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Entre o termômetro e a febre

por petrolitano publicado 11/01/2012 10h30, última modificação 11/01/2012 10h30

*Por Itaan Arruda

Algumas discussões aqui por esses barrancos trilham um varadouro tão tortuoso que dificulta o entendimento. O episódio sobre o erro no cálculo de algumas médias no processo seletivo da Ufac é um deles. Primeiro, é necessário esclarecer a desinformação geral sobre o assunto: muitas pessoas não distinguiram a seleção feita pela Ufac da nota do Enem. Acharam que tudo era uma coisa só. Talvez, esqueceram de ler o edital da instituição, onde estão a fórmula e os crité-rios de desempate.

A reclamação foi geral: dos candidatos que se sentiram prejudicados até companheiros de profissão menos exigentes com apuração e que adoram manchetes mais “quentes”. Houve também parlamentares que aproveitaram a oportunidade para defender a bandeira do vestibular, agora resgatado à condição de mediador por uma educação emancipadora. Houve até quem sugerisse uma “cota para acreanos”, uma espécie de blindagem à mediocridade a quem não conseguiu ser suficientemente competitivo por meio do estudo.

Algumas correções são necessárias. Primeiro, é preciso lembrar que há até bem pouco tempo o exame vestibular era excomungado por educadores pelas mais diversas razões. Chegou-se ao Enem (demonizado, inclusive pela União Nacional dos Estudantes que propôs boicote na primeira edição do exame). Hoje, o entendimento é de que o Enem é uma conquista e deve ser defendido e aperfeiçoado.

A defesa repentina de alguns parlamentares pela volta do vestibular é, digamos, eleitoralmente compreensível: melhor se solidarizar a mil derrotados da aldeia a parabenizar a vitória por méritos dos “estrangeiros”.

A “cota para acreanos” entra na categoria do delírio. Ainda bem que contamos com a lucidez de um acreano que nos orgulha. Lucas Buriti de Melo: 7º colocado em Direito. “Não tenho informação de nenhum acreano que tenha sido impedido de estudar em alguma universidade federal por ser acreano”, afirmou o jovem de 16 anos. “O que precisamos é encontrar mecanismos de melhorar a educação básica e criar modos de incentivo ao estudo”.

Como estamos em tempos de grandes projetos, não vai tardar a aparecer um parlamentar federal (em parceria com o Governo do Acre) defendendo a criação de uma universidade estadual. Será um erro. A retórica, claro, será linda e terá ressonância “popular”: nesses tempos bicudos, o voto é a moeda que mais importa pelos rios daqui.

Qualquer centavo investido na construção de uma universidade estadual será um equívoco, por lógico: o que deveria ser feito é fortalecer a Ufac. Se há tanto dinheiro no Acre para investir e manter uma nova instituição de Ensino Superior, por que não canalizar esses recursos para a universidade federal? Qual será o sofisma formulado pelo Palácio Rio Branco para justificar o empreendimento?

São Paulo, um estado de cifras bem menos modestas que o Acre, sabe o peso de manter a estrutura de uma universidade estadual. Desfez-se de parte dela.

*Itaan Arruda é jornalista. itaan.arruda@gmail.com

Fonte: Jornal A Gazeta