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O clima globalizado II

por petrolitano publicado 07/11/2011 16h01, última modificação 07/11/2011 16h01
Jornal Página 20, 03.06.2001

*Alejandro A. Fonseca Duarte


Balanço térmico


Pois bem, vale recordar que parte da radiação solar que chega à atmosfera e à biosfera e absorvida, re-emitida, refletida ou espalhada em forma de radiação durante as interações com o ar, em particular, com o vapor d’água , os aerossóis, o gás carbônico (CO2), o ozônio (O3); com as nuvens, o solo, as águas, as plantas e demais seres vivos.

Tem-se radiação eletromagnética entrando na atmosfera-biosfera e saindo através da atmosfera para o espaço exterior. Nos trópicos entra mais quantidade de radiação, da que sai; nos pólos acontece o contrário. Por isso os trópicos são quentes e os pólos são frios. Mas a globalização, representada pelas correntes de ar e correntes marinas, tempera esta situação: nem os pólos são tão frios nem os trópicos são tão quentes como poderiam ser, supostamente, em ausência da globalização

- Então a globalização e boa.

- Falando de clima, sim.

Efeito estufa

O mecanismo radiativo global nesta era da evolução da Terra estabeleceu um desbalanço natural ocasionado pelo efeito estufa devido no fundamental à acumulação de CO2 na atmosfera. Entra mais radiação da que sai, mas numa proporção que resulta na temperatura média anual da Terra que caracteriza o clima global atualmente.

- Então o efeito estufa é bom?

- Esse sim.

- Mas, tem outro?

- Digamos que sim.

O descrito antes é natural. Na atualidade, a acumulação de CO2 na atmosfera, de maneira natural, vem da respiração aeróbica dos seres vivos. Outros seres vivos como as plantas utilizam esse gás carbônico junto com a água e a energia solar para se estruturar mediante a fotossíntese, liberando oxigênio, em um dos muitos ciclos da natureza. Mas, a acumulação de CO2 na atmosfera devido à queima de combustíveis no transporte e atividades industrias; bem como a acumulação de outros gases e aerossóis que contribuem também ao efeito estufa (existem aerossóis com efeito compensador, mas também são poluentes) desbalanceia artificialmente o desbalanço natural e se sobreaquece a Terra, por um efeito estufa não natural, quer dizer induzido pela atividade humana. Nisso consiste o aquecimento global.

Isso está acontecendo e os modelos de mudanças climáticas para finais do século XXI indicam essa tendência, caso não se modifiquem os atuais padrões de emissões, principalmente de CO2, que tem lugar nas sociedades industrializadas. As conseqüências se resumem em catástrofes: enchentes, falta de produtividade na agricultura, falta de água em algumas regiões, derretimentos de geleiras, maior imprevisibilidade dos fenômenos atmosféricos etc. Em outras palavras, fome e miséria.

No que o SETEM contribui


Como a radiação solar governa o clima, medindo as características da radiação solar para uma determinada região ao longo dos anos se pode estudar suas mudanças, caso aconteçam; interpreta-las como naturais ou induzidas pelo homem, e sugerir comportamentos para impedir que apareçam mudanças climáticas globais. No SETEM estamos fazendo assim (o SETEM faz muito mais do que isso, os convido a obter mais informações visitando o nosso sítio em Internet).

As medições sobre radiação solar, qualidade do ar, variáveis meteorológicas, e outras mais que fazemos, significam um esforço de boa vontade que cientistas de todo o mundo estão realizando, em geral de maneira coordenada. Uma infra-estrutura de sensores, robotização, satélites, outros recursos materiais e humanos estão presentes e espacialmente distribuídos.

Quer dizer que não estamos só. Os nossos parceiros também não estão. E sozinhos não se poderia realizar esse esforço. Uma das particularidades da ciência moderna é seu caráter de colaboração. É um esforço globalizado. A globalização científica é muito boa. Conosco estão, dentre outros, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE, a Universidade de São Paulo - USP e o projeto internacional LBA - Experimento de Grande Escala da Atmosfera-Biosfera na Amazônia. 

Reserva de energia solar

O Brasil, como muitos outros países não desenvolvidos, não dispõe de dados sobre seu potencial de energia solar. Algumas tentativas têm sido feitas, mediante a utilização de medições via satélite e em terra. Pioneiros nesse assunto são o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e o Instituto de Meteorologia - INMET. Há quase um ano na UFAC se realizam essas medições em terra.

Em nossa região a intensidade da radiação solar pode alcançar valores superiores a 1000 W/m2 próximo ao meio-dia, entre as 10:00 e 14:00 horas, taxa que excede o consumo de um ferro de passar. E durante um dia não de muito sol pode-se acumular mais de 15 MJ/m2 de energia. (W/m2 se lê watt por metro quadrado e MJ/m2 se lê megajoule por metro quadrado ou milhões de joule por metro quadrado). 

A energia solar pode ser transformada eficientemente em outros tipos de energia, por exemplo, em energia elétrica mediante sistemas fotovoltaicos como os que estão sendo instalados nas comunidades isoladas do Estado. Trabalho começado pelo Grupo de Energia da UFAC há mais de três anos. As medições de intensidade da radiação solar têm também aplicação na otimização dos sistemas fotovoltaicos. Os números de acima significam que por cada metro quadrado de área podemos armazenar 4 kW-h de energia todos os dias, desde o amanhecer até o anoitecer. Um só metro quadrado de área aportaria 120 kW-h ao final do mês. Dois metros quadrados aportariam 240 kW-h. Essa quantidade de energia elétrica comprada na EletroAcre custa mais o menos R$50,00; consumo médio de muitas famílias.

*Doutor em Ciências Físico-Matemáticas, pesquisador do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera (LBA), Universidade Federal do Acre (Ufac)