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Saúde na UTI?

por petrolitano publicado 20/10/2011 11h48, última modificação 20/10/2011 11h48
Jornal A Gazeta, 11.02.2001

Mauro Ribeiro

A epidemia de dengue no estado, iniciada a partir de Rio Branco, provocou diversos efeitos colaterais e pitorescos na política local. Primeiro tornou evidente a necessidade de implantação de um amplo programa de saneamento básico para as nossas cidades, ainda que o Aedes aegypti tenha hábitos mais saudáveis que a sobrevivência em esgotos; depois, tornou imperativo que os eternos litigantes governo e prefeitura sentassem à mesa para encontrar uma solução eficaz e urgente, após um período de idiotia mútua na busca da responsabilização exclusiva, como se fosse mais interessante saber o nome do mordomo, do que o crime por ele praticado.

Agora, que a situação parece estar ficando sob domínio e o número de novos pacientes dengosos descrescendo, dá tempo de passar uma vista sobre a situação da saúde pública no Acre, tema mais que presente em qualquer crítica que se faça, a qualquer governo.

A pasta da Saúde é a pior para ser dirigida, na medida em que trabalha com situações extremas, quase sempre trágicas, e conta com recursos escassos em relação às necessidades da população, mas que são avidamente disputados pelos que conhecem os ralos das gestões fraudulentas. Além disso, a saúde no Acre – ou a doença – tem sido, junto com a construção de estradas, um pavimento perfeito para os que pretendem alçar vôos na política, sempre elegendo uma penca de médicos em todos os níveis de governo, a partir do sentimento de gratidão por um bom atendimento recebido na ausência de eficiência do poder público.

Ao indicar a Dra. Grace Castro para ser a responsável pela condução de tantas ações, o atual governo parecia estar atendendo mais às conveniências de coligados, do que propriamente à vontade do governador Jorge Viana. Notei, naquela época, um certo clima de desconfiança entre elementos do próprio governo ao ver a secretária sitiada por elementos que deviam suas nomeações a outrem. Pareciam duvidar da sua capacidade.

O trabalho começou e, junto com ele, toneladas de críticas e denúncias de superfaturamento de remédios, acompanhadas de uma mudança lenta nas relações dos servidores com os pacientes. Em função disso, e diante da necessidade da existência de bodes expiatórios para justificar a derrota nas eleições municipais, o sistema estadual de saúde foi prontamente responsabilizado pelo fracasso eleitoral dos partidos governistas, justificando, portanto, mudanças naquela chefia. Cometeram, no meu entender, dois erros simplórios, pois erraram o diagnóstico, trocando de paciente e propuseram uma profilaxia descabida, dessas que só serve apenas para tratamento de avestruzes.

Para mim, um dos setores em que a situação melhorou no nosso estado é o da saúde, mesmo reconhecendo que estamos longe do ideal. Não há porque negar, no entanto, as mudanças significativas que ocorreram e alteraram um quadro de coma profundo existente, ainda que a saúde pública só agora esteja deixando a UTI.

Não conheço a secretária pessoalmente, e sim por suas entrevistas e através da coleta de testemunhos sempre elogiosos ao seu caráter e à sua conduta, mas constato que ela é capaz de transmitir serenidade e segurança quando aborda os problemas que enfrenta no dia-a-dia, mesmo estando quase sempre no centro do furacão.

Sei que é raro ver as coisas positivas em um cenário de dificuldades, mas acho que é hora da gente começar a contrariar um estranho hábito provinciano de se estar sempre disposto a criticar e enxergar erros de todos os tamanhos e esquecer de valorizar a dedicação das pessoas que, em detrimento de sua vida particular e do convívio familiar, entregam-se com rara competência ao serviço público, dando sua colaboração para a melhoria da vida das pessoas.

Torço pelo sucesso de todos os que demonstram comprometimento e responsabilidade em suas tarefas, independentemente de quem esteja sendo o condutor do grande barco, e a ação da atual secretária de saúde só vem fortalecer uma teoria que ouvi de um bom amigo, à época senador da República, que dizia que as mulheres são, via de regra, mais eficientes e dedicadas no desempenho de funções gerenciadoras do que muitos homens.

Com tantos exemplos que a nossa terra tem oferecido, logo, logo essa teoria se transformará em paradigma para atuais e futuros exeutivos, despertando uma desejável disputa entre nós, homens, pela igualdade de méritos!!

Mauro Ribeiro é professor na Universidade federal do Acre