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Inflação oculta, preços explícitos

por petrolitano publicado 09/11/2011 14h43, última modificação 09/11/2011 14h43
Jornal Página 20, 01.11.2001

*Raimundo F. Souza


Acredito que a propaganda não só é a alma do negócio, como também é a maior arma do negócio, principalmente para os governantes, que, se não conseguem pleno êxito, com certeza atingem e fazem a cabeça de grande parcela da comunidade, massificando inverdades de seu interesse via meios de comunicação.

Como alguém, em plena normalidade de suas faculdades mentais, pode acreditar que a inflação mensal está rondando em torno de zero alguma coisa por cento? Como alguém pode acreditar que, com o reajuste dos derivados do petróleo, o custo de vida também não aumenta, uma vez que a população consome gás e o setor do comércio depende, quase exclusivamente, dos meios de transporte? Como acreditar que a elevação dos preços das obrigações sociais (energia, telefone, aluguel, impostos) não contribui para a elevação do custo de vida? E como podemos acreditar ainda que a alta mensal constatada nos supermercados, em relação aos preços dos produtos de primeira necessidade, não gera inflação?

Acho que é bem mais verdadeiro acreditar nas histórias de pescador do Pantaleão (personagem interpretado por Chico Anysio, celebrizado pela capacidade de mentir descaradamente) do que acreditar nesse índice oficial de inflação. Haja paciência e boa vontade. Do contrário, o povo não teria somente chutado o pau da barraca, mas, também, tocado fogo na praia.

O povo está sempre ameaçando nas próximas eleições dar o troco aos corruptos e demagogos, que vai votar certo, que vai votar em quem trabalha, em quem vai proporcionar maior justiça social, enfim, em quem pode renovar as esperanças e na pratica oferecer melhorias de vida. No entanto, essas tentativas - ou melhor, esses experimentos - já foram realizadas algumas vezes e a situação continua a mesma. Na pratica, parece não ser muito fácil eleger pelo voto popular representantes dignos de honrar as promessas e proporcionar de fato o bem-estar ao povo. Todavia, vamos tentar outra vez. Não podemos nos tornar bons jogadores, e até vencer algumas “partidas”, se não aprendermos as regras praticando o jogo.

Com relação à inflação propriamente, há alguns dias, estava assistindo a uma fala do nosso representante maior, em uma dessas inaugurações, ocasiões em que o senhor presidente sempre aproveita para dar algum recado em reforço ao que considera o grande feito de sua administração: a redução da inflação.

Dizia o homem: “Estamos vivendo em um país equilibrado, saímos de uma inflação com mais de oitenta por cento ao mês e hoje estamos convivendo com um índice em torno de menos de meio por cento. E, segundo as estimativas, a inflação anual pode não ultrapassar os seis por cento”.

O fato de a inflação ter sido contida não podemos deixar de reconhecer, mas não devemos esquecer que, pela manutenção desse patamar, o povo, especialmente o assalariado, está pagando um preço muito alto e esse índice de inflação oficial divulgado não condiz com a realidade, principalmente nos Estados da Região Norte.

Nesses trezentos e cinco dias de 2001, os preços dos gêneros componentes da cesta básica - feijão, arroz, farinha, carne, peixe (principalmente o peixe), óleo, açúcar, café, produtos de limpeza e higiene pessoal, entre outros -, sem contar as taxas e preços de manutenção (água, luz, telefone, combustível e outros), foram reajustados em percentuais no mínimo cinqüenta por cento.

Quem veio realizando compras domésticas no decorrer do ano pôde constatar esses aumentos mês a mês. Como poderemos, portanto, acreditar que a inflação acumulada até aqui, segundo a FIPE, é de seis por cento? E inclusive já estimou a inflação para 2002, em torno de três e meio por cento. Ou seja, na pratica, o poder de compra e o custo de vida do povo vão estar bem mais difíceis no ano que vem, porém, na teoria, os setores da economia apresentarão a mágica do equilíbrio econômico e bem-estar do povo. E alguém ainda acredita.

*Rafeso@zipmail.com.br