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A viagem de Hélio Melo

por petrolitano publicado 27/10/2011 10h31, última modificação 27/10/2011 10h31
Jornal A Gazeta, 24.03.2001

Carolina Sampaio Barreto

Vive-se hoje em meio a um arsenal de imagens, luzes, cores, formas e sons que emergem de todos os cantos, traduzindo os movimentos da vida. Somos bombardeados por mensagens publicitárias e videoclipes de narração rápida, curta, direta e precisa.

Como uma ciranda frenética a humanidade vai sendo conduzida a pensar por imagens, aos poucos se comunicando de maneira colorida e multidimensional. Neste universo de brilho e de novidades, o homem se utiliza cada dia mais do recurso visual para se relacionar com o mundo e com o outro.

Ao traçar informações, partilhar idéias, sentimentos, experiências, crenças e valores na celebração da comunhão do ir e vir das idéias percebe-se uma ação que nem sempre se estabelece entre os homens que vivem de bem com a sua terra, mesmo entre aqueles que se intitulam de escolarizados e, portanto, diferenciados.

Resta, então, perguntar por que alguns homens e mulheres que pouco ou não tiveram oportunidade de ser titulados como doutores, têm a capacidade de falar, cantar e encantar os outros e o mundo?

Certamente eles carregam nas suas entranhas a solidão do seu fazer e a arte de comunicar as estórias da sua gente e da sua terra... Assim, certamente, reside o grande mistério do visível e do invisível, do mensurável e do imensurável.

Neste momento, o pintor Hélio Melo se encontra em viagem longa e de destino certo.

Diante da notícia de sua viagem eterna, percebo a importância do seu papel junto dos movimentos culturais no Acre e o valor da sua obra frente o contexto histórico contemporâneo.

Entendo que os riscos, rabiscos, traços e cores presentes nos seus trabalhos têm o mesmo valor da linguagem escrita e falada, mostrando, assim, o poder da imagem e da imaginação como instrumento da aprendizagem e da comunicação. A sua obra nos permite penetrar no universo da mata, em especial nos seringais, de maneira prazerosa e amorosa.

Este ex-seringueiro era um homem de temperamento irriquieto e dado a invenções e astúcias. Ele aprendeu quando ainda morava no seringal a tocar rabeca e durante as suas exposições encantava a todas as pessoas que trazem na alma o gosto e a admiração pelas coisas simples e autênticas da nossa gente. Foi bom que Ele continua a viagem...

Desejo a você, Hélio, uma boa viagem. Lembre-se do dito do João: "A coisa não está nem na partida e nem na chegada, mas na travessia..."

Hélio, se no meio da viagem sentires saudade, não se atormente, olhe para baixo e verás muita gente orando por você.

Abraços.

Carolina Sampaio Barreto é mestre em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, professora e vice-reitora da Universidade Federal do Acre – Ufac.