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Tributo ao bairro Capoeira

por Ascom-01 publicado 25/01/2012 12h28, última modificação 25/01/2012 12h28
Jornal Página 20, 13 de fevereiro de 2003

Apesar da denominação de vegetação secundária, ou vegetação típica dos rastros da agricultura, ou, ainda, de dança, esporte, luta de movimentos ritmados executada ao som dos berimbaus, esse espaço urbano delimitado e situado no centro da cidade de Rio Branco, ao longo dos tempos, marcou presença no cenário cultural local, de forma que seus personagens e acontecimentos forjaram um quadro dos mais pitorescos e típicos da capital seringueira.

Segundo os arquivos vivos da historiografia local, essa possessão territorial por pouco não ganhou o nome de “Quatro Palmeiras”, numa referência aos magníficos exemplares que se perfilavam bem em frente ao histórico Cacimbão, beirando o muro da casa da família Portela. Mas, devido aos trabalhos de terraplanagem para o alargamento da rua Manoel Cezário - e também porque nessa época o Ibama não constava nos programas de governo da ditadura militar -, esses representantes da família das palmáceas foram tombados (literalmente) e com eles eliminada a idéia que nominaria o lendário bairro.

Todavia, mesmo perdendo a simbologia das palmeiras reais, que emprestariam um ar de imponência à localidade, seus moradores devem sentir-se orgulhosos por não residirem em um bairro que carrega nome de políticos e que, em alguns casos, são motivo até de vergonha geral.

O bairro Capoeira é um manancial de cultura, tendo sido o berço dos grupos Capu e Divina Luz, além de cultivar artistas como César Escócio e instrumentistas do naipe de Mestre Carlos, Chico Codó, Padoca, Bararu, Zé da Porca, Rui Macaco, Simão, Pitico, João Veras e por aí vai... No carnaval, provando que tem samba no pé, não deixou por menos, fazendo a alegria da galera. Por vá-rios anos se apresentou na avenida com os blocos Gaviões da Capoeira e Bem-Te-Vi.

Como qualquer bairro da cidade, esse também criou e conserva ainda as histórias pitorescas, os acontecimentos folclóricos envolvendo a comunidade, os bebuns inveterados, os desocupados, os ladrões de roupa do varal e tênis da escada, os contumazes “brecheiros”, os invocados e valentes, os apelidos jocosos, os peladeiros, os engraçados e outras pérolas do aconchego capoeirense.

A começar pelo respeitável “seu” Saldanha, pai do eterno sindicalista Arari Pontes, com sua mercearia que vendia do enlatado à mamadeira, à vista e no fiado. Sem esquecer o comércio dos “Sardinhas”, dos irmãos Raul, Raid e Chicão. Entre outros moradores antigos ressaltamos Dona Carmem Portela, Dona Irlanda, Professor Nel, Juarez e Madá, a família dos Montenegro - que agitava o bairro com os garotos Peteca, Cabôco, Toinho Curitiba, Bidu, Juca e as garotas Bodóia, Fafá e Có - e a família do Mestre Carlos (pai de Chico Codó). Entre esses ilustres personagens, não devemos deixar de lembrar o Bené, grande intérprete da música brega romântica nos anos 80.

Outros nomes e apelidos exóticos são parte obrigatória do folclore capoeirense. Vamos lá? Sargento Canuto, Tirreca, Bruno Couro Véi, Fernando Macaco, Pirra, Dedé Brasil, Tranca-Rua, Chico Pituba, Macarrão, Calazans, Véi, Bode Loro, Zeca do Pombão, Lula, Zé Carapanã, Panta, Zé Bomba, Zé Galo, Edi, Zé Leco, Chiquim Sambudo, Zé Maia, Almerindo, Panchico, Lerica, Brucutu, Natal, Lolôba e Pacote (temida dupla do submundo), Pichita (boxer), Gida, Zé Puim, Mamunda, Gibiri, Régis, Chitó, Mané Leite, Negantõi (Alface) e as senhoras Socorro, Lina, Maria Bujão (também conhecida como Rita Lee), entre outras.

Na verdade, o espaço para tecer maiores comentários e encadear algumas anedotas oriundas da comunidade capoeirense é exíguo. Mas vale ressaltar que o bairro Capoeira, que começa no Posto Central e desemboca no Aviário, no Mercado do Oliveira, criou personagens e propiciou movimentos culturais e artísticos que contribuíram e ainda contribuem para o desenvolvimento cultural do Acre.

*Raimundo Ferreira de Souza rafeso@zipmail.com.br