, vive à mercê dos humores de Tio Sam

Ai de nós, oh pobre nação brasileira! Realmente estamos sendo tocados pela ganância e pela arrogância dos americanos. Nós lhes estamos devendo bilhões de dólares, mas não resgataremos nossas dívidas com a água potável da Amazônia... Antes, eles querem ser donos do inferno verde.

No que se refere ao tema, vejamos o que de mais grave encontrei nas rondas pela internet.  

Segundo a articulista Eudiene Martins, do jornal Brasil Norte, de Boa Vista, Roraima, de 23 de novembro de 2001, “livros didáticos americanos dizem que a Amazônia é deles, que a floresta passou ao domínio dos EUA porque está numa das regiões mais pobres da terra, reino de violência, povos ignorantes e primitivos”.

É fato conhecido de muitos brasileiros, desde algum tempo, que os livros didáticos usados nos Estados Unidos, cujo conteúdo é aplicado a estudantes com série semelhante à sexta do ensino fundamental no Brasil, têm uma página inteira, a de número setenta e seis, fazendo referência a um continente, incluindo toda a Amazônia que, segundo o livro, não é mais dos brasileiros. 

Com tradução livre do jornalista Júnior Brasil, vejamos o que diz o texto.  

Em meados dos anos 80, a mais importante floresta do mundo passou para a responsabilidade dos Estados Unidos e das Nações Unidas. Isso foi denominado FINRAF (Former International Reserve of Amazon Forest) e sua fundação se deu pelo fato da floresta está localizada na América do Sul, em uma das mais pobres regiões da terra e rodeada de países irresponsáveis, cruéis e autoritários. Ela era parte de oito diferentes e esquisitos países, os quais, na maioria dos casos, reinos de violência, comércio de drogas, intolerância e de povos ignorantes e primitivos. 

“A criação da FINRAF foi apoiada por todas as nações que formam o G-23 e é, realmente, um presente para o resto do mundo. A possessão dessas valiosas terras por países e povos primitivos poderia condenar o resto do mundo ao desaparecimento e à completa destruição em poucos anos. 

“A Amazônia tem, sim, a  maior biodiversidade do mundo. O valor dessas terras é imensurável, mas o planeta pode estar certo de que os Estados Unidos não poderiam deixar que aqueles países latino-americanos explorassem e destruíssem esse real patrimônio de toda a humanidade.”

Com um tratamento onde estão evidenciados o preconceito e a discriminação para com os amazônidas, os livros “ensinam” aos estudantes americanos que uma extensa área, abrangendo partes territoriais de Brasil, Bolívia, Colômbia, Venezuela, República Cooperativista da Guiana, Paramaribo e Guiana Francesa, que compõe a floresta mais importante do mundo, é agora pertencente aos Estados Unidos.

Mais nocivo ainda é notar que estas ações são parte de um grande plano que vem sendo colocado em prática em cumprimento a um cronograma que começa pela propaganda em livros didáticos. O cunho ideologizador   -  propaganda enganosa  -  incute nas crianças e nos adultos desavisados a justificativa para as ações futuras que certamente virão para promover a posse da Amazônia por parte dos americanos. Os passos seguintes, é claro, não são do conhecimento dos brasileiros, mas o exército americano já domina parte da Colômbia numa luta contra grupos guerrilheiros aqui bem perto da fronteira com o Estado do Amazonas. O que faltaria para os mariners descer ou subir o Rio Amazonas à cata de guerrilheiros fugitivos? Com tal justificativa, eles estabelecer-se-iam num ponto qualquer, à margem do grande rio, sob os aplausos do governo brasileiro e, paulatinamente, pacientemente, como num jogo de xadrez, iriam ocupando os espaços sob a segunda justificativa da pesquisa científica que visa preservar a Amazônia.

O governo brasileiro, então, já deu mostras do quanto e sobre como deverá agir em momentos como este. Quando, no Maranhão, cedeu milhares de hectares de terra para que se instalasse uma base de lançamento de foguetes em Alcântara, tivemos a prova que faltava: se depender dos social democratas do Brasil, não só a Amazônia, mas o pantanal, os pampas, o recôncavo baiano e o litoral nordestino serão um dia dos gringos. E serão propriedade deles com a outorga brasileira, visto que, se a outorga ainda não existe, é porque os passos que eles dão são muito cuidadosos. Primeiro eles se apropriaram da economia da América Latina e, depois, farão a ocupação territorial.  

É oportuno o alerta. Esta realidade é do conhecimento dos povos da Amazônia. São fatos denunciados por alguns representantes políticos e por personalidades locais, embora sem o eco que deveria reverberar nas esferas federais, uma vez que o lobby dos que defendem tais interesses é bem maior e com muito mais espaço na mídia nacional e internacional.  

Dentre as vozes dos que denunciam essa ocupação disfarçada, é oportuno destacar a do escritor Jamil Moisés Xaud Júnior, através do livro “A construção da realidade macuxi segundo a mídia”, publicado pela Editora DLM. 

Enfim, caros brasileiros da Amazônia, ou alguma providência é tomada, ou estaremos fadados a, em futuro próximo, pagar muito caro os royalties pela nossa própria água que haveremos de beber e pelo oxigênio que haveremos de respirar.

* e-mail: claudioporfiro@zipmail.com.br