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A enfermagem e a evolução dos hospitais

por petrolitano publicado 10/10/2011 12h05, última modificação 10/10/2011 12h05
Jornal A Gazeta, 19.01.2001

* Nelson Deicke

 

Desde os tempos mais antigos, o homem adoecia e necessitava de cuidados. Nas comunidades primitivas, a doença era entendida como ação do sobrenatural, dos deuses, e os cuidados eram atividade mágica, realizados por xamãs, principalmente, e pelas mulheres.

Na idade média, o serviço de enfermagem era atividade caritativa, realizada por religiosas e leigos, com o objetivo de salvação das almas. Os hospitais eram lugares de exclusão dos pobres e moribundos, que necessitavam de assistência e representavam um empecilho na sociedade.

Até o final do século XVIII o saber médico não existia nas ações hospitalares e, assim, os hospitais não tinham a função de cura. Os médicos se limitavam ao atendimento nos domicílios das pessoas.

Com a complexificação do trabalho e sobretudo com a Revolução Industrial, os operários, soldados e trabalhadores passaram a receber formação técnica profissional, o que representou gastos para o Estado. Desta forma, não se poderia permitir que morressem por doença, depois de terem recebido treinamento para desempenharem estas atividades. Isto levou a pensar e planejar a função de cura dentro dos hospitais.

Mesmo depois dos médicos atuarem nos hospitais, estes ainda continuaram com problemas de sujeira, contaminação e promiscuidade, o que só vai melhorar na segunda metade do século XIX, com as influências da bacteriologia (Pasteur) e da assepsia (Lister).

A medicalização dos hospitais foi possível graças a disciplinalização das atividades, no que serviu de modelo à disciplina militar, introduzida nos hospitais marítimos.

Como qualquer outra organização, os hospitais foram aprimorando suas atividades e sofreram influências das teorias administrativas, desenvolvidas para responder às mudanças ocorridas no trabalho.

Isto fez com que as teorias da "Administração Científica", "Clássica" e "Burocrática" influenciassem diretamente na administração hospitalar. A exemplo: com divisão de tarefas, hierarquia, centralização nas decisões, escalas de serviços e especializações.

Os hospitais têm hoje a importante função de prevenir doenças - com supervisão e acompanhamento da normalidade da gravidez e do nascimento, controle de doenças infecciosas e educação sanitária - , restaurar a saúde, ser um centro de formação - com estágios para os que trabalham na saúde e residência médica -, e promover pesquisas biosociais.

Na atualidade, estão surgindo esforços no sentido de democratizar e descentralizar os serviços de saúde, dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), contando com espaços de participação dos usuários e profissionais de saúde, nos Conselhos de Saúde e nas Conferências de Saúde, em nível municipal, estadual e federal.

Além disso, vários profissionais de saúde têm empreendido esforços na tentativa de resgatar a dimensão holística do ser humano, dentro da assistência de saúde, vendo-o em seu todo, na dimensão física, social e mental e não como ser biológico que tem determinada doença em alguma parte do corpo a ser atendida em separado.

Assim, de um local sombrio, onde moribundos eram isolados para morrer, os hospitais foram transformados, no final do século XVIII, em locais de cura e de esperança para milhares de pessoas. Mesmo que hoje, no início do século XXI, ainda tenhamos fortes influências da burocratização, da fragmentação dos serviços e das constantes reclamações dos usuários pelas longas filas e dificuldades de conseguir atendimento, os hospitais fazem parte de um Sistema Único de Saúde que busca democratizar, descentralizar os serviços.

Neste novo contexto, a participação de cada profissional de saúde para um atendimento mais humanitário é imprescindível, para melhorar a qualidade de vida da população.

* Estudante do curso de Enfermagem da Ufac