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Crônica da geléia geral à patifaria nacional

por petrolitano publicado 01/11/2011 11h52, última modificação 01/11/2011 11h52
Jornal Página 20, 30.05.2001

José Cláudio Mota Porfiro


Sou hoje um filósofo brega que vê e diz analisar a realidade com olho de jabuti. De amanhã em diante pensarei novamente nas mil e uma utilidades da santa mãe ciência.

E tão de repente, não mais que repentinamente, chegou a mim uma bela e estonteante cabocla, a Rosinha, de rosto arredondado e meigo e firme, mocotó fino arredondado, zeloso e refratário, no boteco da Maria Farinha, a dizer que a minha fotografia no jornal sai tão moça e tão bela que mal pareço eu. Mentira! Sacanagem! Revolta geral! Ora, talvez nem seja eu, pois nem sou tão belo, e talvez nem seja o engodo que Deus colocou na cabeça dos homens, feito chifre, posto que não contei ainda quatrocentos artigos virulentos contra a patifaria nacional. E não se trata de teimosia adolescente juvenil, uma vez que, recém-chegado às quarenta e quatro primaveras de pobre, mal diviso as linhas do raciocínio brilhante de Immanuel Kant, ou de Dante, ou de Toninho Malvadeza, aquela figura espúria que tira toda a beleza do carnaval baiano e da nossa geléia geral. Viva a Bahia! Viva Gilberto Gil! Viva Naborzinho, o homem de meio milhão de escusos reais!

Vão-se à pauta que pariu criaturas eminentes como o grande Moisés Diniz, um cidadão nacional que, via internet, das nascentes do rio Tarauacá, descreve em linhas tênues o raciocínio de mil cachorros em pele de quatipuru-comedor-de-sabão e moeda. Viva ele! Vivamos todos nós! Até amanhã ou até não se sabe quando o olho caolho da extrema direita não nos meta uma bala na cara, à tarde, às três, porque à noite eu tenho compromisso e não posso faltar por causa de vocês.

A mocidade escorre por entre os dedos. A vida rui, desmorona. Mas é preciso dizer tudo antes que me deixem mudo. A verdade não dói, mas machuca a bunda e as ventas do mentiroso e do safado que engana o zé-povim, que, da humildade da sua alma e do seu barraco, no bairro Belo Jardim, acredita em tudo; muito mais nas obras que nunca viu, que no trabalho que passa em frente ao seu jardim encapoeirado. Os meios de comunicação e os homens ditos de direita (posto que nunca foram corretos) deixam o coitado cego e surdo ante a realidade vicejante que invade a acreanidade.

E, ao meio-dia, uma senhora, minha amiga de apanhar filhos no colégio D. Pedro II - dona do Liras Lanche - quase dedo em riste, disse que sou polêmico. Ora bolas! É obra da natureza xapuriense que jamais há de enredar-se pelos caminhos da mentira de mil e quinhentas ratazanas que difamam a vida estadual, com saudades de tempos em que os trinta dinheiros de Judas matavam jagunços no canal da maternidade e ainda diziam que o coronel Alexandrino não fora o culpado. E quem seria o culpado? E quem tocou fogo no prédio da Assembléia Legislativa? O corretíssimo Ilson Ribeiro? O bom amigo Edmundo? O Vandervan? Ou a política canalha que assola o estado lastimável do Acre, onde a mentira corre solta a punir célere os justos que fazem, a partir da cidade, um governo da floresta que jorra esperanças benfazejas na geléia geral do seringal. (E ainda há um deputado babaca, com um linguajar chulo que nenhuma escola consegue ensinar, a dizer que não existem mais seringais e seringueiros. Que vá à pauta que pariu tanta irrealidade e tamanha canalhice.)

A moça tem razão! Nem sou polêmico, nem sou poeta. Sou apenas o absurdo do comentário drástico, um rapaz latino-americano liso, sem parentes importantes e vindo do raio-que-o-parta. O Aldo Nascimento é razoável.

E lá estou a me empanturrar de chope. Lá está o Natal Chaves a lembrar dos tempos do Jirau Lanche, onde bebíamos a caipirinha barata do Alonso, em conclave com um cidadão de nome fé-em-deus de carvalho. Um bacana!

E já estamos há dois mil e um anos do nascimento do homem de Nazaré. Mas o Acre ainda é uma cangalha torta atrelada à problemática nacional. E tudo continuará como dantes no inferno de Abrantes, na quinta do Estoril, em Portugal, onde Flávio Nogueira ressona, dentes ainda afiados, feito um drácula seringalista, às cinco da manhã, com medo da luz que ilumina o Brindeiro, ou o Luís Francisco, ou o Cosmo Lima, incrivelmente mortais, como eu. Ah! Pudera eu pôr as mãos no safado! Tomava-lhe todo o dinheiro acreano, reconstruiria o mané julião e faria da baixada da habitasa o mar de rosas que não prometi; mas alguém o cumprirá em meu nome, daqui a vinte anos, talvez o Andrei, meu filho, em quem deposito confiança e meia. (Por que não morar nos Vicentinos? Basta que me ponham às mãos um micro não tão avançado e haverei ainda de cutucar a onça com a unha curta que o rato do imposto de renda comeu.)

Ademais, aqui vivemos de festivais estivais, antes que a chuva atrapalhe a engenharia engenhoca do Mauri e do Flaviano. São mentiras esculpidas pela mente de sacripantas que ainda gostariam vir a nascer nas nascentes do Juruá, no Seringal Valparaíso, ou no Seringal Liberdade, no Envira, posto que os ladrões de Xapuri nós os temos atirado nas celas tão bem guarnecidas pelo meu bom aluno Felismar Mesquita.

O poeta desfralda a bandeira que a brisa do Brasil beija e balança... Ah, o poeta Gil! Ah, o Cazuza, que não teria sido convidado pra essa festa pobre, pra esse bacanal acreano de tantas safadezas nunca sutis. Que pena!

claudioporfiro@zip mail.com.br