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Formandos de Direito/2000 e o dever de casa

por petrolitano publicado 27/10/2011 09h47, última modificação 27/10/2011 09h47
Jornal A Gazeta, 16.03.2001

* Antônio Costa

Como parte da comemoração pela formatura dos bacharelandos de 2000, programou-se uma entrevista com o Dr. Jersey Nazareno de Brito Nunes, cognominado pelos alunos da turma de 1972 como "O Pioneiro do Ensino Superior no Acre". Este título, entretanto, ele faz questão de atribuir a alguns ‘sonhadores’ dos anos 40.

Quando ficou confirmado que o venerando mestre nos receberia na manhã de 10 de março último, imediatamente traçamos os rumos da entrevista que, certamente, seria precedida de nossa exposição acerca do excelente desempenho da turma, no Provão/2000, em que se destacaram vários colegas obtendo notas a nível dos melhores alunos das universidades de excelência.

Como uma espécie de prestação de contas, não perderíamos a oportunidade de ressaltar que o curso teria avançado pelo menos uma letra - de ‘C’ para ‘B’ não fossem os outros itens: capacitação do corpo docente, biblioteca, instalações, núcleo jurídico e a última grade curricular desatualizada, cujas avaliações com ‘notas sofríveis’, inobstante as notas dos alunos, terminaram por inviabilizar a ascensão do curso para um nível mais justo - letra ‘B’ - pelo menos.

No entanto, nossas reclamações não ficariam por aí: relataríamos a angústia de que fomos acometidos nos tormentosos períodos de descrença do curso, dos achincalhes, da carência de recursos financeiros, de desmandos administrativos, da falta de professores, da inexpressiva dedicação de alguns (felizmente poucos), das inadequações pedagógicas adotadas por outros; e, a pior de todas as ameaças - o fechamento do curso de Direito -, terrível fantasma que transformou em pesadelo o grande sonho da turma em concluir o curso: tratava-se do ultimatum apresentado pelo Ministério da Educação, que exigia urgentíssimas providências, em exíguo espaço de tempo, apenas alguns meses, para atender-se a uma série de requisitos mínimos para continuidade do curso de Direito. Nesse momento, criamos, alunos e professores, o Comitê para Salvação do Curso de Direito.

Mesmo assim, diante de tantos problemas, enalteceríamos a abnegação de alguns mestres, verdadeiros patronos da causa do ensino superior – faça-se justiça! Também lhe falaríamos da nada atraente remuneração dos professores.

Como dissemos, essa era a intenção inicial. Ainda bem que ficou na intenção. Pois resolvemos, antes, ouvir a história da gênese do curso de Direito contada por quem a vivenciou, em toda a sua plenitude - pelo mestre Jersey Nazareno:

Assim, demonstrando fidalguia invejável, a paciência dos verdadeiros mestres, a simplicidade dos monges e a sabedoria de um filósofo, ele passou a discorrer sobre a saga do curso de Direito, notadamente compreendendo os primeiros cinco anos, como se tudo houvesse ocorrido há alguns dias e não há quase quarenta anos.

E haja lição de vida! O seu relato sobre muitos professores que nada recebiam em termos de salários calou-nos qualquer vontade de falar sobre achatamento salarial de nossos dias.

Se, atualmente, temos problemas de instalações, no início do curso sequer havia uma sala. "E chegamos a ser despejados - contou o mestre - do antigo Colégio dos Padres, sem direito a retirar o material que lá se encontrava. Para tomar posse do Colégio 1º de Maio - continua -, regularmente doado, após muito sacrifício, foi necessária verdadeira operação de guerra conhecida como ‘Operação 1º de Maio’, empreendida em 9 de janeiro de 1969, consistente na invasão do prédio, esgotados os recursos diplomáticos, em face de evidente má vontade dos administradores do imóvel".

Mas estava deteriorado, de tal modo, o prédio doado que só havia uma solução: busca de recursos financeiros, claro, para reforma. E foram conseguidos - pasmem - por meio de empréstimo pessoal em nome de Jersey Nazareno de Brito Nunes, com o aval de Omar Sabino de Paula e Adauto Brito da Frota, este último de saudosa memória. Como falar em dificuldades financeiras para ele, em nossos dias?

Uma pergunta de nossa parte era inevitável: por que uma turma (a primeira) tão pequena de formandos e uma faixa etária tão elevada? Ao que o professor respondeu com firmeza: - "a campanha negativa contra a instalação do curso de Direito era tão deletéria que afastou a juventude, verdadeira destinatária do ensino superior". E nossas crises atuais de descrédito? São insignificantes desafios comparativamente àquele quadro inicial.

Claro que muitas foram as conquistas, mercê dos esforços conjuntos daqueles pioneiros, porém a modéstia do narrador limitou as informações. Por fim, lembrou os grandes óbices enfrentados para o reconhecimento do curso de Direito, condição sine qua para a instalação da Universidade. Nem por isso houve apoio de quem tinha obrigação institucional de prestá-lo. Novamente a doação daqueles abnegados se fez presente e indispensável - cotizaram-se, várias vezes, professores e alunos para custear as viagens a Brasília do encarregado de tratar do complicado processo de reconhecimento.

Após ouvir parte de história tão empolgante e exemplar, de tanto sacrifício e denodo, de tanto desprendimento e doação dos pioneiros, objetivando a criação do curso, chegamos a conjecturar com que cara olharíamos essas pessoas, caso o curso viesse a sofrer, sob nossa responsabilidade, a pena de fechamento.

Assim sendo, ao compararmos as seríssimas dificuldades enfrentadas por aqueles pioneiros, face às nossas nos últimos cinco anos, fica uma inevitável interrogação: será que nós, formandos/2000, herdeiros de incomensurável patrimônio, fizemos, pelo menos, o dever de casa?

* Bacharelando/2000