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Técnicos florestais, o Acre precisa deles

por petrolitano publicado 08/11/2011 15h40, última modificação 08/11/2011 15h40
Jornal Página 20, 17.07.2001

José de Arimatéa

Em agosto próximo terá início no antigo Colégio Agrícola, da Transacreana, a formação de técnicos florestais no Estado. Na verdade trata-se de um curso de pós-técnicos, pois preparará pessoal que já concluiu o curso técnico em agropecuária. Com uma base curricular ampla, o Curso formará pessoal para atuar basicamente em três áreas: Silvicultura, Manejo Florestal e Tecnologia de Produtos Florestais. Em termos mais simples, formará pessoal para trabalhar com formação de florestas (reflorestamento), aproveitamento econômico de florestas nativas (manejo florestal) e processamento de produtos florestais e não florestais (indústria).

Além de profissionais com formação de nível superior, a atividade florestal requer pessoal com formação de nível técnico, em quantidade proporcionalmente maior à de engenheiros. A FAO (Food and Agricultural Organization), um organismo das Nações Unidas, recomenda idealmente quatro técnicos florestais para cada engenheiro florestal. Mas nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento essa relação não tem sido alcançada. No Brasil, até por volta do final da década de 1980 existia um técnico florestal para cada dez engenheiros florestais. E essa relação não deve ter-se modificado substantivamente, pois enquanto novos cursos de engenharia florestal continuaram sendo criados, ultrapassando hoje duas dezenas, não houve incremento proporcional na criação de novos cursos de nível técnico.

Até o final da década de 1980, dezesseis cursos de engenharia florestal funcionavam no país, enquanto apenas um curso formava técnicos florestais, localizado na cidade de Irati, no Estado do Paraná, funcionando desde 1967, ligado ao sistema estadual de ensino. Posteriormente, a Escola Agrotécnica Federal de Rio do Sul, em Santa Catarina, abriu também a opção para técnicos florestais. Nos anos de 1990 surgiu outro curso, no Estado de Rondônia, mas foi desativado pouco tempo depois de formar as primeiras turmas. Hoje, o único curso de técnicos florestais que funciona na Amazônia localiza-se em Itacoatiara, no Estado do Amazonas, funcionando na Escola Agrotécnica Federal. Aliás, o Curso Técnico do Acre contará, no início, com apoio dos profissionais daquele Curso do Amazonas, que, diga-se de passagem, funciona em moldes bastante flexíveis, pois não tem um quadro fixo de professores. As disciplinas são ministradas em módulos concentrados e o curso procura em outras instituições, ou no mercado, o professor qualificado e disponível para ministrar aquele módulo naquele momento. Em princípio o Curso do Acre deverá funcionar nos mesmos moldes, ou de forma parecida.

Enquanto o engenheiro trabalha num nível mais de planejamento, decisão e orientação, o técnico trabalha num nível mais operacional, ou seja, de execução em campo. Na indisponibilidade de técnicos, o engenheiro acaba também assumindo as funções operacionais. Isso é o que tem acontecido no Brasil, na área florestal, de um modo geral. Pois para um conjunto de 23 cursos de engenharia florestal, existem apenas três cursos de técnico florestal.

Um estudo realizado pela FAO no final dos anos de 1970 indicava que em 1985 o Brasil necessitaria de um número de engenheiros florestais situado entre um mínimo de 2.200 e um máximo de 3.700 profissionais. Com relação aos técnicos florestais, aquele organismo internacional estimava as necessidades do país, para o mesmo ano, em quantitativos situados entre 4.400 técnicos florestais, no mínimo, e 7.400, no máximo. Nem o número mínimo de profissionais de nível superior foi atingido, naquele ano, quando o país contava com 12 cursos de engenharia florestal em funcionamento, nem tampouco o número de técnicos florestais, com uma única escola formando pessoal, até então.

Parâmetros internacionais indicam que um engenheiro florestal pode ser responsável por uma área de florestas que abranja entre 5 e 100 mil hectares, dependendo da localização geográfica, do tipo de floresta, da destinação de uso e da finalidade do manejo, dentre outras condicionantes.

Em função da complexidade do meio amazônico e das dificuldades de deslocamento na região, pode-se tomar, para fins de estimativa da demanda de pessoal para atuar no Estado do Acre, uma área média de 50 mil hectares por engenheiro florestal. Considerando-se a atual área de cobertura florestal do Estado (90% da sua superfície), o Acre demandaria 275 profissionais florestais de nível superior. Mesmo com uma relação de 2 técnicos por engenheiro, o Estado necessitaria de 550 técnicos florestais.

Os primeiros engenheiros florestais da UFAC deverão sair da universidade no segundo semestre de 2004, e estarão efetivamente iniciando suas atividades profissionais no ano seguinte. Assumindo-se que 20 profissionais em média sejam anualmente formados na UFAC, e considerando-se o efetivo desses profissionais hoje trabalhando no Estado, somente em 2015 o Acre disporia do número suficiente de profissionais dessa categoria para operar a gestão dos seus recursos florestais. De outro lado, o Colégio Técnico teria que formar 50 profissionais por ano para que em 2015 o quadro técnico mínimo requerido para o estado esteja completo. Pode-se até questionar as hipóteses e o atual estágio de desenvolvimento da economia acreana. Certamente ela atingirá patamares bem mais elevados nos próximos anos, sem no entanto perder a sua característica de base florestal. Os números foram, no entanto, estimados com base em indicadores consistentes e com área requerida por profissional bastante conservadora. As estimativas ficam então como indicativos para reflexão.

* Engenheiro Florestal