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Feliz foi Adão, que não teve sogra

por petrolitano publicado 01/11/2011 11h15, última modificação 01/11/2011 11h15
Jornal Página 20, 03.05.2001

Raimundo F. Souza


Entre os familiares com direito a datas comemorativas, inclusive lembradas todos os anos, principalmente pelo comércio, existem as crianças, as mães e os pais. E as sogras? Como ficam essas criaturas, tão lembradas nas estorietas e piadas que fazem alusão às maldades que se pode fazer a alguém? Quem lembra seu dia? Pois bem, para os genros e noras desavisados, foi dia 28 de abril. Acredito que não levaram nem um presente, por exemplo, um bolinho enfeitado, com a subscrição “parabéns pelo seu grande dia!”, logicamente temperado com uma pitada de laxante.

Depois de uma exaustiva pesquisa, na qual foram consultados trabalhos nos idiomas alemão, japonês, russo, labreense e também casais brasileiros que se uniram pela vigésima vez, concluímos que, na evolução da vida, as pessoas se conhecem, namoram, casam, enfim, estabelecem relacionamentos amorosos e, entre duas pessoas, existe um sistema de valores e uma cultura própria que cada indivíduo traz consigo e de sua família. Dessa forma, o irmão passa a ser cunhado, o pai passa a ser sogro e a mãe, sogra. Nessa multiplicidade de papéis e funções, a sogra é a personagem que carrega o estereótipo das múltiplas conotações, que, geralmente, suscitam piadas, brincadeiras, e comentários jocosos. Algumas dessas máximas: “sogra é como carro a álcool: você ainda vai ter uma”; “sogra só precisa ter dois dentes: um para doer e outro para abrir garrafa de cerveja”.

De forma preconceituosa, muitas vezes, o relação entre sogra e nora, ou genro e sogra, acontece de forma em que o sogro é visto como um segundo pai, um amigo; já a sogra é vista como “velha chata, linguaruda, megera, que sempre mete o nariz onde não é chamada”. O mesmo ocorre com a nora, que é vista como a rival, aquela que rouba o filho, enquanto o genro é tido como um filho para quem a mãe da mulher faz os melhores doces. Entretanto, popularmente, o preconceito negativo recai sobre a sogra. A sogra já se tornou a figura mitológica, pois, em qualquer cultura, a ela está associada uma imagem de pessoa inoportuna, que deve ser suportada por alguém, em algum momento da vida.

No caso particular, a relação sogra-nora se complica ainda mais quando ambas necessitam morar no mesmo lar, seja por problemas financeiros do casal ou pelo fato de a sogra não ter onde morar. Segundo os especialistas em “sogrologia”, essa situação deve ser evitada por qualquer hipótese, mesmo que seja a mais extraordinária das mães. E, se não houver outra saída, deve ser firmado um pacto, sob as juras mais sagradas, de que a sogra evite interferir na vida do casal, não tome partido, não dê ordens e a nora evite de fazer comparações de como as coisas eram em sua casa.

Outro fator que pode influenciar a relação sogra-nora é a chegada de filhos, pois, a partir desse momento, existe mais um ser ligado a elas. A transformação em avó pode ser a solução para muitas sogras que tiveram a sensação de “perder” seus filhos pelo casamento. No entanto, sogra e nora poderão ter opiniões diferentes quanto à educação das crianças, uma vez que pertencem a gerações diferentes.

Devido a todos os fatores que envolvem a relação sogra-nora, são inúmeros os sentimentos desencadeados em virtude dessa ligação. Exemplos: ciúme, inveja, raiva, tristeza, insegurança, amizade, amor, carinho, respeito e por aí vai... Quanto ao ciúme, esse é um sentimento originado do desejo de ter só para si a pessoa amada, pois, para as mães, o casamento dos filhos constitui uma separação encarada com ansiedade e percebida como uma perda.

No entanto, apesar dos vários conflitos que envolvem o tripé sogra-nora-genro, eles podem ser administrados de forma saudável. Isto ocorre na medida em que existe o amadurecimento emocional dos envolvidos, que poderão compreender-se mutuamente, conscientizando-se de que não precisam competir, já que cada um exerce um papel diferente. No entanto, esse deve ser o grande desafio, que implica contínua construção dessa relação.

Genros e noras, vamos entender as sogras, que, como diz o ditado popular, “são iguais ao Windows: sempre travando um programa a dois”.

 

Raimundo F. de Souza é bibliotecário na Ufac