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Cidadania cultural

por petrolitano publicado 18/10/2011 11h34, última modificação 18/10/2011 11h34
Jornal Página 20, 28.01.2001

* Dalmir Ferreira

No Brasil, de um modo, geral as principais modalidades de relação do Estado com a cultura, segundo Marilena Chauí, têm sido as seguintes:

A liberal, que identifica cultura e belas artes, estas últimas consideradas a partir da diferença clássica entre artes liberais e servis. Na qualidade de liberais, as belas artes são vistas como privilégio de uma elite escolarizada e consumidora de produtos culturais.

A do Estado autoritário, na qual o Estado se apresenta como produtor oficial de cultura e censor da produção cultural da sociedade civil.

A populista, que manipula uma abstração genericamente denominada cultura popular entendida como produção cultural do povo, e identificada com o pequeno artesanato e o folclore, isto é, com a versão popular das belas artes e da industria cultural.

A neoliberal, que identifica cultura e evento de massa, consagra todas as manifestações de narcisismo desenvolvidas pela mass mídia, e tende a privatizar as instituições públicas de cultura deixando-as sob a responsabilidade de empresários culturais.

Do lado dos produtores e agentes culturais, conclui Marilena, o modo de relação com os órgãos públicos de cultura, é o do clientelismo individual ou das corporações artísticas que encaram o Estado sob a perspectiva do grande balcão de subsídios e patrocínios financeiros. Essa afirmação da eminente filósofa, é um retrato verdadeiro da situação nacional.

No Acre, após mais de vinte anos da criação do único aparelho de apoio a área cultural, não se fugiu a esta regra, com o agravante de que a cada governo que construía alguma coisa, vinha outro e destruía. E mais ainda, nestes últimos, um tirou-lhe a sede, e o outro o nome, de forma que, os raros espaços que vão sobrevivendo sofrem o desgaste do abandono, da pulverização, e do isolamento que os torna quase inoperantes e incapazes de interagir com a comunidade.

A palavra "cultura", que recentemente se tirou da Secretaria de Educação, denota bem o interesse que ela causa aos educadores, ou seja, com uma educação que jamais se preocupou efetivamente com sua cultura, era óbvio que ambas, educação e cultura, criminosamente separadas, jamais chegariam a resultados melhores do que os que assistimos. E muito embora com as determinações constitucionais e de diretrizes da educação, insistimos em esperar, que venham até aqui, aqueles que criaram essas determinações para nos fazer cumpri-las, como se o nosso interesse seja o de permanecer como estamos.

Assim, com governos ora liberais, ora autoritários e ora populistas, assistimos a duas décadas de espera pelo despertar de uma nova consciência sobre cultura, uma mudança de mentalidade que nos permita superar as ideologias que nos adormecem, para que possamos perseguir nosso destino, exercendo uma cidadania cultural que nos permita a sobrevivência.

A cegueira das vaidades tem sido historicamente a derrota dos grandes em sua ânsia de crescer. Mas quanto aos pequenos ela é mais danosa ainda, pois os impede de nascer, ou de existir. E sei que aqui, alguns querem existir e até crescer, e também lutam por isso, mas são poucos, e ainda estão dispersos...

* Artista plástico