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Processo de nascimento: uma visão para o futuro

por petrolitano publicado 09/11/2011 15h17, última modificação 09/11/2011 15h17
Jornal Página 20, 07.12.2001

* Josiana Bezerra Pequeno e
Francisca Patrício de Souza


O feminino é definido em nossa cultura pela relação com a maternidade, designando as mulheres como realizadoras de atividades reprodutivas. Os mitos em relação à gravidez são incontáveis, remontando aos tempos mais antigos, alterando-se de acordo com cada momento histórico.

A melhor justificativa da mulher consistia em explicar a especificidade de seu órgão, sendo o útero o detentor da feminilidade. Ignorava-se o indivíduo como um ser humano completo, sua necessidade de cuidado mais abrangente, não apenas com um órgão ou físico, mas buscando um equilíbrio entre o corpo, a mente e o espírito.

Com o passar dos séculos, as mulheres começaram a estabelecer uma imagem mais real do seu corpo, até então fluida e fragmentada, buscando a realização dos seus desejos, seus projetos e seu direito de ser sujeito.

Finalmente, com o advento dos métodos anticoncepcionais, a mulher passou a ter maior controle e autonomia sobre a concepção e sua própria sexualidade.

Não se pode negar que os avanços tecnológicos vêm detectando intercorrências em fases cada vez mais precoces da gestação, assegurando melhor qualidade de vida para a mãe e para o feto. Porém, essa mesma tecnologia, aliada a certas condutas hospitalares, pode criar um ambiente desumano, pois o parto passou de processo natural a um procedimento controlado. O lugar do nascimento mudou do domicílio para o hospital e, ao mesmo tempo, grande parte do calor humano foi eliminada.

A gestação é compreendida como uma experiência humana complexa, que extrapola a dimensão biológica. Ser mãe é um sonho alimentado por muitas mulheres, mas é preciso preparar-se para receber o bebê, escolhendo, inclusive, o jeito de trazê-lo ao mundo, tendo a oportunidade de parir da forma que melhor lhe convém, seja de cócoras, na posição vertical ou horizontal, e ainda tendo o livre-arbítrio para decidir sobre um possível parto cesáreo, sendo este último recomendado apenas nos casos em que, por algum problema, a mulher não possa dar à luz por meio de um parto normal.

O nascimento é um processo normal, natural e saudável. Atualmente, busca-se um atendimento hospitalar humanizado, no qual a mulher é assistida e tratada como pessoa principal “em cena”, a verdadeira condutora do processo de parturição.

Nesse tipo de atendimento, a mulher pode preferir ficar sozinha ou contar com a presença de um acompanhante durante o pré-parto, o parto e o pós-parto, podendo ser o seu companheiro, um membro da família, uma amiga ou vizinha, dependendo de sua preferência. Isso pode ser estranho para algumas comunidades onde a mulher, até então, esteve absolutamente sozinha com a equipe de profissionais de saúde.

Atualmente, existe a proposta de um retorno ao processo natural em várias partes do mundo. No Brasil, o Ministério da Saúde implantou o Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento, com o objetivo de reduzir as altas taxas de morbi-mortalidade materna e perinatal, adotando medidas que asseguram a melhoria da cobertura, da qualidade e da assistência ao parto e puerpério, estimulando o parto normal e orientando as pessoas quanto aos seus direitos de cidadania. A Humanização do Processo de Nascimento é um programa estratégico, que está alcançando bons resultados devido aos benefícios inerentes à mulher e à criança.

O Estado do Acre acolheu a Humanização, investindo em várias ações, como o Projeto de Capacitação de Parteiras Tradicionais, financiamentos de Cursos de Especialização em Enfermagem Obstétrica e realização de treinamento nas unidades hospitalares, como o curso de “Humanização na Assistência ao Parto”, realizado na Maternidade e Clínica de Mulheres Bárbara Heliodora, em maio de 2001, onde houve a participação dos profissionais da área.

Essa mesma maternidade concorreu com as maternidades de toda a Região Norte, recebendo o prêmio “Galba de Araújo”, representando a maternidade que mais se destacou no trabalho com a Humanização nessa região no ano 2000. Foi premiada também com o título “Hospital Amigo da Criança”, uma iniciativa do Ministério da Saúde e do Unicef, com o objetivo de incentivar o aleitamento materno exclusivo, reduzindo a mortalidade infantil.

Além disso, aqui no Estado, existem propostas a serem implementadas, como a Casa de Gestantes - que daria apoio às mães que moram no interior e necessitam permanecer nos centros maiores para realizar exames mais especializados -, Centros de Parto Normal, e um projeto chamado “Mães da Floresta”, que propõe estimular todas as gestantes a fazer pré-natal corretamente, melhorando o acesso e qualidade às consultas, vacinas e exames laboratoriais, além de capacitar melhor todos os profissionais que trabalham na atenção à saúde da mulher.

Por meio dessas iniciativas, as mulheres serão acompanhadas desde a concepção até após o nascimento do bebê. A mulher alcançará, nesse atendimento humanizado, a oportunidade de ter informações completas e atualizadas dos métodos disponíveis para dar à luz, orientações sobre os riscos e benefícios de todos os procedimentos e direito a um ambiente em que se sinta segura, respeitando-se seu bem-estar, sua privacidade, valores e crenças pessoais.

* Alunas do 2º Curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica da
Universidade Federal do Estado do Acre