Você está aqui: Página Inicial > Notícias da UFAC > Ufac na Imprensa > Edições 2001 > Junho > Sobre a questão emprego
conteúdo

Sobre a questão emprego

por petrolitano publicado 07/11/2011 16h45, última modificação 07/11/2011 16h45
Jornal Página 20, 06.06.2001

José Cláudio Mota Porfiro


Sempre fui dado a prestar esclarecimentos e, quando não me exorbitam as possibilidades científicas/epistemológicas, que não são tão densas assim, oriento dissertações de mestrado e monografias lato sensu. Realmente, gosto de atender àqueles que me consultam sobre uma variada gama de temas, muito embora isto seja para os circundantes alguma espécie de autopromoção. Assim já fiz com alunos de História, Pedagogia, Economia, Ciências Sociais e Direito, dentre outros. Hoje mesmo - 8 de maio - fui convidado a tomar parte da banca de examinadores da monografia dos formandos Raimundo Jesus Pinheiro e Jebson Medeiros de Souza, do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Acre. Fico realmente grato. Isto é reconhecimento.

Há dias passados, entretanto, chegou-me um grupo de alunos de uma certa faculdade particular e pediu algumas idéias sobre a questão emprego, no Brasil, a partir da década de 1970. Passei à busca de algumas velhas anotações e alfarrábios, dos tempos em que me fiz rato-de-biblioteca da Unicamp. Tentei ajudar da melhor forma possível. Talvez tenha até conseguido contornar a situação dos consulentes. Resolvi, então, fazer destes escritos um relato, em linhas gerais, das idéias defendidas por alguns tantos teóricos da pós-modernidade sobre a questão da evolução do mundo do trabalho nas últimas três décadas, não esquecendo de uma vislumbrada sutil num futuro que se aproxima célere como os nossos modernos meios de processamento de informações.

Será então oportuno afirmar que, realmente, ocorreu uma verdadeira revolução no tocante à questão emprego, se vista a realidade - principalmente a brasileira - de há quarenta anos atrás. Os patrões já não são os mesmos. Eles já não querem batizar os filhos dos empregados pelo fato de um dia terem que dar-lhes presentes insignificantes, mas que custam algum dinheiro. Os empregados são completamente outros e estão sempre à mercê dos humores de empregadores desatinados e insensíveis. As relações no mundo do trabalho deram uma guinada de alguns muitos graus. Em certo sentido, houve alguma melhoria mas, ainda ocorrem fatos que deixam a crítica social estarrecida ante os descalabros que passam inclusive pelo trabalho infantil e/ou escravo já no terceiro milênio.

É conveniente apontar aqui um fato que nos envia quase à barbárie de centenas de anos passados. Os pensadores de extrema direita houveram por bem criar aquilo que os socialistas designam por exército especial de reserva. Em outras palavras, haverá sempre centenas de recém-formados, nas melhores universidades, desempregados e à espera de vaga a qualquer preço. Os que estão empregados - ocupando as vagas - não podem sequer pensar em aumento de salários, uma vez que os que estão fora do mercado de trabalho aceitam o emprego por salários irrisórios, muito menores do que os salários dos que estão com ocupação definida. Como deverá sentir-se o empresário? Muito à vontade, é claro, pois todos precisam empregar-se e, para o patrão, quanto menores os salários dos trabalhadores, mais lucros serão auferidos. Enfim, se correr o bicho pega... Se ficar o bicho come.

Desta maneira, antes de 1970, ao empregado era preciso acumular bastante experiência, através de muitos anos quase sempre exercendo e aprendendo a mesma ocupação, muito embora houvesse bastante acomodação, dependência, carreirismo e conservadorismo dos que sequer queriam transmitir aos mais novos as experiências vividas na função. O salário era determinado pela empresa que, na maioria das vezes, pagava o que bem queria. O conhecimento era fruto da experiência profissional, e nada mais.

Entre 1970 e 1990, o trabalhador se fez mais escolarizado para ocupar funções de direção e mando. Se fez mais confiante, político, criativo, progressista, competitivo; negociava o salário com a empresa e seu conhecimento voltava-se quase exclusivamente para o acadêmico.

Todavia, depois de 1990, o que importa é a performance diária, pois há sempre a necessidade de matar-um-leão-a-cada-dia. O trabalhador se torna curioso, independente, progressista, analítico por excelência, perspicaz; é cooperador em relação às sugestões que possam promover o desenvolvimento geral da empresa, conquista o salário pela alta competência, e é aplicado na prática e na teoria.

Dos dias atuais em diante, então, o empregado haverá de sempre buscar cumprir suas tarefas em equipe, terá uma visão globalizada dos processos e da dinâmica do sistema, liderará mudanças progressistas, será facilitador, o salário dependerá cada vez mais dos resultados do trabalho, e estará sempre buscando apreender um volume maior de informações e conhecimentos, principalmente nas raias da cibernética e do aprendizado das línguas modernas necessárias à troca de informações num mundo cada vez menor.

E muito mais haveria ainda a abordar, não fosse a questão deste espaço e o problema que diz respeito à estreiteza das minhas elucubrações. E por que não dizê-lo? Apesar dos meus críticos circundantes, de uma forma ou de outra, ainda consigo colaborar com aqueles que em mim tentam buscar algum apoio. É para cumprir este fim que por aqui estou, às vezes de férias, às vezes trabalhando como um mouro sempre com o intuito de ajudar alguém.

claudioporfiro@zipmail.com.br