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UFAC: para a interiorização da extensão

por petrolitano publicado 01/11/2011 11h17, última modificação 01/11/2011 11h17
Jornal Página 20, 09.05.2001

José Cláudio Mota Porfiro


É claro que as sugestões aqui apostas serão levadas ao crivo das observações e adendos dos mais diversos segmentos da Universidade Federal do Acre. Todavia, são estas expressões muito próprias de um estudioso que busca na teoria razões que coroem uma prática há muito tempo tecida em meio às comunidades do interior do Acre, na maioria das vezes em companhia do Prof. Dr. Manoel Severo de Farias.

Inserimo-nos num contexto muito específico dadas as suas peculiaridades amazônicas. Não poderíamos deixar de considerar, todavia, a importância do papel desempenhado, ao longo dos anos, pela Universidade Federal do Acre, na inserção do saber sistematizado em meio às nossas comunidades do interior do Estado, inclusive, em Boca do Acre, Estado do Amazonas, apesar de toda uma gama de dificuldades com as quais se nos deparamos num dia-a-dia complexo que é o fazer extensão universitária na dependência de recursos mínimos, que jamais poderiam atender as nossas demandas cada dia em maior número. E muito temos empreendido; porém, muito mais ainda falta a ser feito.

De antemão, partindo dos pressupostos acima, é primordial levar em consideração as distâncias amazônicas e as questões climáticas, e de infra-estrutura - principalmente as estradas - que dificultam sobremaneira ações que tenham por objetivo alcançar comunidades em regiões íngremes e pouco salubres. Um plano de interiorização das nossas ações de extensão deve levar em conta aspectos como os anteriormente descritos, dada a necessidade dos deslocamentos, porquanto a intenção maior, aqui, seja levar a cabo estas e outras propostas que tenham sempre por objetivo a melhoria das condições de vida das nossas populações interioranas.

Convém enfatizar, certamente, as dificuldades de acesso a alguns municípios mais isolados que também, é claro, precisam ter suas demandas supridas, em vista da precariedade da vida nas regiões mais afastadas, como nas comunidades de Santa Rosa do Purus e Jordão, onde as benesses governamentais chegam sempre de forma tardia e como favores políticos que devem ser pagos assim que a melhor oportunidade surja.

É preciso observar que o número de municípios é maior que as possibilidades da UFAC, em que pese o espírito de colaboração e vanguarda do progresso de que devem revestir-se nossas ações. Mas é preciso vislumbrar o preceito democrático que aponta na direção de, obrigatoriamente, termos que considerar a igualdade de condições e oportunidades que devem ser dadas a um e a todos.

Com relação às políticas de extensão, segundo conceito do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão, realizado em 1987, a extensão é um processo educativo, cultural e científico que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre a Universidade e a sociedade.

Para a legitimidade e coerência das ações de Extensão que a UFAC buscará levar a efeito no interior do Estado do Acre, é pertinente apontar algumas assertivas oriundas do Fórum acima referido, em relação a pontos fundamentais que buscam a institucionalização da Extensão.

1. Será necessário redefinir o conceito de sala-de-aula e buscar alicerces numa práxis acadêmica que parta em busca do conhecimento onde ele estiver e, também, que o transmita em locais distantes das universidades, onde o benefício do saber possa chegar pela via do esforço dos que fazem Extensão.

2. Hoje é oportuno reformular as propostas de estágio curricular enquanto uma exigência posta a todos os cursos universitários, desde os primeiros semestres, contribuindo, realmente, para a solução dos problemas sociais que afligem as comunidades dos mais variados níveis e localizações.

3. É preciso instituir créditos curriculares para as atividades de extensão que possam ser computados para a integralização curricular dos alunos. Assim, será este mais um incentivo no sentido de que os saberes sejam buscados, e as ações sejam levadas a efeito, onde elas se fizerem necessárias por um maior número de empenhados em minorar as deficiências demandadas.

4. Urge a revisão das exigências para os projetos de extensão, garantindo que se caracterizem como articuladores com o ensino, façam previsões de ações de pesquisa e demonstrem colaborar com a transformação social.

5. Convém a revisão das ações de prestação de serviço, de modo que deixem de lado aspectos assistencialistas, e se caracterizem como ações emancipatórias.

7. É hora da busca da interdisciplinaridade, ou seja, de um projeto acadêmico integrado, que possibilite aos alunos atuação conjunta com profissionais das mais diferentes áreas do conhecimento.

8. É necessário o estabelecimento de critérios para viabilizar a avaliação da extensão.

Em síntese, eis os pressupostos básicos mais atualizados a que puderam chegar os especialistas brasileiros em Extensão universitária, sobre os quais deverão estar assentadas todas e quaisquer ações de extensão que se pretendam coerentes e busquem surtir o efeito social pretendido, nas comunidades longínquas do interior do Brasil, ou, mesmo, nos guetos urbanos, onde se tem instalado a debilidade das relações humanas, e onde a ação extensionista possa se impor não enquanto necessidade da academia, mas simplesmente enquanto portadora de melhorias de vida.

No que se refere às temáticas de trabalho, é preciso levar em conta que, em vista dos tipos de segmentos sociais - rurais e urbanos - de onde se espera partir a principal demanda para a interiorização das ações de extensão da UFAC, podem ser especificados os seguintes eixos temáticos: preservação e sustentabilidade do meio ambiente; promoção à saúde e à qualidade de vida; educação básica e de nível médio; desenvolvimento da cultura e do desporto; transferência de tecnologias apropriadas; atenção integral à criança, adolescente e idosos; capacitação e qualificação de recursos humanos e de gestores de políticas públicas; reforma agrária e trabalho rural.

Para que uma prática redentora das nossas comunidades interioranas, esquecidas há tanto tempo, seja levada a efeito, é preciso considerar que há ainda a ser acrescida a proposição de algumas ações por parte da Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários e Extensão. Todavia, a legitimidade deste plano vincula-se a uma análise que o mesmo deverá sofrer quando da sua chegada aos departamentos acadêmicos da UFAC, onde verdadeiramente idéias bem melhor pautadas na exeqüibilidade serão acrescentadas. Assim esperamos.

claudioporfiro@zipmail.com.br